Verbo FM

Ricardo Garrett (Ibirité-MG)

Meu nome é Ricardo André Carvalho Garret. Meus pais se casaram muito novos e se separaram muito depressa. Eles tiveram sete filhos – cada um em um ano. Meu pai se casou com 15 anos; minha mãe tinha 18. Eram garotos que se conheceram; tiveram filhos muito rapidamente e não tiveram estrutura familiar. Meu pai veio de uma estrutura familiar de casamento destruído; minha mãe também não tinha uma estrutura familiar que desse uma base para ela. Então, eles não tiveram muito apoio de família. Quando eles se separaram, minha mãe deixou os filhos em Recife e foi para o Rio de Janeiro, largando cada filho em um casa (alguns, inclusive, ficaram em internato).

Eu, graças a Deus, encontrei uma família que me criou. Eu fui criado por uma família que não tinha nenhum laço sanguíneo comigo. Eles eram muito amigos dos meus pais; quando eu nasci, essa família gostou muito de mim e acabou ficando comigo. Eu senti muito a falta de paternidade durante a minha vida. Quando eu tive a experiência de encontrar Jesus como o meu Senhor e Salvador, a primeira coisa que Deus me falou foi: “Eu sou o seu Pai”. Essa foi a coisa mais forte que eu escutei na minha vida, pois eu precisava escutar isso durante toda a minha vida. Eu tive muito pouca convivência com o meu pai e conheci minha mãe aos 15 anos de idade.

Esse problema de falta de estrutura familiar afeta muito uma pessoa, sua personalidade e as coisas que acontecem durante o período da juventude. Naara tinha uma estrutura familiar forte, mas eu não. Então, eu via o casamento como uma possibilidade de fracasso total. Eu não me via casado e não tinha uma perspectiva de formar família. Eu era um jovem muito inseguro a respeito de família. Quando eu encontrei Naara, eu estava com quase 19 anos e ela com 15 anos ainda. Éramos envolvidos com um trabalho social católico. Começamos a namorar nessa época. Vamos fazer 34 anos de casados. Com seis anos de namoro e noivado, são quase 40 anos juntos. Quando eu a conheci, eu adotei a família dela como minha. Os pais de Naara passaram a ser meus pais; são pessoas muito queridas. Eu passava muito tempo com a família dela no dia-a-dia. Normalmente, eles tinham que me expulsar da casa dela; de noite, eles piscavam a luz do terraço várias vezes, para eu poder desgrudar e sair! (risos) Eu comecei a pensar em família por causa ela. Namoramos durante seis anos; no sexto ano, ela me deu aquele xeque-mate. Aí eu tive que “dar meus pulos”; fui atrás de uma aliança e falei com os pais dela. Nosso casamento foi no dia 6 de dezembro de 1984.

No inicio do casamento, apesar dos planos e dos sonhos, nós não tínhamos o Senhor. Eu trabalhava com vendas e, mesmo amando muito a Naara, eu não fugia de adultério. Eu corria atrás de mulheres nas cidades em que eu ia. Ela não desconfiava porque os casos aconteciam somente nas cidades para as quais eu viajava. Eu tinha uma influência demoníaca muito grande nessa área da minha vida. Eu vivia atormentado com isso; era uma pressão maligna mesmo.

Em 1993, eu estava em casa, vendo televisão, e um pastor americano estava pregando. Eu sempre digo que, no dia do arrebatamento, eu vou encontrá-lo e agradece-lo, pois foi ele quem anunciou Jesus para mim. Aquele pastor pregou sobre o filho pródigo. E, naquela parábola, eu comecei a ver a história da minha vida. Aquilo tudo remontou à minha vida e aos ressentimentos que eu tinha com relação aos meus pais. Então, naquela manhã de domingo, eu tive minha experiência com o novo nascimento. Depois de assistir ao programa, eu fui ao meu quarto, me ajoelhei e disse: “Jesus, aquele homem disse que eu estou em pecado como aquele moço da parábola que estava comendo comida de porco; porém, aquele pastor disse que, se eu falar com o Senhor, o Senhor me dará uma veste branca e vai me abraçar. Eu quero o teu abraço essa manhã”. Eu chorei muito nesse momento. Ali, eu tive uma experiência extraordinária com o Espírito Santo. Pela primeira vez, eu senti, no meu coração, uma paz que eu jamais havia sentido.

Eu sei o que é novo nascimento porque eu nasci de novo. Uma coisa é religião e outra coisa é experimentar o novo nascimento. É um milagre que acontece no coração do homem. Minha vida mudou completamente. Antes de convertido, eu bebia todo final de semana. Naara tinha muita raiva de quando eu ia para igreja, pois, logo depois de me converter, eu contei todos os casos que eu tive para ela. Então, ela ficou com muita raiva. Foi uns dez meses de guerra em casa, pois ela não aceitava as traições e não acreditava que eu tinha me convertido. Uma noite, em uma quinta-feira, eu ia para a igreja e disse: “Naara, eu vou para igreja, para orar por nós”. E ela, achando que eu iria correr atrás das mulheres da igreja, escondeu a chave da casa. No entanto, eu queria ir para a igreja e estava disposto a pular o muro.

No momento em que eu sentei e abri a Bíblia, ela jogou um balde de água fria na minha cabeça. Ela disse: “Agora, quero ver você ir todo molhado para igreja”. Mesmo assim, eu estava com uma paz inexplicável. Eu me levantei e disse: “Eu te amo, mas eu vou para igreja; eu não consigo viver mais sem Jesus”. Eu não queria perder minha família, mas eu não conseguia mais viver sem Jesus. Um dia, na igreja, o Senhor falou por meio de uma irmã para mim: “Fique na Minha presença, pois quem vai tratar com o coração dela sou Eu”. Desse dia até a conversão dela (cerca de seis meses depois), eu não tinha mais inquietação sobre a salvação dela.

Depois de ambos convertidos, passamos a ansiar mais de Deus. Assim, passamos a procurar todos os ministérios pentecostais para nos alimentar. Um dia, duas irmãs da igreja que faziam Rhema chegaram para mim e disseram: “Irmão Ricardo, se vocês, com esse fogo no coração, fizerem Rhema, vocês vão arrebentar o inferno”. Então, nós fomos ao Rhema; lá, por causa da nossa mentalidade ainda tradicional, o primeiro choque foi a questão de orar em línguas. Nas aulas de Herênio, pela força de profeta que ele tinha e pela matéria ser sobre prosperidade, eu dei uma resistida muito forte nas aulas. Eu falava para Naara: “Esse camarada falou de dinheiro. Tá vendo? O pastor disse que eles só querem falar sobre dinheiro nesse curso…” Eu também tinha uma questão muito forte com esse negócio de sentir alegria e rir. Os meus primeiros passos no Rhema, nas primeiras matérias, foram de resistência. No caso de Naara, foi de sensibilidade. Ela tinha uma sensibilidade mais forte. Eu queria desistir, mas ela queria permanecer. Havia uma pressão do pastor da minha igreja (que era tradicional) sobre mim. No entanto, depois das primeiras matérias, a Palavra foi realmente entrando dentro de mim. Nossa formatura foi em 1998. Em 1997, eu ainda aguentei permanecer naquele ministério em que eu estava servindo. Em dezembro de 1997, eu decidi entregar meu cargo na igreja e seguir a direção de Deus. Houve certa resistência por parte dos pastores da igreja, mas a minha convicção era tão grande que eu saí.

Pastor Humberto e Cristiane Albuquerque eram nossos colegas de turma. Naquela época, eu e Naara, Humberto e Cristiane e Cícero e Lúcia Veras éramos pastores auxiliares na primeira igreja que o pastor Bud fundou em Recife. Ficamos por um tempo lá. Em 1999, fui para Rio Doce, onde fomos pastoreados pelo Ap. Guto por uns meses. Depois, fomos enviados, juntamente com Rozilon Lourenço, para pastorear uma igreja. Então, eu fui pastor auxiliar de Rozilon Lourenço em Vila Popular. Eu costumo dizer que somos antigos, mas não velhos no Ministério! (risos) Permanecer é estar incendiado permanentemente pelo Espírito de Deus. Precisamos estar incendiados permanentemente pelo Espírito. Deus trocou o comum e o medíocre e transformou a nossa vida em algo extraordinário. Olhando para trás, eu vejo que houve muitas tristezas e muitas pressões, mas nenhuma dessas coisas foi maior que a graça. A graça é extraordinária! 

Como nós amamos Jesus, não conseguimos parar de agradá-Lo, dando de volta pelo menos um pouco de nossas vidas. O que Ele fez por nós é incomensurável. Quando eu estudava geometria plana na escola, o professor ensinou sobre a medida incomensurável. Ele falou o sobre o alfa e o ômega, que não possuem nem começo e nem fim. São medidas que não são possíveis de serem medidas. Esse é o amor de Deus por nós; não há medidas para esse amor. Em João 3:16, está escrito que de tal maneira, Ele nos amou; então, temos que estar apaixonados por Ele. Eu tenho esse desejo de ministrar para essa nossa geração, transmitindo tudo que Deus me ensinou em todos esses anos de crente. É maravilhoso servir a Deus; não há coisa melhor do que isso.

Ingratidão é algo que me incomoda muito e que incomoda o coração de Deus. Não podemos nunca ser ingratos com relação aos pastores e aos ministros que nos acolheram no começo de nossas jornadas. Há uma frase que eu gosto de repetir; é do pastor Josué Gonçalves: “Gratidão não tem prazo de validade”. Eu lembro de pastor João Roberto, em suas ministrações, dizendo: “Queridos, eu sou grato aos pastores da Assembleia de Deus, que foram meus primeiros pais espirituais e que me abençoaram no início da minha carreira”. Gratidão é uma questão de caráter cristão. Se você agradece a outras pessoas pelas mínimas coisas, você será grande nas coisas que Deus colocará em suas mãos. 

Eu me defino pelo que está escrito em 1 Coríntios 15:10 – pela graça de Deus, eu sou o que sou. É a graça que me sustenta! É o fato de Deus. Eu me defino como uma pessoa que está na Terra e que respira na Terra somente por causa do que Jesus fez. Eu sou uma pessoa calma, uma pessoa tranquila. Às vezes, impaciente. Eu me lembro de Sílvia, uma vez, falando que, às vezes, nós temos alguns bichos dentro de nós, alguns dinossauros que devemos domar em nossa alma. Então, de vez em quando, alguns dinossauros querem se levantar, mas eu sempre me volto para o Senhor. Por isso, eu me defino como alguém que vive pela graça, pois, muitas vezes, cometemos erros com os filhos e com a esposa, mas temos aquele aspecto da graça que nos convida o tempo todo a nos render de coração e a ter um coração reto e sincero.

Eu gosto de estar em casa e de fazer tudo com Naara. Eu gosto da rotina, mas, ao mesmo tempo, eu sei que essa rotina não é uma rotina. Eu costumo dizer que, quando amamos a pessoa que está ao nosso lado, nada é medíocre ou pesado. Um café da manhã pode brilhar muito mais do que um palco. E somos extremamente agarrados com nossos filhos – André de 30 anos e Dani de 22 anos. Como família, somos muito agarrados.

Como pai, eu sou realizado! Às vezes, somos muito exigentes com nossos filhos e com a vida. Porém, eu agradeço a Deus pelos meus filhos, pois eles têm saúde e possuem um chamado. Às vezes, há tanta pressão na sociedade para que os filhos tenham sucesso, mas, se não tivermos cuidado, estamos confundindo o sucesso de Deus com o sucesso do mundo. Para Deus, nem sempre, um sucesso visível é um sucesso para Ele. Nem sempre pessoas que estão em sucesso visível estão em sucesso diante dEle, aprovados por Ele. Às vezes, ficamos tão pressionados, pois queremos ver os filhos de tal forma, mas devemos olhar para Deus.

Meus filhos são maravilhosos; eles amam o Senhor. Dani é ungida nessa área da música, da composição de músicas; ela tem criatividade e dom de Deus para isso. André, com jovens e adolescentes, tem uma capacidade de estar nos bastidores. Eu tenho muito que agradecer pelos meus filhos. Eles passaram muitos momentos difíceis conosco, mas eles nunca recuaram. Eles foram crianças, adolescentes e jovens que experimentaram muitas pressões no ministério. Eu louvo a Deus por André e Dani, pois, se eles não fossem meninos de Deus, com corações conservados, eles poderiam até estar desviados da fé. São meninos que possuem uma paixão enorme por Jesus Cristo. Eu deixo para os meus filhos o legado da fé; o legado de um homem que jamais recuou de amar e de servir a Jesus. Eu vou servi-Lo até o último respirar da minha vida. Ele é a minha vida e a razão do meu viver. Jesus é o Senhor maravilhoso da vida deles também.

Eu digo que, se você não tiver um casamento estruturado, você jamais terá um ministério estruturado. Eu sempre disse algumas vezes no púlpito e, hoje, mais do que nunca, eu sei: é uma vida miserável você ministrar a Palavra no púlpito e chegar em casa com um casamento destruído. Eu louvo a Deus, pois temos um casamento verdadeiro e nos amamos.     

Fotos por André Garrett

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