Verbo FM

Amilton de França (Campina Grande-PB)

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Sou natural de Campina Grande, nasci em 17 outubro de 1948. Sou advogado. Do ponto de vista familiar, fui o último dos filhos. Quando nasci, minha irmã já tinha 48 anos, a mais nova tinha 23 anos. Na realidade, fui criado por  irmãs e minha mãe. Cresci dentro de um sitio perto do bairro da Prata (perto da antiga Igreja Verbo da Vida). O primeiro Colégio que estudei foi de freiras, Colégio das Lourdinas. Depois, entrei no Colégio Estadual. Nessa época era o Cientifico, o que hoje é o Ensino Médio, após fazer, você escolhia se faria medicina, direito ou engenharia, escolhi medicina na ocasião.

Nesse mesmo período, entrei em um movimento estudantil. Aqui tinha o centro estudantal campinense era o único que tinha esse nome ‘estudantal’. Do centro, terminei me envolvendo em política partidária e não fiz vestibular. Tive uma conotação política muito grande, fui preso político e tive os direitos cassados por 10 anos. Isso foi em 1965. Peguei 5 anos de prisão, mas fiquei por dois anos (sai em 1968), tive redução da pena, porque era menor de 21 anos.

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Por ter os direitos políticos cassado, fiquei um período sem poder fazer vestibular. Só pude fazer em 1978 quando estava morando em Fortaleza, e fiz para engenharia elétrica. Vale destacar que, entre os meus 14 e 17 anos, eu ganhava meu dinheiro consertando rádio e descobri a forma da Rádio ABC ser tão limpa (naquela época) e o pessoal levava seus rádios para eu consertar. Eu deixava todos eles com a voz da ABC (risos).

Após fazer o vestibular, fiquei em segundo lugar na lista de espera; eram apenas 45 vagas. Eu pensei que era como Campina Grande que publicavam uma lista com os remanescentes, mas lá não era assim. No dia da matricula você ia para a faculdade dos que faltassem nessa lista dos 45 você que estava na lista de espera, entrava. Eu era o 47º, como não fui para a faculdade no dia foram entrando o 48º, 49º e assim por diante…

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Me lembro que meu pai trabalhou um bom tempo no escritório de Argemiro de Figueiredo que era advogado em Campina Grande e meu pai sempre desejou que eu fizesse direito. Então resolvi  fazer o vestibular para direito. Eu estava com 26 anos. Cursei e, antes de concluir, consegui um estágio em um escritório de direito trabalhista.

Quando terminei o curso, começamos a trabalhar juntos os três advogados do escritório. Fui apresentado a uma organização chamada Oxford que existia em Recife, fiz um projeto e eles aceitaram. Esse projeto era de assistência à comunidade. Daí surgiu a primeira federação de bairros e favelas de Fortaleza; existe até hoje. De 1975 a 1990, morei em Fortaleza, lá me formei em direito e trabalhei por anos.

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Mas meu exame da ordem fiz aqui na Paraíba. Fiz mestrado em Sociologia Rural. Fui casado em Fortaleza, mas meu casamento não foi bem sucedido, me separei, (não conhecia o Senhor ainda). Aprendi com meus pais o seguinte: “briga com vizinho é ruim, mas briga com a mulher é pior, porque o vizinho você escolhe a hora que ele entra e a hora que ele sai, ou seja, você entra nas horas que ele não está. Mas em casa não tem jeito. Na hora que você entra, a mulher está em casa”.

Voltando. Após fazer o mestrado em sociologia, fiquei em Campina Grande. Fui chamado para ser advogado na Federação de Agricultura. No Incra tinha uma comissão agrária, que era a que desapropriava terra, e participei desse processo de desapropriação de terras. Fui assessor da CRDR que é a comissão do desenvolvimento rural da SUDENE. Passei um tempo como diretor de uma escola, e fiquei por mais 4 anos no Ceará.

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Hoje, sou diretor do Centro de Ciências Jurídicas da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Continuo ensinando; além de gostar, tem também a questão de que, quando você deixa de ensinar e passa um período fora, quando voltar estará desatualizado. Dou aulas há 21 anos. Entrei inicialmente para ensinar as disciplinas: Filosofia do Direito e Sociologia do Direito. Tenho um livro lançado sobre Filosofia do Direito.

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Sou casado com Joseane. Quando a conheci, não éramos nascidos de novo ainda. Nos conhecemos no Parque do Povo em Campina Grande. Meu sobrinho tinha uma barraca e eu estava lá. Quando em determinado momento, percebi que alguém estava olhando para mim e era Joseane. Isso foi dia 4 de junho de 1992.

Nessa época, eu estava escrevendo meu mestrado. Nos conhecemos, fiz uma coisa que nunca conseguia fazer, decorar número de telefone (risos). Ela me deu o número, liguei para casa dela. A mãe falou: “tem um tal de Amilton querendo falar com você!” (risos)

Começamos a nos conhecer, mas ela trabalhava de dia e estudava à noite. Conciliar nosso tempo era um desafio. Namorávamos no fim de semana. Ela tinha um sobrinho e, quando a gente saia, ele ia junto. Criamos um laço com ele e até hoje ele me tem como um pai.

Como não éramos crentes, fomos morar juntos e, em 2000, fizemos encontro de casais. Melhoramos o convívio e decidimos casar no civil. Fizemos o Rhema e, no segundo Ano do Rhema, a nossa filha Ana, chegou. No aniversário de Ana, recebemos a benção para o nosso casamento em uma cerimônia que dividia o ambiente. Celebramos o aniversário dela e o nosso casamento.

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Lembro que tínhamos problemas financeiros seríssimos. Mas, um dia estávamos na igreja, o terreno tinha sido comprado para a construção da sede há poucos dias, e tinha uma oferta de sacrifício que estava sendo dada pelos membros, fizemos essa oferta. Aprendemos ali o que é semear. Vencemos os problemas financeiros. Temos um casamento segundo as regras do Senhor. Atritos existem, mas isso conseguimos vencer.

Hoje, Ana está com 13 anos. Pela minha idade, sou um pai que pareço mais avô (risos). Tem hora que não sei se sou pai ou o avô. Mas temos um bom relacionamento. Não escondemos as coisas dela e vemos que ela também não nos omite o que faz, se errou diz que errou. Ainda faltam algumas coisas, mas trabalhamos muito. Eu trabalho muito, praticamente os três expedientes. Se estiver em casa, estou fazendo coisas da universidade ou outras. Joseane também trabalha muito, nos últimos tempos trabalhamos mais que antes. Temos as nossas atividades profissionais e as coisas da igreja e do centro de cura.

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Acho que sou uma pessoa fechada, meio calada. Não sou tímido, mas acho que foi a forma da criação mesmo. Quando nasci, meu pai já tinha 55 anos, então, com essa idade a forma de viver e lidar com as coisas é diferente. Aprendi muito com ele, mas sinto falta de algumas coisas.

Por exemplo; quando eu tinha 7 anos, meu pai me deu um livro de romance para eu ler. Chamado “O mártir do gólgota” e não era apenas para eu ler, mas tinha um dia na semana que ele separava para eu contar a ele o que li. Não tinha como esconder se não tinha lido.

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Meu pai não era evangélico, mas como ele teve dificuldades de estudos, lembro que o primeiro livro que ficava lendo era a Bíblia. Ele tinha um bom conhecimento. Claro que a prática dele era dentro do limite que tinha.

Sou muito quieto, às vezes, tenho dificuldades de sorrir, quando vamos tirar fotos, dizem:”Sorria!” Mas isso não significa dizer que eu sou triste, sou apenas sério. Muitas vezes, digo algumas coisas, todos sorriem e penso: “Não sei porque estão achando tanta graça”.

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Procuro ser sério nas minhas cosias. Quando assumi a direção do CCJ, a gente assina um termo de que seremos exclusivos. Uma das primeiras coisas que fiz, foi me desligar do sindicato dos bancários. Procuro fazer as coisas certas e não é porque Deus está vendo, mas porque eu estou vendo.

Alguns anos atrás, lembro que eu tomava muito café. Durante uma tarde tomava sozinho uma garrafa de café. No dia que eu disse que não ia mais tomar café, eu deixei. Lembro que quando eu não tomava sentia dores de cabeça e vi que era um vicio do café. Percebi e simplesmente deixei. Você pode tomar café a vontade na minha frente. Se me pedir para fazer, eu vou e faço o café. Mas não sinto nenhuma vontade. Isso acontece em outras esferas da vida. Quando decidimos mudar, mudamos.

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