Verbo FM

Manuelle Frota (Campina Grande-PB)

 

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Realmente a família representa uma estrutura em minha vida muito sólida. Eu reconheço a importância dela. Quando meus pais casaram, minha mãe já estava grávida de mim e nessa época meus pais não eram convertidos. Tenho 27 anos, e, quando minha mãe engravidou de mim ela tinha apenas 18 anos. Somos muito amigas desde sempre. Eu nasci em casa e o parto foi realizado por uma parteira e por meu pai auxiliando-a. Isso já fala muito para mim. Eu tenho uma conexão muito grande com meu pai, afinal, foi a primeira pessoa que me pegou nos braços. Eu sempre quis constituir uma família, casar e ser mãe (o ser mãe ainda é um desejo). Vi em minha casa uma família que sempre se deu muito bem, mesmo antes de meus pais receberem Jesus,  claro que tinha as brigas normais, mas, quando eu tinha 8 anos, eles se converteram. E ai as coisas ficaram ainda melhores. Eles me ensinaram o referencial que eu quero ter.

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Quando nasci, meu pai fez uma música para mim chamada: “Menina flor”. Quando eu era criança ele cantava muito essa música para mim. Nessa época, eu dizia a minha mãe que ele era meu namorado (risos) acho que muitas meninas têm um pouco disso. Mas fui crescendo e aprendendo a diferenciar as coisas. Mas meu pai é um referencial muito forte é muito importante para mim. É amigo e íntegro em tudo o que faz. Seja no trabalho ou na igreja, ele sempre se dedica muito, principalmente com as pessoas. Quando alguém pede algo a ele, vejo seu esforço para fazer. Minha personalidade é muito parecida com a dele.

Meu pai nunca me bateu, ele sempre me chamava para conversar. Essas conversas eram as piores conversas do mundo. Era pior que uma surra e eu chorava (risos). Ele é bem chorão também. No dia do meu casamento, ele chorou o  tempo inteiro. Quando fui namorar com Rafa (meu esposo), e ele foi pedir ao meu pai para namorar comigo, meu Deus! Lembro que meu pai disse: “Você tem que se formar antes de casar”. Eu tinha 19 anos. Esperei me formar em dezembro, e casei em março do ano seguinte. Me alegro, porque meu pai é bem presente, me liga sempre, às vezes, vem aqui em casa e toma um café.

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Minha mãe é muito minha amiga. Conversamos sobre todos os assuntos. Quando eu era adolescente, brigávamos como duas adolescentes, mas nos damos muito bem. Ela me liga para contar as coisas, nos falamos pelo Whats todos os dias. Logo que casei, morava bem perto dela, depois que sai para outro lugar senti sua falta. Passávamos o dia juntas, ela chorou muito quando saí de casa, fiquei com muitas saudades dela no começo, mas já me acostumei, até porque já se vão quatro anos que casei, tinha que acostumar né! (risos)

Minha mãe é uma mulher muito forte, desistiu de tudo para cuidar de mim, não fez faculdade, não podia trabalhar muitas horas. Quando cresci mais um pouco, ela conseguiu sair mais. Ela estudava para concursos, mas comigo no carrinho ao seu lado, eu acho que isso influenciou a minha vida nos estudos. Depois que eu e meu irmão crescemos, ela investiu na vida e na Faculdade inclusive.

Tenho um irmão, Luiz Ricardo, e eu já tinha oito anos quando ele chegou. Quando meu irmão nasceu, eu era muito mimada, mas acabei adotando-o como meu filho. Eu queria dar banho, comida, e ficamos muito apegados. Eu dizia que queria ser médica e ele queria também. Hoje não, ele cresceu faz ciências da computação, mas somos bem ligados como família. Tenho uma irmã mais velha (por parte de pai), a Brisa, fruto de um relacionamento que meu pai teve antes da minha mãe.

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Em 2007, conheci Raphael. Estava no primeiro ano do Rhema, estudávamos na mesma sala. Eu havia saído de um relacionamento e ele também. Eu ia entrar na faculdade nessa época. Quando terminei esse relacionamento de muitos anos, falei: “só vou namorara agora se for para casar. E ele vai ter que ser decidido. Não quero perder tempo”.

Começamos a ficar amigos, conversávamos sempre, e, um dia, ele perguntou se eu queria namorar com ele. Pensei: “caramba! como ele é corajoso, vou dizer sim”. E, no segundo ano do Rhema, em 2008, começamos a namorar. Nessa época os pais dele estavam se separando e foi um tempo difícil para ele, mas superamos isso, eu já o admirava muito pela sua coragem de deixar sua terra e vir morar aqui em Campina. Aos 18 anos, ele veio embora para Campina Grande para fazer a vontade do Senhor. Fui conhecendo-o, vendo o que era bom e o que não era, (e se o que é bom for mais pesado do que o que não é, você vai em frente). Namoramos dois anos e noivamos por um ano, casamos em março de 2012. Logo que casamos, surgiram tantos desafios. E o casamento em si já era desafiador.

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Vivemos um casamento tão bom, que, às vezes, não entendo porque pessoas têm tantas dificuldades nos relacionamentos. Vivemos com Deus e não tem como ser ruim viver com o Senhor. Por causa dos referenciais que eu tive, minha visão do casamento era muito boa. Depois que casei, vi como é bom. Na época do namoro, não tínhamos liberdade alguma, se saíssemos tínhamos que levar alguém. Todos iam viajar, a galera os amigos, todos dormiriam separados, mas meus pais não me deixavam ir.

Quando casamos, fizemos a primeira viagem juntos. Foi a liberdade, viajávamos a hora que quiséssemos e dormíamos a hora que quiséssemos. Eu tinha o sonho de ver a neve, e, ano passado, fomos ao Chile, realizei meu sonho, me jogava no chão, foi maravilhoso. Hoje, tenho tudo o que já sonhei. Quando era criança sonhava em ter uma casa, um marido e construir uma família. Tudo isso eu tenho hoje. Claro que, em Deus, devemos sempre estar melhorando e eu sei que tenho muito a melhorar. No meu chamado faltam se cumprir muitas coisas, sonho em ser mãe, acredito que está perto.

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Raphael é muito engraçado. Tem dia que a mulher acorda querendo brigar. Acorda com raiva e não sabe de quem é, mas quando eu vou tentar brigar ele faz uma piada. Nos divertimos muito, é um casamento leve. Com a gente não tem aquele negócio de ir dormir “de mal’, ele deixa as coisas muito leves para mim. Ele também é muito doador, investe muito em nós, no nosso casamento, em mim principalmente. Você sabe que a mulher precisa de uns investimentos e ele não mede esforços. Isso para mim é maravilhoso. Ele ama muito as pessoas, dá tudo o que pode para investir e acreditar nelas.

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Sou formada em enfermagem. Desde criança meu sonho era ser médica e me via cuidando de pessoas. Às vezes, sonhava e me via em lugares que ninguém queria ir, cuidando de pessoas que ninguém queria cuidar. Quando terminei o ensino médio, era muito jovem, tentei o vestibular pra medicina umas três quatro vezes, em uma delas, faltou uns trinta pontos pra passar. Ai pensei: “não vou tentar enfermagem, porque sei que vou me apaixonar pelo curso e vou desistir do resto”, e foi exatamente assim.

No final de 2006, tentei e passei pra enfermagem e pensei: “meu Deus, isso era tudo o que queria e não sabia”. Os estágios, o cuidado com os idosos, fui me encontrando. Estudar o ser humano mexeu tanto comigo, mas alguns diziam: “vai fazer vestibular de novo para medicina. Tu é muito nova”. Mas me realizava no que fazia e para mim a enfermagem é uma profissão tão preciosa.

Sei que o médico tem aquele “glamour” todo, mas é a enfermeira que está lá em contato com o paciente o tempo todo, que toca, cuida, que olha, que chora junto. Para mim foi uma experiência maravilhosa os cinco anos do curso. Por mais que eu não esteja exercendo a profissão hoje (de certa forma), tudo o que aprendi no curso coloco em prática no meu chamado, porque cuido de pessoas também no ministério. Posso trazer tudo o que aprendi e aplicar de outra forma. Hoje vemos o cuidado humanizado, a parte espiritual e lá fora eles estão vendo a importância desse cuidado com os pacientes.

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O que mais me chama a atenção hoje na humanidade em geral é a falta de compaixão. Está todo mundo tão louco para buscar o que é seu, o enriquecer, o querer ser o melhor estado, o melhor país, porque ninguém quer ficar pra trás. Com isso vão colocando os outros para trás. Isso no mundo, mas no contexto cristão que estamos hoje, às pessoas precisam ser amadas. Nunca se precisou tanto ser amado e abraçado como hoje. Tem pessoas que vão ao Centro de Cura que, por exemplo, nunca receberam um abraço, nunca ouviram um “eu te amo”.  Nunca foram olhadas nos olhos. Isso é tão chocante para mim, porque não foi isso que eu vivi. Quando vejo isso, quero correr para perto “eu vou ser o seu primeiro abraço”. Como vamos conseguir levar esse mundo pra frente se não for assim? Precisamos ser menos egoístas. Se continuarmos assim, vai sumir todo mundo e, se no mundo restar apenas eu, será um mundo muito sem graça, porque todo mundo precisa de todo mundo.


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Eu sou uma moleca, levo a vida com muita leveza. Não gosto de me forçar para seguir um padrão. Deus me ama do jeito que eu sou e é dessa forma que irei alcançar um grupo de pessoas. Gosto de ser eu mesma, autêntica, de vestir as roupas que eu gosto e não o que a moda diz. Gosto de ter o cabelo que quero ter e não o que as pessoas querem que eu tenha. Desde criança sempre fui assim. Bem decidida. Quando alguém me dava duas opções eu dizia; eu quero aquela. Várias opções, eu quero aquela. Sempre fui de conversar muito com as pessoas.

Minha mãe diz que talvez eu tenha nascido para ser missionária. Porque, ainda pequena, quando andávamos no ônibus, eu dizia: “Oi eu sou Manuelle, tudo bem? Quero ir para sua casa”. Ela tinha cuidado para as pessoas não me levarem, porque eu era de conversar com estranhos que nem conhecia mesmo. Eu permaneci com isso, quero mesmo estar com gente.

Gosto muito de dormir de comer, de ver filmes, recentemente o filme ‘Quarto de Guerra’ me marcou. Gosto de filmes que me fazem pensar. Aqueles que do começo ao fim você não sabe o que vai acontecer… Sou muito família, gosto de estar com os meus…

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Vivi recentemente uma experiência que mudou minha vida radicalmente. Eu e meu esposo Raphael nos submetemos a uma cirurgia bariátrica, cirurgia bypass. Mas não foi fácil. Eu tomei a decisão bem perto de fazer a cirurgia. Porque eu pensava: “está tudo bem, eu gosto de mim do jeito que sou”. Nem eu e nem Rapha tínhamos problemas emocionais quanto ao nosso peso. A gente até brinca que éramos como no filme ‘O amor é Cego’, que a mulher era enorme e o cara a via como uma miss, eu acho que éramos assim um com o outro. Minha auto estima sempre foi muito boa. Lembro que fui para a ginecologista e disse a ela que estava planejando engravidar daqui a tantos anos… Dois anos acho que falei. E a médica falou: “Manu, você está muito acima do peso, se você engravidar do jeito que está é muito arriscado pra você  e para o bebê”.

Fisicamente eu não sentia nada, tinha um cansaço, normal para uma pessoa com 45 quilos a mais do que o que tenho hoje. Então, quando terminava uma pregação eu estava muito cansada. Quando ela disse isso, fiquei pensando: “Seria tão bom fazer a cirurgia, ia melhora a minha qualidade de vida”. Quando fui ao médico, e vi os resultados de outras pessoas, falei: “doutor, eu quero fazer amanhã”. Mas ele disse: “você vai fazer os exames”. Eram muitos, fiz todos em agosto de 2014 e fiz a cirurgia.

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Os trinta primeiros dias foram de sufoco, porque 15 deles foram tomando apenas liquido em potinhos pequenos de cafezinho. Depois, com 30 dias, comia em um pires e nem comia tudo. Então, para mim aquilo era um desespero. “Será que vou comer isso a vida inteira?” O que eu mais sentia falta era de mastigar, meu maxilar doía porque não tinha o que mastigar. Queria mastigar um chiclete, mas não podia, então eu triturava pedras de gelo. Quando perdi uns 20 quilos, nos primeiros dias, porque é bem rápido a perda do inicio. Meu Deus! Tinha o acompanhamento com todos os médicos e com psicóloga, quando cheguei lá disse a ela: “doutora estou me achando muito feia, eu gostava de mim como eu era antes, acho que meus olhos estão grandes, minha boca também, nada está combinando aqui” (risos). Ela disse: “eu sei que é uma adaptação e isso é normal, você nunca se viu assim. Mas é normal. Quero que fique tirando fotos de antes e de como é agora, você vai ver o quanto melhorou, inclusive a sua qualidade de vida, pense nessas coisas”.

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Ainda passei um tempo indo conversar com ela. É interessante, você quer comer mais, mas não consegue, porque o estomago está menor. Essa cirurgia Bypass, é uma plástica no estômago e um desvio de intestino. Então, são 80cm do intestino que é retirado e é feita uma alça reversa para ela não funcionar na absorção. Para sempre terei que tomar vitaminas, porque a absorção das vitaminas é reduzida e dos nutrientes do alimento, tenho que ficar tomando essas vitaminas. Porque escolhemos esse método?  Porque eu estava ficando pré-diabética. Tinha umas manchas de resistência a insulina, todos os exames que fazia mostrava essa resistência, se eu permanecesse daquela forma, iria ficar diabética. Por causa dessa avaliação, o médico viu que devia ser essa cirurgia porque ela cura a diabetes também, mesmo quem já é diabético para de tomar insulina ao fazê-la.

Hoje, me sinto super bem, me arrependo de não ter feito antes. Perdi 45 quilos. Ainda quero perder mais 10, porque, quando engravidar, quero essa margem, pois ganharei um pouco. Hoje em dia, sou a maior encorajadora para que as pessoas façam. Toda pessoa obesa que vejo na rua penso: “Meu Deus, queria que essa pessoa fizesse”. Porque é simples, o negócio é você trabalhar sua cabeça.

Antes, eu comia quando estava feliz, comia para comemorar, comia quando estava ansiosa, quando estava triste, comia pra afogar as mágoas (risos). Tudo era comida. Hoje, aprendi a driblar de outra forma. Ainda gosto de comer, mas agora como pouco e me satisfaço.

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