Verbo FM

Naína Rufino (Campina Grande-PB)

Eu nasci em Fortaleza. O que mais me marcou na infância foi a história de conversar com as estrelas. Eu gostava de conversar com elas e de saber que existia um Criador que as tinha feito. Eu fazia perguntas sobre quem as tinha criado e falava sobre coisas do meu coração e sobre os meus desejos. Eu cria que Deus tinha feito as estrelas, mas eu não sabia quem Ele era. Nessa época, havia também uns cultos na rua, em que as pessoas faziam uma roda e colocavam umas caixas de som e começavam a pregar e a falar de Jesus. Na minha casa, tinha um muro em que eu sentava; eu ficava lá, ouvindo sobre eles falarem de Jesus. Eu tinha uns 10 anos nessa época. Ao final das reuniões, quando eles perguntavam quem queria aceitar Jesus, eu sempre me imaginava descendo e levantando a mão. Quando eu ia para a praia, eu conversava com o mar do mesmo jeito que eu conversava com as estrelas.

Minha mãe sempre foi muito dura; por causa de sua própria criação, ela não sabia o que era amor. Eu cresci com o meu pai em casa até a adolescência, mas eu cresci vendo muita confusão, pois meu pai bebia muito. Eu não me lembro de poder abraçá-la. Hoje, eu entendo que ela não sabia o que era um abraço, mas, na época, eu não entendia o porquê dela não aceitar abraços. Hoje, eu entendo que ela não conseguia dar aquilo que não possuía. No entanto, meus pais eram bons pais. A minha infância foi uma infância feliz, pois meus pais, do jeito deles, buscavam me proporcionar alegria. Mesmo tendo crescido sem esse lado afetivo, minha mãe gostava muito de fazer piadas. Ela era bem vaidosa, sempre com o cabelo arrumado e com a unha pintada, e isso me marcou. Eu sempre fui aquela criança sonhadora, com uma imaginação fértil; eu tinha o meu mundo.

Quando minha mãe aceitou Jesus, o amor de Deus a pegou. A partir daí, nós já conseguíamos nos abraçar e ter uma conversa íntima. Apesar disso, como eu fui uma criança muito sonhadora, essa dureza que ela tinha me ajudou bastante. Em épocas difíceis em que eu não conseguia ter uma postura mais dura, ela me mantinha firme. Quando ela se converteu, o amor de Deus realmente inundou as nossas vidas; íamos para igreja juntas e conversando. Eu fiquei sabendo muito da minha mãe nessa época. Ela teve uma boa caminhada cristã e recebeu o batismo no Espírito Santo através de mim. No entanto, ela ainda se preocupava muito com as contas. E, juntamente com isso, ela não se cuidava com a alimentação adequada. Um dia, depois do culto, ela começou a roncar muito alto de madrugada; quando eu fui vê-la, ela estava revirando os olhos. Fiquei morando três meses no hospital com ela. Nessa época, eu orava muito em línguas e fiquei muito conectada à Palavra. Como eu fiz amizade com enfermeiros e com cuidadores e acompanhantes de pacientes, eu pude continuar indo à igreja nesse período. Eu já frequentava o Verbo nessa época. Eu me lembro muito do que eu sentia em alguns momentos; eu me lembro muito dos momentos de entrega e de intimidade que eu tinha com Ele. Voltava para o hospital renovada, forte para ajudar quem precisava. Depois de três meses, ela recebeu alta e voltamos para casa.

Com 11 anos, meu irmão começou a sair de casa para brincar na rua e para andar de skate. Quando eu fiz 12 anos, minha mãe me deixava sair com o meu irmão para rua. Nessas caminhadas, meu irmão parava na casa dos amigos. Nessas idas, acabei começando a experimentar maconha e, a partir daí, passei a usar drogas mais pesadas. Durante esse período de seis anos em que eu usei drogas, várias pessoas vieram falar para mim sobre Jesus. Eu não queria me converter, pois sabia que teria que deixar aquela vida. No entanto, nessa mesma época, meu irmão começou a ter problemas, e, então, foi aí que eu comecei a buscar a Deus comigo mesma, do meu jeito. Eu tinha um livrinho com o Novo Testamento que eu lia. Deus via que eu estava buscando a Ele desesperadamente, mesmo presa às drogas.

Um dia, meu irmão teve um surto e raspou o cabelo. Não sabendo direito o que fazer, eu corri para um amigo nosso. Ele levou meu irmão para casa dele; lá, estavam reunidos uns irmãos de outra igreja e eles começaram a orar pelo meu irmão. Naquela reunião de oração, eu fiquei possessa. Eu conheci Jesus, através de uma possessão demoníaca. Em um determinado momento, uma das irmãs da oração, falou: “O sangue de Jesus te lave”. Eu comecei a sentir meu corpo queimar. Nesse dia, eu aceitei Jesus em meio a esse chacoalhar espiritual; quando aceitei, lembrei daquela menina sentada no muro, ouvindo a pregação que acontecia na praça. Eu tinha 17 anos nessa época. Nesse momento, vieram dois pensamentos em minha cabeça: de que eu não conseguiria deixar aquela vida e de que eu precisava sair daquilo tudo. Como a vida é feita de escolhas, eu optei por sair daquela vida. Hoje, a minha vida nEle faz todo sentido. Essa consciência de saber que eu sou dEle é o que me toma.     

Depois que eu comecei a cuidar da minha mãe em casa, percebi o sentido da minha vida em poder cuidar dela da melhor forma que eu podia. Eu cuidava dela sozinha e era sua bengala. Ela se manteve lúcida, mas o AVC afetou sua parte motora e sua capacidade de falar. Por causa disso, eu acabei desenvolvendo uma capacidade de entender as pessoas sem precisar de palavras; eu sabia o que minha mãe queria mesmo sem ela falar. A sensibilidade que eu tenho hoje tem a ver com essa época. Eu lembro de colocá-la no sofá para assistir televisão e deitar em seu colo. Eu tinha a minha mãe, para cuidar e para amar. Poder amá-la era o meu sonho desde criança. 

Apesar de ter sido uma época bem difícil, eu não via tanta dificuldade. Meu coração estava tão disposto a ajudar que eu não me atentava para o fato de estar sozinha cuidando dela. Suellen, então, vendo a minha necessidade, deu a ideia de nos trazer para Campina Grande. No começo, eu fui muito resistente, mas eu fui orar. Deus conhece as nossas estruturas; como Ele nos criou, Ele sabe exatamente como lidar conosco. Falando com Deus, eu ouvi, no meu coração, a seguinte frase: “Deixa eu cuidar melhor de você”. Mediante isso, eu passei a ter muita paz e alegria e comecei a me desprender daquele local. Comecei a ver as dificuldades e aceitei a mudança. Cheguei em Campina em 1998. Assim que cheguei, fui fazer o Rhema.

Pietra nasceu prematura. Então, ela é muito precoce. Por causa das dificuldades que passamos, ela viu muita coisa que não precisava. Como eu disse, durante minha infância, eu vi muita confusão; ela também viu muita confusão, mas, nessa época, eu já tinha a Palavra. Então, eu declarava muito a Palavra, sempre guardando muito Pietra desde o ventre. As mulheres são fortes! A mulher tem uma estrutura diferenciada do homem. Eu já sabia que teria uma menina; então, eu ficava declarando força para ela. Ela cresceu vendo a Palavra na minha vida; ela viu a Palavra em meio a tempestades. Agora, ela já tem 11 anos. Ela é bem centrada. Eu acredito que, por ter nascido prematura e por ter visto muita confusão, ela amadureceu muito rápido. Ela me viu sendo abusada fisicamente durante meu casamento com o pai dela, mas ela nunca ficou contra o pai. Ela entendia que aquela confusão não precisava afetar seu amor pelo pai. Eu aprendi muito com isso. Posso dizer que ela é minha melhor amiga e confidente. Eu procuro desenvolver a lealdade e a fidelidade nela. Eu sei que, se ela for leal com as pessoas ao seu redor, Deus responderá essa lealdade. Eu venho trabalhando isso nela. Nossa interação está cada vez mais forte.

Depois de mudar de vida, eu comecei a entender a importância de ser leal e fiel aos meus amigos. Eu fiz dos meus amigos a minha família. Eu entendi, desde cedo no Senhor, que meu legado é ser fiel e leal a essas pessoas que eu cultivei. Esses laços que surgiram, esses relacionamentos acabaram influenciando as vidas desses meus amigos. Eu não possuía esse interesse propriamente de ser uma influência, mas a minha fidelidade a eles acabou influenciando suas vidas. 

Assim que eu cheguei na igreja, Juanice e Armando me acolheram. Juanice fazia parte dos jovens e tinha uma fé muito bem posicionada. Ela me pegou, aquela ovelhinha totalmente perdida, carente e assustada, e cuidou de mim. Eu nunca tive nenhuma recaída, mas eu tive dois momentos de fraqueza. Uma vez, eu cheguei a por o cigarro na boca e fiquei muito triste. Eu já era crente nessa época. Lendo a Bíblia, eu entendi que aquela tristeza era o Espírito Santo que tinha ficado tristeza porque eu tinha fumado. Reforcei a minha decisão de que aquilo não era mais pra mim. Em outra ocasião, eu estava com muita vontade de sair para dançar. Quando eu pensei em ir, a turma de jovens da igreja, juntamente de Juanice e de Armando, chegaram com violão. Quando eu me deparava com a mensagem de Cristo em forma de música, aquilo me envolvia. Juanice e Armando tiveram suma importância para que eu me mantivesse firme no caminho. Eu sou muito grata aos dois. Meus amigos são os meus tesouros.

Meu nome era para ser Janaína, mas minha mãe teve a luz de mudar para Dianaína. Para mim, esse nome é inspiração. Dianaína é delicadeza e sensibilidade. É transformação; um barro que precisa ser moldado.     

6 Comentários

  • Naina ,
    Preciosa ÉS!!! A flexibilidade do teu coração te faz ser um Rio de Deus … A humildade sempre , sempre , sempre te conduzirá a honra…
    Amo sua vida!!!

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  • Realmente seus amigos sao sua familia e vc e a familia de cada um desses q tem o privilegio de cruzar o seu caminho. Amo-te minha amiga.

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  • Naína, menina forte e decidida… por um tempo servimos juntas e fiquei feliz em conhecer mais de vc. guardo palavras suas dentro de mim até os dias de hoje…
    amo vc

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