Verbo FM

O cristianismo é atraente para os asiáticos? 

por Gabriella Kashiwakura 

Como os japoneses se identificam com o Cristianismo? Esse questionamento serviu de ponto de partida no processo de implantação da Igreja Verbo da Vida em Tokyo. Procurar entender como um povo de um país se identifica é de essencial importância para se pensar em estratégias de evangelização. Considerando que, atualmente, estima-se que, no Japão, de um total de mais de 126 milhões de habitantes, apenas 0,58% sejam cristãos protestantes, antes da implantação da igreja, a equipe, composta pelos missionários Jefter e Gabriella Kashiwakura e pelo casal Henrique e Yuki Yoghi, decidiu realizar uma pesquisa, buscando entender como os asiáticos se relacionam com o cristianismo. 

Foram entrevistados um total de 72 pessoas entre os meses de abril a julho de 2019. Os entrevistados foram obtidos de duas formas: por meio do envio direto do link do questionário para algumas pessoas que os membros da equipe já conheciam previamente e por meio da abordagem aleatória de pessoas no parque, com a apresentação de um código QR do questionário. O parque escolhido foi o Minami Ikebukuro Park, em Ikebukuro, uma das regiões centrais de Tokyo. 

O questionário consistiu em 16 perguntas divididas em cinco partes. A primeira abordava a respeito da idade, sexo e locais de nascimento e moradia do entrevistado. A segunda perguntava sobre a orientação religiosa do entrevistado. A terceira parte dizia respeito à experiência do entrevistado com o cristianismo. A quarta parte questionava o interesse do entrevistado no cristianismo. Por fim, a quinta seção consistia em uma pergunta final a respeito das possíveis causas que impediriam um japonês de ir a uma igreja cristã. A maior parte do questionário consistia em perguntas de múltipla escolha, com exceção das duas primeiras (país em que nasceu e região onde mora). A última pergunta, apesar de ser de múltipla escolha, também fornecia espaço para o entrevistado escrever sua opinião.    

As respostas obtidas forneceram descobertas significativas, levantando hipóteses a respeito da percepção dos japoneses com relação ao cristianismo. Cabe ressaltar que, apesar do objetivo da pesquisa focar na relação dos japoneses com o cristianismo, algumas pessoas provenientes de outros países asiáticos também responderam às perguntas. Ressalta-se também que nem todos os entrevistados responderam a todas as perguntas; portanto, ao longo da apresentação dos resultados, apresentaremos também a quantidade total de respostas obtidas para cada questão. Dentre os entrevistados, 63 nasceram no Japão, enquanto o restante se dividiu entre Hong Kong, Coréia do Sul, Tailândia e Mongólia (dois entrevistados não apresentaram seus países de origem). A respeito do local de moradia, de 70 entrevistados, 67 apontaram para o Japão (dois responderam Coréia do Sul e um respondeu que morava na Austrália). 

Quanto à idade, dos 72 entrevistados, a maioria (40 entrevistados) possuía entre 20 e 29 anos. Quinze entrevistados tinham de 30 a 39 anos. Nove pessoas estavam na faixa entre 10 e 19 anos; oito possuíam acima de 40 anos. Quanto à orientação religiosa, de 69 pessoas que responderam à pergunta, a maioria (21) se identificaram como ateístas. Em segundo lugar, 19 pessoas se identificaram como budistas. Por sua vez, 13 entrevistados se denominaram cristãs, enquanto outras 13 não possuíam religião, mas disseram acreditar na existência de Deus ou de algo sobrenatural. Dois se denominaram xintoístas, e um disse pertencer a alguma nova religião, como Happy Science ou Seichonoie. Ao mesmo tempo, de um total de 71 entrevistados, 42 disseram não serem praticantes frequentes de sua religião. Dezenove responderam que talvez sejam praticantes frequentes. Apenas 10 afirmaram serem praticantes. 

Do total de entrevistados, 42 pessoas disseram que já foram alguma vez em uma igreja cristã. Apesar do total de entrevistados ter respondido à questão anterior, somente 55 responderam qual era o tipo de igreja que visitou. Desse total, a maioria (29) não soube identificar; 15 pessoas responderam que eram igrejas protestantes, e 11 identificaram as igrejas como católicas. Aqui, o baixo número de respostas para a pergunta e o fato da maioria dos que responderam não saber o tipo de igreja revelam um desconhecimento dos asiáticos (no caso da pesquisa, em sua maioria japoneses) a respeito do cristianismo – isso é reforçado nas respostas dadas para as perguntas seguintes do questionário. Possíveis causas para tal desconhecimento serão levantadas ao longo da análise. 

Perguntados se gostariam de visitar uma igreja cristã, de um total de 50 pessoas, 16 responderam que sim; entretanto, chama a atenção o número de pessoas que responderam que não – 14 pessoas. Onze entrevistados responderam que talvez, e nove somente iriam em uma ocasião ou evento especial. Outro fato interessante foram as respostas obtidas a respeito do tipo de igreja que os entrevistados prefeririam ir. De um total de 69 respostas, 31 pessoas afirmaram preferir uma igreja formal e tradicional, enquanto 13 responderam preferir uma igreja contemporânea e jovem.

Vinte e cinco pessoas não souberam responder. Tal preferência a igrejas tradicionais pode ser associada à hipótese de que os asiáticos comumente veem o cristianismo como uma religião europeia, sendo associada ao imaginário da arquitetura antiga das igrejas católicas europeias. Outra hipótese é o fato de religião remeter à existência de uma formalidade de regras; por isso, para a maioria dos entrevistados, seria mais coerente ir em uma igreja formal e tradicional (no entanto, ao serem perguntados sobre possíveis razões que impedem japoneses de irem à igreja cristã, alguns entrevistados apontaram justamente para o fato da igreja ser um local formal). Apontamos, no entanto, para a limitação da presente pesquisa com relação a essa pergunta, uma vez que não se sabe o que os entrevistados entenderam por igreja “formal e tradicional” e nem por igreja “contemporânea e jovem”.

Perguntados a respeito do idioma falado na igreja, de um total de 69 respostas, 56 responderam preferir uma igreja que fale inglês e japonês. Somente 13 prefeririam uma igreja que falasse somente japonês. Apontamos, aqui, portanto, o idioma como um atrativo evangelístico; uma vez que há um aparente interesse dos asiáticos pelo idioma inglês, uma igreja bilíngue (ou que realize atividades bilíngues) tem o potencial de se mostrar mais atrativa. De fato, em atividades posteriores que realizamos com japoneses, um japonês revelou ter sido atraído a uma igreja cristã pelo fato da igreja oferecer cultos bilíngues, fornecendo, portanto, uma oportunidade “gratuita” de aprendizado da língua inglesa (posteriormente, tal japonês se converteu ao cristianismo).

Ao serem perguntados sobre o interesse em aprender mais sobre o cristianismo, todos os entrevistados responderam à pergunta. Desse total, 37 responderam não haver interesse, enquanto 35 responderam que sim. Tal estatística parece se relacionar à hipótese de que os asiáticos veem o cristianismo como uma religião europeia e, portanto, uma religião “para estrangeiros” – contribuindo para um desconhecimento a respeito do cristianismo. A mesma hipótese se relaciona com o fato de 38 entrevistados (de um total de 71) terem respondido que nunca leram a Bíblia. Entretanto, o fato de quase metade dos entrevistados ter respondido que possui interesse em aprender mais sobre o cristianismo também revela que há espaço, uma abertura, para a inversão desse quadro. 

Apesar de 33 entrevistados terem respondido que já haviam lido a Bíblia, 38 responderam à pergunta se entenderam o que leram (provavelmente, cinco entrevistados não compreenderam a pergunta). Das 38 respostas, 23 responderam que entenderam um pouco, enquanto 8 responderam que não entenderam. Somente sete pessoas responderam que sim. Aqui, apontamos para outra limitação da pesquisa, uma vez que não foi fornecido espaço para que os entrevistados especificassem qual foi o entendimento que obtiveram de suas leituras da Bíblia. 

Perguntados a respeito de Jesus Cristo, do total de entrevistados, 39 responderam saber um pouco. Doze responderam saber a respeito de Cristo, enquanto 21 responderam não saber nada. Entretanto, não há uma diferença clara entre o que significava “saber” e “saber um pouco”, fazendo com que a resposta para essa questão dependesse exclusivamente do julgamento dos próprios entrevistados. Um fato que mostra um desconhecimento generalizado a respeito de Cristo é o significado do natal para os japoneses, sendo comumente visto como uma “data romântica”, ou seja, um dia para casais saírem para passear juntos. De forma geral, não existe um entendimento do natal como a celebração do nascimento de Jesus Cristo.  

A respeito dos motivos que impedem os japoneses de irem à igreja cristã, de um total de 68 respostas, 31 responderam que a igreja é um local apenas para cristãos. Em seguida, oito apontaram para a falta de tempo como impedimento, enquanto sete entrevistados apontaram para o fato de o cristianismo ser uma religião para “estrangeiros”. Quatro pessoas afirmaram que a igreja é um local formal, enquanto outras quatro apontaram para o fato de a igreja “coletar dinheiro”. Um entrevistado respondeu que os japoneses possuem uma ideia negativa a respeito de religião em geral. Três entrevistados, por sua vez, afirmaram que não possuem interesse na igreja, enquanto um afirmou que não há nada que o impeça de ir a uma igreja cristã. 

Tendo em vista as respostas obtidas nesse questionário, podemos observar que há um desconhecimento generalizado por parte dos asiáticos a respeito do cristianismo. Tal desconhecimento pode ser traduzido em algumas causas, como a existência de uma possível formalidade de regras e o fato de o cristianismo ser considerado uma “religião ocidental” e, portanto, dizer respeito apenas a estrangeiros ocidentais, não estimulando interesse dos asiáticos. Tal desconhecimento também foi evidenciado no fato de muitos asiáticos verem a igreja como um local “apenas para cristãos”, como se somente “praticantes do cristianismo” pudessem frequentar a igreja. Para a análise das hipóteses levantadas, no entanto, é necessário um estudo mais aprofundado das culturas e das histórias dos países da Ásia oriental. 

Aqui, temos a intenção de mostrar um pouco sobre como os asiáticos observam o cristianismo. Como cristãos, precisamos entender as particularidades de cada povo. Perceber que há fatores que impedem os asiáticos de se aproximarem do cristianismo é essencial, para que possamos entender aqueles que queremos alcançar. É necessário que apresentemos um Cristo vivo e que tem o poder de transformar vidas, ao invés de uma religião presa em regras e formalidades. Como representantes de Cristo, precisamos estar abertos para as direções do Espírito Santo a respeito de ideias criativas para alcançar povos em que os cristãos ainda são a minoria.  

 

GABRIELLA KASHIWAKURA
Graduada em Ciências Políticas.
Mestre em Ciências Políticas.
Missionária em Tókio, Japão.

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