Verbo FM

O Cristão e a crise

Por: Marcos Honório Jr.

“Muitas são as aflições do justo, mas o SENHOR de todas o livra”(Salmos 34:19)

Não se fala de outra coisa, os jornais não têm outro assunto; Operação Lava-jato, recessão, desemprego, inflação, enfim, várias faces da mesma verdade. O Brasil enfrenta a maior crise da sua história, uma crise econômica, mas também ética, onde todas as suas instituições democráticas estão em xeque.

Dentro desta realidade, que não parece próxima de acabar, percebo que alguns se sentem desconcertados e um tanto sem saber explicar porque alguns efeitos da crise bateram também a porta de cristãos piedosos.

Em primeiro lugar, é preciso entender que, em lugar algum das Escrituras, existe qualquer promessa de não enfrentarmos crises. Muito pelo contrário! Existem algumas garantias de que elas chegarão.

O texto acima não deixa dúvidas – mas, obviamente, não é o único – de que o justo enfrenta situações desafiadoras. Vejamos alguns:

– “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” João 16:33 

Esse texto é bem conhecido nosso, e acho importante uma ressalva aqui: muitas vezes escuto um pequeno acréscimo ao texto bíblico, afirmando “vós vencereis também”. Isso simplesmente não está no texto, o que não quer dizer que em Cristo não sejamos vencedores.

Mas o que quero enfatizar é que Jesus garantiu que, enquanto estivermos neste mundo, vamos sim passar aflições e o que devemos fazer?

Ter bom ânimo!

A palavra grega traduzida pela expressão “ter bom ânimo” é tharseo  que significa, literalmente, ter coragem, ficar firme, se animar diante da dificuldade. Outra coisa importante é como o verbo tharseo é conjugado no original que é no presente, na voz ativa, ou seja o sujeito realiza a ação e no modo imperativo, dessa forma entendemos que é um comando de Deus que tenhamos em dias assim coragem e ânimo.

É importante ver que a palavra de Jesus, não está focada no fato de ter, ou não aflições (isso é garantido) mas o foco é em como lidamos com elas. Outro texto de Jesus está no final do famoso sermão da montanha, vejamos:

“Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína.” Mateus 7:24-27 

Por muito tempo, temos interpretado esse texto como os que estão na igreja, os “firmes na rocha” e os que estão desviados, “os construídos na areia”, mas uma olhada cuidadosa nos mostrará que não é assim. Firmados são aqueles que ouvem a Palavra e a praticam, ou seja, não basta ser ouvinte, que Tiago chama de negligente, mas é vital sermos operosos praticantes das verdades ouvidas.

Outra verdade desconcertante é que a casa edificada sobre a rocha, recebe exatamente os mesmos ataques e pressões que a casa edificada na areia, ela não é imune, mas resistente.

Novamente, a questão não é não passar por crise, mas como nos comportamos antes, durante e depois da crise; nesse caso, resistem sem perder nada aqueles que são, antes da crise chegar, praticantes da Palavra de Deus.

Então a questão novamente não parece ser, não ser atingido, ou, o que é pior, negar que a crise exista, mas não se abalar com ela por estar firmado em algo maior do que ela.

Outro texto interessante está em Tiago, vejamos:

“Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes”. Tiago 1:2-4 – 

Essa passagem é riquíssima para entendermos como devemos enfrentar as crises. A primeira coisa é que devemos nos alegrar diante delas, e repare que são várias, mas não se engane não devemos nos alegrar pela crise, mas por passarmos por ela, ou várias delas.

Em seguida, ele nos informa com que arma enfrentamos a crise, com a fé. E é aqui que reside a diferença entre o crente e o incrédulo, o crente se alegra em fé, o incrédulo se desespera, mas ambos a enfrentarão.

Talvez você esteja se perguntando, por que passamos por crises; tenho por todo o meu ministério respondido essa pergunta dizendo que enfrentamos crises por que estamos vivos. É um fato inerente à condição humana que aguarda o dia do perfeito Reinado de Cristo sobre a terra. Enquanto Jesus não estabelece seu reino de Justiça, paz e alegria sobre a Terra, crises sobrevirão sobre os que habitam a Terra.

Ainda outra observação sobre o texto de Tiago é que devemos perseverar em fé, até que a crise seja vencida. Não é de uma hora pra outra, é necessário perseverança.

Um comportamento que julgo ser necessário equilibrar é que fé não consiste em negar evidências, mas em enfrentá-las crendo na verdade da Palavra de Deus. Quando Jesus disse, em Marcos 11.23 que pela fé e confissão seríamos capazes de mover as montanhas, ele não disse que faríamos isso negando a existência do monte, mas encarando o monte e dizendo a ele que saísse.

Fé chama à existência o que não existe, não nega existência do que existe!

Outra questão importante é que fé não é um esquema de palavras mágicas decoradas, mas uma força que brota do coração daquele que se encheu da Palavra de Deus a ponto dela mudar seus pensamentos, convicções  e palavras. Sou motivado, animado e aprendo com a fé de outras pessoas, mas a minha fé é minha, única e pessoal e deve ser cultivada por mim no meu relacionamento com a Palavra de Deus.

Penso que também é importante entendermos que o escopo da nossa fé é a nossa vida “a fé que tens, tem-na para ti mesmo” declarou o apóstolo Paulo e é presunção achar que nossa fé vai parar automaticamente a crise que se abateu sobre a nação brasileira.

Nesse trabalho a nossa arma é a intercessão perseverante, não a oração da fé decretiva. Devemos ser perseverantes em orar pelas autoridades para que tenham sabedoria, também para que os abusos da corrupção sejam desvendados e julgados, aliás creio firmemente que o que tem acontecido nesse sentido no Brasil, já é resultado da intercessão da igreja por anos a fio.

E precisamos entender que, pelo país estar em crise, o preço das coisas vai subir, situações difíceis surgirão e precisaremos ser equilibrados no controle financeiro em nossas casas. E é aí que a fé, cheia de alegria e perseverança deve se manifestar

Um texto interessante sobre uma crise nacional se encontra no livro de Atos, vamos dar uma olhada:

“Naqueles dias, desceram alguns profetas de Jerusalém para Antioquia, e, apresentando-se um deles, chamado Ágabo, dava a entender, pelo Espírito, que estava para vir grande fome por todo o mundo, a qual sobreveio nos dias de Cláudio. Os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram enviar socorro aos irmãos que moravam na Judéia; o que eles, com efeito, fizeram, enviando-o aos presbíteros por intermédio de Barnabé e de Saulo.” Atos 11:27-30 

Ações semelhantes a essa são encontradas também em II Coríntios 8 e 9. Acho muito interessante o fato de Deus ter dado a um legítimo e reconhecido profeta a revelação de que uma fome se abateria sobre o império Romano. Acontece que Antioquia era um grande centro, ao passo que na época do Império Romano a Judéia era uma província muito pobre e rejeitada.

Então é fácil entendermos que os irmãos de Antioquia tinham uma melhor situação financeira do que os da Judéia e Paulo falando ao Coríntios ensina que todos os crentes deveriam ter cuidado com os irmãos judeus pelo fato de o Cristo, o culto e as alianças terem vindo de Deus através deles.

Mas o que realmente me chama a atenção é que ao serem notificados, por Deus, a respeito de uma enorme crise econômica que traria fome sobre todo o Império Romano a saída da igreja não foi rejeitar ou cancelar a crise, mas levantaram uma oferta/esmola para ajudar os irmãos mais necessitados que haviam dado ao mundo o Cristo e todos os apóstolos.

Não existe uma vírgula sobre declararem para a crise não vir, Deus estava revelando que viria, mas se uniram em fé e ações de amor, para enfrentarem a crise, foram generosos, não tiveram medo. Paulo fala da alegria dos macedônios e do corintios em participarem dessa ajuda.

Obviamente não estou dizendo que nesse momento não adianta orar, muito pelo contrário, devemos intensificar a oração, mas com sabedoria.

Penso que diante dessa crise temos que ter cuidado para não sermos tolos e negar a sua existência, mas também, não sermos incrédulos e temerosos exaltando-a, devemos é levantar a fé, perseverar na confissão da vitória, ajudar uns aos outros, sermos diligentes no trabalho, equilibrado nos gastos e dançarmos um pouquinho antes que raia o sol, como quem vê o invisível!!!

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