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Pensamentos comuns

por Marcos Honório Júnior

Ora, estes de Beréia eram mais nobres que os de Tessalônica; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim” (Atos 17.11)

Olá pessoal, tudo na paz? Queria voltar, com vocês, ao assunto da interpretação bíblica. Uma das maiores barreiras que, acredito, enfrentamos nessa tarefa, são certos “pensamentos comuns” que se popularizam em nosso inconsciente coletivo evangélico, mas que por falta de senso crítico, não notamos que, as vezes, eles mais atrapalham do que nos ajudam.

Em toda área da vida cristã, temos vários desses “pensamentos comuns” e na área da interpretação bíblica não é diferente. São dizeres, frases feitas que nos acostumamos a dizer mas que raramente paramos para pensar se, de fato, fazem sentido. Uma coisa importante sobre isso é que um pensamento pode ter sentido, por um ponto de vista, mas as pessoas podem torná-lo tão abrangente que ele perca completamente o sentido. Vamos ver alguns desses pensamentos e comentá-los.

  1. Não tente interpretar a Bíblia.

Esse é um caso típico de pensamento que, sob certo ponto de vista, tem algum sentido, mas pode ser perigoso se for extremado. Acredito que a Bíblia interpreta a ela mesma, no sentido de que, um texto mais complicado é explicado por outro com um sentido mais evidente, ou determinada verdade é reforçada em mais de uma passagem. Dessa forma vários textos seriam necessários para se estabelecer uma doutrina, ao invés, da imaginação, olhando para um texto isolado

O problema é pensar que o exercício de interpretação é algo desnecessário, ou até mesmo, não espiritual. Veja, Deus nos deu capacidades intelectuais e Ele mesmo entendeu que a melhor forma de comunicar a verdade foi através da Palavra escrita. Dessa forma, necessitamos de faculdades exercitadas de leitura e interpretação de texto, se quisermos entender o que estamos lendo.

Gosto muito do que o irmão Kenneth Hagin diz no livro “Pensamento Certo e Errado”: “Você precisa pensar certo, para crer certo e então, confessar certo”.

I Coríntios 2.14 – “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”

As vezes podemos cair no erro de pensar que este versículo está dizendo que não devemos usar nossa mente e inteligência para receber coisas de Deus, pois afinal de contas, essas coisas “vêm pelo Espírito”. Em primeiro lugar temos que entender que somos um ser, que é espírito, alma e corpo. Não somos três seres que habitam juntos. De fato a revelação de Deus deve nascer em nosso espírito, mas preste atenção na palavra discernir, no versículo acima, que segundo a referência Strong significa: examinar ou julgar; investigar, examinar, verificar, analisar cuidadosamente, questionar.

Essas características são todas atributos da nossa mente, não é verdade? Por mais que a verdade tenha chegado a nós através do contato do nosso espírito com o Espírito Santo, ela deve ser compreendida, entendida, analisada, pensada e não há nada errado com isso.

Especialmente se pensarmos que essas verdades chegarão para nós através da meditação na Palavra de Deus e para isso você vai precisar ler, e as regras do português, ou de qualquer outra língua, estão guardadas em sua mente, ou até mesmo no seu cérebro.

  1. Eu apenas leio e acredito

Mais um típico pensamento que tem um fundo de verdade, importante por sinal, mas que tem sido levado a um extremo muito perigoso e paralisante. Irmão Hagin sempre dizia que na contra-capa de suas Bíblias escrevia: “A Bíblia diz, eu creio, está resolvido”. Veja, não tenho dúvida que essa deve ser nossa atitude para com as verdades da Palavra de Deus.

A Palavra de Deus é a única norma de fé e doutrina que o crente deve seguir e deve ser crida sem restrições ou ressalvas. Creio inclusive, que devemos ser literalistas, ou seja acreditar no sentido original, tendo cuidado apenas de entender que existem figuras de linguagem que devemos considerar.

Mas acreditar na Bíblia e ser literalista, não quer dizer que não se deve interpretar a Palavra de Deus. Até porque, ler é interpretar!

É preciso considerar que, nem sempre teremos a compreensão imediata do que estamos lendo, até porque a Bíblia foi escrita dentro de uma cultura e hábitos muito diferentes dos nossos e muitas vezes os princípios eternos de Deus estão evidenciados através dos hábitos da época em que foi escrita e não conhecer, ou pesquisar sobre esses hábitos pode nos levar a uma compreensão equivocada do princípio abordado.

 Gosto de dar como exemplo o seguinte texto:

Provérbios 22.28 – “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais”

Talvez a primeira leitura esse texto nos leve a pensar que se trata de não mudar tradições, baseados na frase “Não remova os marcos antigos”, mas ao estudarmos um pouco mais a fundo vamos descobrir que este texto está falando sobre roubo de propriedade alheia. Já que na época não havia muros e as propriedades eram demarcada por “marcos”, ou seja pequenos postes de madeira.

Uma versão mais moderna, pode ajudar nesse caso, veja por exemplo, como a NVI traz esse mesmo texto:

Provérbios 22.28 (NVI) – “Não mude de lugar os antigos marcos que limitam as propriedades e que foram colocados por seus antepassados”

  1. Eu tenho o Espírito Santo

É óbvio que acredito na ação do Espírito Santo para nos transmitir as verdades da escritura. Jesus disse que suas Palavras eram espírito e vida. O apóstolo Paulo ensina que o Espírito nos revela até mesmo as inescrutáveis profundezas de Deus. Nunca em minha vida ousei descuidar da comunhão com o Espírito Santo através da oração em outras línguas, especialmente em momentos de meditação nas escrituras, crendo e dependendo dele para verdadeiramente compreender a verdade que ele mesmo inspirou os homens a escreverem.

Mas isso de forma alguma anula a necessidade de dedicação e esforço de compreensão, dos princípios que já falamos acima. Particularmente penso que, apesar de parecer espiritual, esse ponto de vista é muito preconceituoso e arrogante. Milhares de pessoas têm buscado a Palavra de Deus, e possuem a presença do Espírito Santo em suas vidas, mas isso não impediu que tivéssemos várias interpretações diferentes das escrituras.

Novamente eu digo, em hipótese alguma acredito que podemos chegar a plena compreensão das escrituras sem o auxílio do Espírito Santo, escrevi sobre isso no meu último texto, mas acredito que mesmo com a presença do Espírito seja possível acontecer distorções na compreensão, talvez por causa das tradições e de certos “pensamentos comuns” que nos impedem de sermos ousados a crer em determinada verdade, só porque nunca a ouvimos.

Em um próximo texto, pretendo falar sobre as três principais ferramentas para a interpretação bíblica que são a mente, o Espírito e a unção.

  1. A Bíblia é muito simples

Penso que este pensamento comum está simplesmente errado. Falo isso por motivos muito simples. A Bíblia é um livro que foi escrito durante 1500 anos por inúmeros autores, que por mais que fossem sempre inspirados pelo Espírito Santo, esse Espírito Santo não roubou suas personalidades e particularidades ao escreverem.

Além disso ela foi concluída a 2000 anos atrás, pense na diferença cultural do mundo de hoje e no mundo da época bíblica. Imagine como os valores e as formas de se expressarem mudaram.

A Bíblia foi escrita originalmente em dois idiomas (Hebraico e Grego) muito diferentes do nosso português. De fato o grego do Novo Testamente (Koiné) já nem existe mais. Além disso é sabido que com o passar do tempo toda linguagem se simplifica, por exemplo: A expressão hoje conhecida como “você” já foi “Vossa Mercê”, com o passar do tempo a expressão se simplificou e se tornou você.

Todos este fenômenos fazem com que o trabalho de tradução e estudo das escrituras tenha que ser muito criterioso.

Isso não deve desaminar aquele que anseia compreender a Palavra de Deus, deve estimular a ser mais diligente.

Em um próximo post, pretendo dar dicas de bons materiais para estudo, por enquanto fica o entendimento de que nem sempre “pensamentos comuns” carregam a sabedoria divina, as vezes estão errados mesmo.

 

 

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