“Após voltar Abrão de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele, saiu-lhe ao encontro o rei de Sodoma no vale de Savé, que é o vale do Rei. Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abraão pelo Deus, que possui os céus e a terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abraão o dízimo” (Gênesis 14.17-20).

Abraão vinha desenvolvendo o seu relacionamento com Deus, que o havia abençoado. A mão do Senhor estava com ele naquela batalha e o levou à vitória. Ao encontrar um sacerdote, que é alguém reconhecido para trazer ensinamento divino e interceder entre os homens e Deus, Abraão foi abençoado por ele (o livro de Hebreus afirma que o menor é abençoado pelo maior) e lhe entregou o dízimo do despojo da vitória que teve.

Vemos claramente alguém (Melquisedeque) transmitindo bens espirituais e recebendo bens materiais. E outro alguém (Abraão) que, por reconhecer que a fonte de toda a sua riqueza e renda era o Senhor, entendeu que tinha responsabilidade de dar suporte àquele que cuidava em trazer a informação divina e fazia a mediação.

Como Abraão não tinha como dar esse recurso diretamente para Deus, ele entregou para aquele que O representava. A gratidão dele a Deus no coração foi revelada através do reconhecimento do trabalho realizado pelo sacerdote.

Abraão era um homem de Deus tanto quanto Melquisedeque. Na verdade, é em Abraão que as promessas da redenção se concretizam, mas a riqueza dele vinha de Deus, através do gado, das terras e dos despojos que ele possuía. Melquisedeque, por sua vez, não tinha de onde tirar sustento, pois o recurso que administrava era espiritual e não material.

Dessa forma, Abraão reconheceu que era abençoado com o chamado e a obra de Melquisedeque e, através da entrega do dízimo, permitiu que este o abençoasse e trouxesse a revelação divina para outros. O escritor de Hebreus afirmou que é Jesus quem, de fato, recebe essa oferta (Hebreus 7.8).

É importante demonstrar que gratidão não é um princípio da Lei e o dízimo que Abraão deu foi muito anterior a ela. Segundo Paulo, a Lei que veio posteriormente não anula a aliança anterior feita com Abraão (Gálatas 3.17).

MOISÉS E A LEI

Como pai de todo israelita, Abraão lançou as bases para o comportamento dos seus herdeiros. Quando Moisés trouxe a Lei e sistematizou o dízimo, isso já era um princípio entendido pelos judeus e uma prática que eles já faziam, porém, sem obrigação (até mesmo por não terem um representante oficial). Mas, quando Moisés estabeleceu a família de Levi como representante do sacerdócio, passou a fazer sentido uma lei que regulamentasse isso. No entanto, o mesmo princípio se repetia.

Quando Israel saiu do Egito e, mesmo na terra prometida, 12 tribos tinham o direito de possuir terras, gado, ouro e todo o tipo de posses, mas os levitas não tinham direito a nada disso, não tinham recursos naturais para administrarem e enriquecerem. Viviam para representar os homens diante de Deus.

A solução divina para que todos tivessem sustento foi a seguinte: como quem tinha dado a terra, o gado e tudo mais era Deus (Deuteronômio 8), então, as tribos que possuíam terra davam o dízimo de toda a sua produção para os Levitas que, novamente, entregavam o dízimo de tudo quanto recebiam (também como reconhecimento de que o sustento vinha de Deus).

É importante salientar o aspecto “maldição” pela desobediência da Lei. Acredito que toda a maldição descrita na Lei de Moisés era uma reedição da condição assumida pelo homem no jardim do Éden, ao comer da árvore do conhecimento do bem e do mal. Como aprendemos com o Irmão Hagin, a maldição da Lei abrange três aspectos da vida humana: morte espiritual, miséria e enfermidade. Esses mesmos aspectos foram comunicados ao homem após a queda. Dessa forma, a novidade que a Lei trouxe foi a chance (mesmo que inalcançável) de ser abençoado, caso obedecesse.

Por isso, Gálatas 3.16 nos esclarece quando mostra que “Cristo nos resgatou da maldição da Lei”. Se não estávamos debaixo da Lei, não estávamos debaixo da maldição, mas a maldição da Lei é a mesma maldição que atingiu toda a raça humana, a partir do pecado.

O que os Judeus tinham com a Lei era a chance de, pela obediência, estancar o processo de maldição inaugurado no Éden. Como sabemos, essa solução se mostrou ineficiente e foi Deus quem quis assim, para que essa conclusão levasse os homens a Cristo.

A Lei trazia princípios sociais, rituais e de preservação. De alguma forma, todos os aspectos apontavam para Cristo e para a Nova Aliança. O princípio do dízimo foi inserido na Lei e, como mostra o capítulo 7 de Hebreus, a mesma ideia continuou respeitada na Nova Aliança. Entendemos então que o dízimo não é da Lei (como muitos afirmam) assim como, gratidão, comprometimento e fé em Deus também não foram inventados por Moisés, pois são estes os princípios que regem o dízimo.

O QUE JESUS DISSE SOBRE OS DÍZIMOS?

“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os PRECEITOS MAIS IMPORTANTES DA LEI; A JUSTIÇA, A MISERICÓRDIA E A FÉ; devíeis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas!” (Mateus 23.23).

Esse texto, apesar de duro, é muito esclarecedor. Jesus chamou o dízimo de preceito da Lei, assim como justiça, misericórdia e fé, que seriam preceitos mais importantes. Veja que: fé, justiça e misericórdia não foram, de forma alguma, criados pela Lei. Noé e Abraão já andavam nessas pegadas séculos antes, e elas não foram encerradas com o fim da Lei. Pelo contrário, são princípios extremamente neotestamentários.

De fato, muitas coisas foram criadas pela Lei de Moisés e apontavam para Cristo. Quando Ele chegou, estas perderam o sentido de ser. A Lei, entretanto, incorporou como regra os princípios eternos, mas, o fato dela ter acabado, não invalidou esses princípios. Um desses princípios é o dízimo.

Também é importante ver que Jesus trouxe um alerta para atitudes internas (espirituais) e não apenas externas (naturais), pois ações externas podem maquiar a carnalidade, como era o caso dos fariseus. Na verdade, o chamado farisaísmo consistia em criar tradições de ações externas extremamente rígidas, mas que não produzem vida. Dessa forma, mesmo dando o dízimo, eles semeavam para a carne.

ENSINOS DE PAULO

“Não sou eu, porventura, livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus, nosso Senhor? Acaso, não sois fruto do meu trabalho no Senhor? Se não sou apóstolo para outrem, certamente, o sou para vós outros; porque vós sois o selo do meu apostolado no Senhor. A minha defesa perante os que me interpelam é esta; não temos nós o direito de comer e beber?” (I Coríntios 9.1-4).

Entendo que esta seja a grande questão do dízimo: será que aqueles que ministram para nós, nos edificam, velam por nossa vida e nos aconselham, são obrigados a viver em “jornada dupla”?

Os coríntios foram agraciados por Deus com toda a sorte de dons e revelação da Palavra. Paulo foi aquele que iniciou todo esse processo. O apóstolo, perplexo com a indiferença dos seus discípulos, continuou:

“E também o de fazer-nos acompanhar de uma mulher irmã, como fazem os demais apóstolos, e os irmãos do Senhor e Cefas? Ou somente eu e Barnabé não temos o direito de deixar de trabalhar?” (I Coríntios 9.5-6).

Deixar de trabalhar aqui é, obviamente, uma outra atividade que seja não o ministério. Lembrando de que a ideia do dízimo é justamente que aqueles que nos ministram não precisem trabalhar com recursos naturais, mas sim espirituais.

“Quem jamais vai a guerra à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou quem apascenta um rebanho e não se alimenta do leite do rebanho?” (I Coríntios 9.7)

Uma série de perguntas retóricas, mas de respostas óbvias e inquietantes:

“Porventura, falo isto como homem ou não o diz também a lei? Porque na lei de Moisés está escrito: Não atarás a boca do boi, quando pisa o trigo. Acaso, é com bois que se preocupa? Ou é, seguramente por nós que ele diz? Certo que é por nós que está escrito; pois o que lavra cumpre fazê-lo na esperança; o que pisa o trigo faça-o na esperança de receber a parte que lhe é devida” (I Coríntios 9.8-10).

A clareza e sinceridade de Paulo são constrangedoras. É interessante a observação de Paulo de que a sua opinião não era humana, porque a Lei diz exatamente a mesma coisa, porém, em outras palavras, essa opinião era divina.

Paulo estava, na Nova Aliança, afirmando que o princípio pelo qual os ministros eram sustentados na Lei (dízimo) não é da Lei, mas eterno e divino. É para aqueles que ministram terem sustento. Porque Deus se preocupa com eles, essas coisas estão escritas.

“Atar a boca do Boi enquanto debulha”, fala de um princípio egoísta de receber o benefício da força do boi, para tração do arado e debulha do trigo, mas impedi-lo, enquanto isso, de comer algum trigo pelo caminho. É como dizer: “eu quero sua força, dedicação e talento, mas não conte com nada meu”. Isso é qualquer coisa, menos cristianismo.

“Se nós vos semeamos as coisas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? Se outros participam desse direito sobre vós, não o temos nós em maior medida? Entretanto, não usamos desse direito; antes, suportamos tudo, para não criarmos qualquer obstáculo ao evangelho de Cristo” (I Coríntios 9.11-12).

Pelo que já lemos em Gálatas e agora em Coríntios e que tem eco também em Filipenses 4, quando Paulo fala sobre se associar no tocante a dar e receber, parece claro que ele considera lógico, e uma regra correta, que aquele que recebe bens espirituais deve compartilhar bens materiais. Igualmente, o que recebe bens materiais deve ter compartilhado, antes, bens espirituais. Na mente do apóstolo, é uma troca lógica e justa, até mesmo uma associação (Filipenses 4.14-14).

Da igreja de Corinto, Paulo resolveu não receber o benefício, visto que, para eles, isso era motivo de escândalo e pelo fato de não estarem agindo com gratidão e reconhecimento a tudo que Paulo havia feito. Ele recebia salário de outras igrejas, que faziam isso voluntariamente, como parece que era o caso da igreja de Filipos (II Coríntios 11.8), mas dos coríntios ele resolveu não receber. É importante que se perceba que Paulo só não recebia de Corinto, mas das outras ele recebia e contava como salário.

Como uma igreja pode pagar salário se não tiver uma receita constante? E como virá esta receita? A resposta é fácil e óbvia: através do dízimo de seus membros.

“Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve o altar do altar tira o seu sustento? Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho” (I Coríntios 9.13-14).

Novamente, Paulo apelou para a Lei e mostrou que o princípio da Lei continuava valendo, pois, na verdade, o mesmo não é da Lei e sim eterno, ao ponto do próprio Senhor Jesus ordenar a mesma coisa para aqueles que pregariam o Evangelho da graça.

Devem ser considerados merecedores de dobrados honorários presbíteros que presidem bem, com especialidade aqueles que se afadigam na palavra e no ensino. Pois a Escritura declara: Não amordaces o boi, quando pisa o trigo. E o trabalhador é digno do seu salário” (I Timóteo 5.17-18).

Mais uma vez, os conceitos do salário e da gratidão ficam evidenciados. “Dobrados honorários” falam do reconhecimento pelo trabalho prestado. Uma igreja não pode fazer isso sistematicamente se não tiver uma receita sistêmica. Por outro lado, não fazer isso é visto como defraudação.

Aqui fazemos um cálculo simples: se um ministro prega uma vez, deve receber o honorário por aquela pregação; se o pastor, ou presbítero, faz isso diuturnamente, deve receber um salário para que essa assistência não cesse.

Exponho esse versículo na versão da Bíblia Amplificada: “Deixe que os presbíteros que cumprem os deveres do seu ofício bem, sejam considerados duplamente dignos de honra [e com adequado suprimento financeiro], especialmente aqueles que trabalham fielmente na pregação e no ensino”.

Particularmente, penso que é muito cruel não dar o dízimo, quando somos ensinados, edificados, aconselhados e amados por uma igreja local. A Bíblia dá a entender que, na verdade, é um abuso e uma atitude feia receber bens espirituais, mas deixar aqueles que nos compartilharam esses bens se virarem para conseguirem bens materiais, pois, afinal de contas, eles também precisarão. Como disse Paulo, talvez eles precisem de um cônjuge. Talvez tenha uma família e, mesmo assim, está lá pregando e ensinando a Palavra.

A discussão aqui não é sobre a qualidade do presbítero, mas sobre o cristianismo dos ouvintes. Creio que foi para isso que Deus estabeleceu o princípio espiritual do dízimo. Ele nos abençoou com toda sorte de benção, nos encheu de abundância, força e recursos para enriquecermos o quanto conseguirmos, mas se não aprendermos a colocar nossa conquista em prol do Evangelho, estamos invertendo gravemente as coisas.

Penso que é impossível manter a bênção de Deus operando a meu favor, quando sou movido por egoísmo, mesquinhez e indiferença à necessidade dos próximos e, principalmente, as dos da família da fé.

Por outro lado, acho que a fidelidade nos dízimos e nas ofertas dá o testemunho de que Deus pode confiar em mim e de que eu reconheço que Ele é a fonte inicial de tudo o que eu posso alcançar, com a força que Ele me deu.

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