por Thiago Freitas
(Trecho do livro Perigo! As consequências de não seguir a santificação)
“Deus nos vê em Cristo, santificados, separados para Ele, separados do pecado”.
- Dwight Pentecost
A abolição da escravidão no Brasil se deu com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel no dia 13 de maio de 1888. Quantos escravos havia no país no dia seguinte? Na verdade, nenhum. Entretanto, muitos ainda viviam como se fossem escravos e, assim, se fizeram porque nunca descobriram a verdade. Outros descobriram e até acreditaram que estavam libertos, mas escolheram continuar vivendo como sempre haviam sido ensinados.
Diante disso, muitos senhores ficaram inquietos com a emancipação, dizendo entre eles:
Estamos arruinados! A escravidão foi abolida. Perdemos a batalha, não poderemos manter mais nossos escravos.
Entretanto, um porta-voz respondeu astuciosamente:
Não necessariamente, pois enquanto as pessoas pensarem que ainda são escravos, a abolição não terá nenhum efeito prático. Vocês já não têm o direito legal sobre elas, porém muitas não sabem disso. Impeça que seus escravos descubram a verdade e seu controle sobre eles nem será contestado.
Mas, se a notícia se espalhar?
Não se apavorem. Temos outra carta na manga! Talvez não seja possível impedir que eles ouçam a notícia, contudo podemos ainda impedir que a entendam. Apenas diga que entenderam mal a lei Áurea. Fale que ainda serão libertos, não digam a eles que já são livres.
A verdade que ouviriam do senhor de escravos é apenas verdade posicional, não é uma verdade concreta. Algum dia, talvez, eles recebam os benefícios, mas não naquele momento.
Tudo o que temos de fazer é enganá-los para que continuem pensando como escravos. Enquanto eles continuarem a fazer o que os escravos fazem, não será difícil convencê-los de que devem ainda ser escravos. Continuarão com a sua identidade de escravos devido às coisas que fazem. No momento em que tentarem professar que já não são escravos, é só dizer a eles: como você pode pensar que não é mais escravo se ainda está fazendo o que os escravos fazem?
Infelizmente, anos depois, muitos escravos ainda não tinham ouvido a maravilhosa notícia de que haviam sido libertos, por isso continuaram a viver da maneira que sempre viveram. Alguns escravos ouviram as boas novas, mas avaliaram a notícia de acordo com o que estavam fazendo e sentindo no presente, raciocinando: Ainda estou vivendo em cativeiro, fazendo as mesmas coisas que sempre fiz. Minha experiência me diz que não devo ser livre. Estou me sentindo da mesma maneira que me sentia antes da abolição; portanto, ela não deve ser verdade. Afinal, os sentimentos da gente sempre dizem a verdade. Assim, continuaram a viver de acordo com o que sentiam, não desejando ser hipócritas.
Um antigo escravo, porém, ouve a boa notícia e a recebe com grande alegria. Ele confere a validade da assinatura e descobre que o decreto se originou na mais elevada de todas as autoridades. Não apenas isso: custou também um preço pessoal tremendo àquela autoridade, que foi pago de bom grado a fim de que os escravos pudessem ser libertados. Como resultado, a vida deste escravo foi transformada. Ele raciocinou corretamente que, na realidade, o erro seria crer nos seus sentimentos e não na verdade. Assim, quando resolveu viver por aquilo que sabia ser a verdade, suas experiências começaram a mudar de forma drástica. Ele percebeu que seu antigo senhor não tinha autoridade alguma sobre ele e não precisava mais ser obedecido.
O evangelho é a “abolição da escravidão” para todo pecador que está vendido à escravidão do pecado. As boas novas são a verdade de que nós já não somos escravos do pecado. Estamos agora vivos em Cristo e mortos para o pecado (Rm 6.11). Somos filhos de Deus, perdoados, justificados, redimidos e nascidos de novo. Podemos não sentir que é assim, podemos não agir como se fosse assim e outros podem nos dizer que não somos, porém já fomos santificados em Cristo. A falta de entendimento do que Cristo já realizou tem feito com que muitos cristãos vivam tentando desesperadamente tornar-se alguém que já são.