por Edilson de Lira

A geração “me me me” (“eu, eu, eu”, do inglês) pode ser vista nos pequenos detalhes. Um povo que diz buscar grandes transformações em nossa sociedade, mas não está disposto a fazer uma pequena transformação em sua vida pessoal. Uma das cenas mais representativas disso é a da abertura do Rock in Rio 2019: “defensores do meio ambiente” que gritam “salve a Amazônia”, e que clamam pelo fim dos canudinhos de plástico, não estavam dispostos a caminhar 10 metros e jogar seu copinho plástico no lixeiro. A orla da praia recebeu mais de 34 toneladas de lixo só no primeiro dia do evento.

Essa geração diz que clama pelo fim da corrupção no mundo, mas não consegue nem respeitar uma fila por alguns minutos. É uma geração de jovens e adolescentes que postam nas redes sociais a “fórmula certa” de colocar o mundo em ordem, mas não conseguem nem arrumar a cama do próprio quarto.

É o espírito da época (ou “zeitgeist”, como chamam os filósofos). Estamos no que Zygmunt Bauman chamou de modernidade líquida: “Vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar”, disse o sociólogo, se referindo à nossa pós-modernidade. Nos tempos de hoje, as certezas escorrem pelos dedos das mãos. A realidade da sociedade contemporânea é permanentemente incerta. A tão proclamada emancipação das verdades absolutas, das rotinas e tradições, que parecia inicialmente uma libertação para essa geração, se provou uma nova prisão. Hoje os adolescentes vivem confusos até mesmo em sua sexualidade. Os jovens perderam sua rota e não conseguem se enxergar no longo prazo. Os adultos se fecharam no egoísmo e na “lei do menor esforço”. Não querem se esforçar pela comunidade e não querem se sacrificar por grandes causas. Julgaram ser livres de dogmas e, agora, são prisioneiros de suas incertezas. 

É a geração das “selfies”. Tiramos fotos de nós mesmos, mas isso reflete um modo de pensamento: nos vemos como o centro do universo e não aceitamos sofrer ou perder nada pelo benefício do outro. Por isso, a generosidade também é pouca. E uma das palavras mais faladas é “direito”. Somos uma geração que fala dos direitos coletivos, mas foge dos deveres individuais. 

Em parte a culpa é dos pais que “mimaram” seus filhos e os ensinaram a achar que eram mais importantes, ou “especiais”, que as outras crianças. Que não precisavam esperar o tempo do outro. Ou considerar os limites do outro. Ou respeitar a vida alheia. Esses filhos disfuncionais começam então a insultar seus pais e não são disciplinados por isso. Depois, insultam os colegas na escola, mas logo os pais culpam os professores ou a instituição e dão a seus filhos o “direito de permanecer errado sem consequências”. E como crescem sempre com a desculpa da vitimização, sem um “senso de consequência” ou de responsabilidade individual, se tornam adultos desrespeitosos a todo tipo de autoridade instituída. Acreditam que criticar todo tipo de instituição é sinônimo de inteligência, de ser “disruptivo”, “revolucionário”, ou “questionador”. Mas a Bíblia já falava dessa geração leviana:

Deus está especialmente irado contra esses “mestres” que vivem na imoralidade, viciados numa vida decaída. Eles desprezam as autoridades verdadeiras, preferindo seguir seus instintos e governar a si mesmos. Egocêntricos e insolentes, não hesitariam em difamar a mais esplêndida das criaturas. Nem mesmo os anjos, superiores a eles em tudo, ousariam difamar os outros diante de Deus.

Eles não passam de animais selvagens, predadores por natureza. Mas, assim como abatem os outros com suas blasfêmias, também serão abatidos. No final, serão derrotados. A maldade deles vai se voltar contra eles mesmos. Eles são tão desprezíveis e viciados no prazer que vivem em orgias e se embriagam em plena luz do dia. São obcecados por adultério e são compulsivos em todo tipo de pecado. Não hesitam em seduzir quem se mostre vulnerável. A especialidade deles é a cobiça — são mestres nisso. Almas mortas! Eles saíram da estrada principal e agora andam sem rumo.” (2Pe 2:10-15 – Bíblia A Mensagem).

Uma geração “atrevida, obstinada, que não receia blasfemar das autoridades” (2Pe 2:10 ARC)… Se você acha essas afirmações um tanto exageradas, olhe para as redes sociais, onde muitos perdem seus freios e se sentem mais livres para falar o que realmente pensam, e tire suas conclusões. Não existe sequer respeito e bom senso. Atrevimento e blasfêmia às autoridades, da igreja, do governo, ou de qualquer outra instituição, é regra. E esse comportamento começa normalmente no desrespeito aos pais, que não ensinaram a pôr limites e não “ensinaram a criança no caminho em que deve andar”. Uma pessoa sem rotina é uma pessoa sem rota e, consequentemente, sem um destino certo.

Infelizmente, esse “espírito da época” também contaminou a igreja. Nós costumamos dizer que queremos ver o avivamento em nossa geração, mas não fazemos o esforço de sequer ganhar uma alma para Jesus. Dizemos que queremos ver o Evangelho avançando, e a igreja alcançando cada vez mais a sociedade, mas não estamos dispostos a comprometer de forma expressiva as nossas finanças na causa de Cristo. Queremos uma igreja que não confronte nossa mentalidade e não nos desafie a crescer. E, quando somos corrigidos, em vez de mudarmos de atitude, mudamos de igreja. Sem compromisso algum, sem apego, trocamos de congregação como se troca de celular. Bem-vindo à modernidade líquida: a era dos comprometimentos superficiais e passageiros.

Uma outra consequência prática dessa atitude leviana é que somos forçados a conviver com os “tratantes” ou burladores: alguém que faz planos ou toma decisões e não segue, e/ou cancela com as pessoas que estão esperando e/ou dependendo delas. Um trapaceiro de seus próprios compromissos, por não ter desenvolvido o domínio próprio, é alguém que tem a fama de assumir compromissos ou fazer planos, porém mais tarde “fura” ou falha em cumpri-los. Ou não vai a um lugar combinado, e muitas vezes não dá qualquer tipo de satisfação para a sua ausência ou atraso, ao contrário, torna-se incomunicável. É uma pessoa sem palavra e pouco confiável, que invariavelmente causa muita irritação ou frustração para quem conta com ela. Geralmente é uma pessoa imatura que reclama por ter poucos ou nenhum amigo, em vez de reconhecer o seu comportamento problemático. Quando confrontada sobre seus “canos”, tende a inverter a situação e se colocar de vítima. 

Essas pessoas normalmente preferem renunciar ao relacionamento do que remediar suas graves falhas de caráter. Essa mentalidade narcisista, líquida e inconstante, ensina nas redes sociais a fazer e desfazer amizades num clique. Basta não gostarem do que você postou. Ou não votarem no seu candidato. Ou um comentário infeliz. Mas essas pessoas inconstantes sofrem na vida real porque não conseguem “desfazer um vizinho” com um clique. Ou um colega no trabalho. Ou um irmão na igreja! E, querendo ou não, elas são forçadas a conviver com as diferenças. Exigimos demais das pessoas, mesmo dando pouco a estas mesmas pessoas. Queremos fazer saques onde não depositamos nada! 

Livrar-se desse espírito não é fácil. Mas querer se livrar dele já é um bom começo! Para ajudar nessa jornada difícil, pense nessa máxima como um estilo de vida e sua jornada muito provavelmente vai começar a entrar em um rumo certo: “Serviço e gratidão vão abastecer nossos relacionamentos. Direitos e expectativas vão envenená-los”.

E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos” (Gálatas 6:9).

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