São todos pastores? Não!

Tenho visto no meio cristão evangélico uma supervalorização do chamado ministerial,no sentido de que ou você tem um chamado para viver no ministério, integralmente (de preferência para ser um pastor) ou, esquece, vá levando a sua vida secular, já que você não tem tanta sorte.

Mas, isso me faz lembrar as palavras de Paulo: Porventura, são todos apóstolos? Ou, todos profetas? São todos mestres? Ou, operadores de milagres?¹. Para a pergunta retórica de Paulo, a resposta é óbvia – não! No entanto,parece que nós estamos pregando o contrario: Todos são ministros, pastores, pregadores.Todos devem viver do ministério, deixando suas profissões, negócios e empreendimentos, e somente com alguns não será assim.

E daí, alguém se converte ao Senhor e passa a ouvir, quase em todos os cultos, apelos desequilibrados para que deixem tudo e fiquem esperando no Senhor, porque certamente Ele vai enviá-lo para fazer a Obra em algum lugar. E fica parecendo que tudo o que Deus quer é que todos deixem de servir com o seu talento pessoal, único e intransferível, e sejam missionários, ministros – ou pastores – impreterivelmente. E se alguém está sonhando com o seu futuro, pense bem, para que esse sonho profissional não seja mundano ou secular.

Precisamos entender que, assim como acontece com o talento profissional e a vocação pessoal que cada um tem, chamado ministerial é algo que não se pode inventar . Ou você tem, ou não tem. Ou será que você nunca foi atendido por um médico que não tinha talento nenhum para a profissão, a ponto de você pensar: “Esse nunca deveria nem ter pensado em ser médico!”.Caso contrário, teremos uma multidão ociosa ou infeliz, interpretando um papel que não está de acordo com os seus talentos naturais – dos quais prestarão contas a quem os confiou.

Assim, aqueles que são  chamados para desempenhar um dom ministerial, no contexto eclesiástico, devem investir nisso e se preparar para tão nobre ofício. E os que tem a sua vocação para servir no âmbito secular – o que também não deixa de ser um ministério ou serviço dado por Deus – que o faça inspirado pelo Espírito que os torna também nobres e servos em nome de Cristo.

É claro que o chamado de Deus para uma pessoa, no âmbito ministerial é real, e tem suas marcas evidentes. Porém, assim como qualquer vocação divina para qualquer um dos humanos, criados para serem filhos de Deus e servirem uns aos outros, o chamado é como algemas que nos aprisionam a uma paixão, e quanto mais tentamos nos “libertar”, mais presos nos sentimos a esse destino.

O chamado pessoal nos persegue e enche a nossa mente de sonhos, e nosso coração de paixão e compaixão.  A sua vocação é aquela coisa que continua com você quando vai dormir e que está lá, bem à sua frente, quando você acorda e  que te dar um propósito para se viver.

A igreja precisa se tornar um lugar onde o talento, a vocação, o chamado e o dom pessoal é despertado, esclarecido e maximizado, e não anulado ou relegado à inutilidade. E aí teremos pastores, mestres, apóstolos, evangelistas e profetas, mas, teremos músicos, médicos, engenheiros, bombeiros, enfermeiras, empresários, professores, cientistas, todos servindo com os seus dons e vocações para a glória de Deus, encontrando o seu lugar na igreja para ser inspirado e inspirar outros, influenciando o mundo com um toque de Deus.