Trechos do livro “Livres da amargura”.
Ao estudar mais um pouco o conceito de “AMARGURA”, me deparei com algo que veio como grande revelação em minha vida. Lendo a minha tão estimada Pequena Enciclopédia Bíblica de O. S. Boyer, entendi a profundidade de um simples sinônimo da palavra AMARGURA: “DESGOSTO” (BOYER, 1993, p.45).
Alguém que está amargurado é alguém que está desgostoso com algo ou alguém. Muitos estão desgostosos com sua própria vida, com seu cônjuge, seus líderes, seu trabalho, sua igreja e é aí onde está o grande perigo.
Isso veio com grande força de revelação quando, certo dia, em um momento de devocional, li Hebreus 12.15 – RA e constatei que alguém que está desgostoso, corre sério perigo. Atente para o texto abaixo: “Tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem” (Hebreus 12.15 – RA).
Existem alguns estágios que acontecem no coração amargurado. O que me chama atenção é que o escritor aos Hebreus inicia o verso com o que poderíamos considerar o resultado final. Então, o que significa isso? Significa que a questão é tão séria que, antes de anunciar os ESTÁGIOS DA AMARGURA, ele já alertou para o que seria mais grave, justamente para que o cristão não permita que nenhuma semente contrária possa adentrar em seu coração – O AFASTAMENTO DA GRAÇA DE DEUS.
Certamente você deve ter percebido que, antes de uma curva ou obstáculo em uma pista, a placa de alerta vem com bastante antecedência, justamente para que o motorista esteja posicionado para lidar com os obstáculos, pois as consequências são graves.
“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mateus 26.41 – RA).
“Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Efésios 6.18 – RA).
Esteja atento (a), vigilante, e não deixe a amargura entrar, nem se alojar, para que não haja um afastamento seu da graça de Deus. A graça de Deus é a capacidade divina operando no humano, concedendo-lhe a força e o favor necessários para uma vida cristã bem-sucedida; é a graça que nos faz suportar todas as coisas e por isso não podemos deixar que nada nos afaste dela. O apóstolo Paulo soube lidar com estas questões de guardar o coração para não permitir que a amargura entrasse em seu viver.
Imagine o quanto Paulo sofreu por pregar o Evangelho, por fazer o bem às pessoas e na maioria das vezes não ser reconhecido ou elogiado! Paulo tinha maturidade para, identificando sua missão, não ser pego por coisas que poderiam roubar suas forças e tirá-lo do propósito maior de Deus para sua vida.
Certa vez, ele chegou a pedir ao Senhor que afastasse os enviados de Satanás, aqueles que o perseguiam, mas mesmo assim o Senhor lhe ressaltou sobre o poder da graça em sua vida.
“E, para que não me ensoberbecesse com a grandeza das revelações, foi-me posto um espinho na carne, mensageiro de satanás, para me esbofetear, a fim de que não me exalte. Por causa disto, três vezes pedi ao Senhor que o afastasse de mim. Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza (na nossa incapacidade humana de produzir resultados satisfatórios – grifo do autor). De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (II Coríntios 12.7-10 – RA).
Perceba que ele chega a citar injúrias, perseguições, angústias por amor de Cristo. Por diversas vezes, cita situações de abandono por parte de alguns companheiros de jornada, em outras menciona que esteve entre falsos irmãos, ou seja, pessoas que se diziam irmãos e amigos, mas estavam agindo falsamente. Ele passava por todas essas situações tendo prazer, alegria, justamente porque guardava o seu bem precioso: o seu coração. Isso o motivava a sair de um lugar para outro anunciando o evangelho da Salvação.
“Nas muitas viagens que fiz, tenho estado em perigos de inundações e de ladrões; em perigos causados pelos meus patrícios, os judeus, e também pelos não-judeus. Tenho estado no meio de perigos nas cidades, nos desertos e em alto mar; e também em perigos causados por falsos irmãos” (II Coríntios 11.26 -NTLH).
“E isto por causa dos falsos irmãos que se entremeteram com o fim de espreitar a nossa liberdade que temos em Cristo Jesus e reduzir-nos à escravidão” (Gálatas 2.4 -RA).
“Estás ciente de que todos os da Ásia me abandonaram; dentre eles cito Fígelo e Hermógenes. Conceda o Senhor misericórdia à casa de Onesíforo, porque, muitas vezes, me deu ânimo e nunca se envergonhou das minhas algemas; antes, tendo ele chegado à Roma, me procurou solicitamente até me encontrar. O Senhor lhe conceda, naquele Dia, achar misericórdia da parte do Senhor. E tu sabes, melhor do que eu, quantos serviços me prestou ele em Éfeso ” (II Timóteo 1.15-18 – RA).
“Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé. Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a Sua vinda. Procura vir ter comigo depressa. Porque Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica; Crescente foi para a Galácia, Tito, para a Dalmácia. Somente Lucas está comigo. Toma contigo Marcos e traze-o, pois me é útil para o ministério. Quanto a Tíquico, mandei-o até Éfeso. Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de Carpo, bem como os livros, especialmente os pergaminhos. Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe dará a paga segundo as suas obras. Tu, guarda-te também dele, porque resistiu fortemente às nossas palavras. Na minha primeira defesa, ninguém foi a meu favor; antes, todos me abandonaram. Que isto não lhes seja posto em conta! Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem; e fui libertado da boca do leão. O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o Seu reino celestial. A Ele, glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (II Timóteo 4.7-18 – RA).
Existem algumas chaves importantes que podemos observar na vida do apóstolo Paulo que não o deixava contaminar-se pela amargura e, pelo contrário, avivava nele a consciência de estar mais forte, mesmo diante de abandonos e traições, que podem acontecer na vida de qualquer pessoa:
- Consciência de que, acima de tudo e independente de qualquer humano, ele tinha Deus agindo em seu favor;
- Consciência de que o mesmo Deus havia concedido uma missão, uma carreira que ele precisaria cumprir, um propósito maior;
- Mesmo sendo abandonado por alguns, ele não paralisava porque o abandonaram, mas sempre, na sequência, mencionava também quem estava com ele;
- Consciência de que o Senhor era sua justiça;
- Consciência da graça: “Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida e todos os gentios a ouvissem”.
Normalmente, gosto de dizer que o Senhor é especialista em transformar maldição em benção (conforme Neemias 13.2 – RA). Mesmo que você tenha sido abandonado por alguém, se seu posicionamento for consciente da presença de Deus, você desfrutará das bênçãos Dele em sua vida.
O grande diferencial na vida de um cristão temente ao Senhor, como o apóstolo Paulo, era estar contente em toda e qualquer situação. Mesmo que alguma situação tente abalar sua caminhada em Deus, coloque seu olhar firme nas promessas do Senhor. Fortaleça seu coração para que você não se prive da graça de Deus. É melhor enfrentar qualquer dificuldade que seja com seu coração fortalecido. Até porque, quando temos essa consciência de que tudo passa, mas que a Palavra do Nosso Deus nunca há de passar e que se estivermos Nele não passaremos com o mundo, enfrentaremos todas as situações de cabeça erguida.