Sabemos que o Evangelho é um só. Cristo veio, morreu e ressuscitou para nos trazer restauração, salvação e, dessa forma, uma nova possibilidade de vida. Entretanto, o mundo é formado por uma diversidade de pessoas que se organizam em sociedades e culturas diversas. Assim, a forma como o Evangelho é recebido e transmitido pode variar entre culturas.
Analisando as diversas culturas existentes, podemos formar basicamente três conjuntos principais: as culturas regidas pela relação entre culpa e inocência; as culturas regidas pela relação entre vergonha e honra; e as culturas regidas pela relação entre medo e poder.
Predominantemente, os países ocidentais, por exemplo, se fundamentam na noção de que as regras das instituições formais (ou seja, as regras escritas e estabelecidas por leis) definem o que é certo ou errado — ou seja, o comportamento esperado dos cidadãos. Assim, a obediência ao que está estabelecido pelas leis define a inocência do indivíduo; em contrapartida, o seu não cumprimento define sua culpa. Uma vez que, nessas sociedades, as regras estão claramente estabelecidas, o comportamento individual de cada cidadão é valorizado — é esperado que cada um faça a sua parte. Por serem sociedades que prezam pela obediência a regras estabelecidas, o comportamento individual de cada um é o que predomina. Portanto, são sociedades individualistas, havendo um forte apelo pelo “faça você mesmo”, “pense por você”, “seja você mesmo”.
Por outro lado, os países orientais são predominantemente orientados pela cultura da vergonha e da honra. Nessas sociedades, existe um forte apelo pela manutenção da harmonia do coletivo; portanto, para além do cumprimento de regras institucionalizadas, há uma série de regras não institucionalizadas, que dizem respeito ao comportamento esperado dos indivíduos. Atitudes que “perturbem” a paz do coletivo não são bem-vistas. Em culturas em que o senso do público é muito maior do que o do privado, o “valor social” de um indivíduo se relaciona ao cumprimento do comportamento esperado da posição em que ocupa na sociedade — o sistema de castas na Índia é um forte exemplo disso.
Por sua vez, na maioria dos países africanos e latino-americanos e em sociedades tribais, as culturas são pautadas na relação entre medo e poder. Ou seja, aqueles que detém status em tais sociedades são aqueles que têm o poder de “manipular” forças sobrenaturais. O religioso, portanto, influencia todas as áreas da sociedade — um líder religioso é visto como alguém de grande importância e autoridade. Há também um grande apelo pela prática de rituais considerados sagrados, como forma de lidar com questões sociais; aliás, uma vez que o espiritual influencia a vida cotidiana, a atuação de forças sobrenaturais é usada para explicar eventos e problemas naturais, sociais e políticos. A lógica de tais sociedades gira em torno da premissa de que algo sempre deve ser feito para manipular ou apaziguar forças espirituais, a fim até de abençoar os indivíduos em tais culturas.
Em termos políticos, sociais e econômicos, todas as sociedades se relacionam, em maior ou menor escala, com a efetividade de regras e leis institucionalmente formalizadas, com a construção de relacionamentos entre grupos de indivíduos dentro de uma mesma sociedade e com a forma como os indivíduos lidam com forças espirituais.
No entanto, a grande questão é qual desses três aspectos predomina em cada cultura. Com base nisso, a forma como o Evangelho é recebido pode variar entre as culturas ao redor do mundo.
Por exemplo, nas sociedades em que o comportamento individual é encorajado, a busca pela inocência é o predominante — é considerado inocente todo aquele que obedece às leis estabelecidas. Em sociedades que prezam pela manutenção da ordem coletiva, o conceito de honra gira em torno de corresponder às expectativas do coletivo e de manter o comportamento esperado e apropriado da posição que cada um ocupa na sociedade. Por fim, em sociedades em que o espiritualismo é latente, detém poder aquele que cumpre com êxito os rituais sagrados. Portanto, o que os indivíduos mais buscam no Evangelho pode variar em cada cultura. Alguns podem ansiar por serem vistos como inocentes perante Cristo; outros podem buscar por restauração de suas reputações e obtenção de honra. Há aqueles também que estão à procura de autoridade para lidar com o reino espiritual.