A Bíblia foi escrita durante muito tempo e as condições externas sempre influenciaram e motivaram os autores. O período bíblico diz respeito à dispensação em que o texto está inserido, ao que eles estão vivendo enquanto povo de Deus na história (se estão exilados, por exemplo), e o contato com as nações vizinhas que os influenciam diretamente. Onde historicamente eles estão inseridos? Em que época da história? Era o período helenístico, medo-persa?
Uma cronologia correta, portanto, provê ao intérprete o quadro necessário para entender determinada passagem do Antigo e do Novo testamento em seu contexto histórico.
Período PRIMITIVO
Intervalo de tempo registrado entre Gênesis 1—11, que se estende desde a criação até o nascimento de Abraão. Nesse período, temos a narrativa da criação, queda, promessa de redenção, Noé, Babel e Abraão.
Período PATRIARCAL
O período patriarcal começa em Gênesis 12, com o chamado de Deus a Abraão e Sua aliança com ele, prosseguindo ao longo da vida de Abraão, Isaque, Jacó e José até o fim de Gênesis (2092-1877/6 a.C.). Grande parte da literatura bíblica, incluindo o material que abrange o período patriarcal, foi escrita para demonstrar a fidelidade de Deus às promessas que Ele fez a Abraão em Gênesis 12,15 e 17.
O livro de Êxodo começa com os hebreus tornando-se tão numerosos que o faraó egípcio decreta a matança de todas as crianças do sexo masculino recém-nascidas e, assim, a promessa da semente é ameaçada. Entretanto, “ouvindo os gemidos deles, Deus lembrou-se da sua aliança com Abraão, com Isaque e com Jacó” (Êxodo 2.24).
Período DO ÊXODO À MONARQUIA UNIDA
Deus relembra Sua aliança com Abraão e liberta o povo. Com essa libertação e a aliança mosaica estabelecida no Sinai, Deus dá origem a Israel, uma nação separada para ele. Deus então se mantém às suas promessas da aliança ao conduzir o povo na travessia do Jordão para ocupar a terra que ele prometera aos antepassados de Israel (1407/6 a.C.).
A isso se segue o período dos juízes, quando Deus continuamente levanta líderes para conduzir Israel de volta à fidelidade para com a aliança (1367-1064 a.C.).
Em seguida, tem início a monarquia unida com a unção de Saul como rei (1044 a.C.). Esse período consiste nos reinados de Saul, Davi e Salomão. No que diz respeito à literatura bíblica, esse período revelou-se importante, pois nele vicejaram o livro de Salmos e a literatura de sabedoria, de tal modo que Davi e Salomão se tornaram, respectivamente, o salmista arquetípico e a personificação da sabedoria.
O período da monarquia unida também se revelou importante com respeito às promessas da aliança de Deus. Deus fez uma aliança com Davi, afirmando: Quando os teus dias se completarem e descansares com teus pais, providenciarei um sucessor da tua descendência, que procederá de ti; e estabelecerei o reino dele. Ele edificará uma casa ao meu nome, e para sempre estabelecerei o trono do seu reino (2 Samuel 7.12,13).
Essa aliança com Davi manteve a fidelidade de Deus a suas alianças anteriores, especificando que a semente prometida, o Messias de Deus, viria na linhagem de Davi e por meio dela (Mateus 1.1-17). Promessa que tem garantia de cumprimento futuro, quando Cristo vier para reinar.
Posteriormente, Salomão constrói o Templo como o local que Deus havia escolhido para fazer ali habitar seu nome (957 a.C.).
Após a morte de Salomão, a nação se divide em Reino do Norte (Israel) e Reino do Sul (Judá).
Período da MONARQUIA DIVIDIDA
A época da monarquia dividida vai desde a morte de Salomão até o colapso do Reino do Norte e do Reino do Sul em 722 a.C. e 586 a.C. Esse é um período que presencia a ascensão do Império Neoassírio (745-612 a.C.), do Império Neobabilônico (ou Caldeu) (629-539 a.C.) Israel sofre constante pressão sobre os dois reinos.
Essa pressão fará com que Israel e Judá violem a aliança, apostatem e passem a adorar outros deuses. Violar a aliança, por sua vez, implica que Israel e Judá incorram na maldição da aliança mosaica — o exílio da Terra Prometida (586-516 a.C.).
Período do EXÍLIO E RETORNO
O Reino do Norte (Israel) é levado ao exílio pelos assírios em 722 a.C., e o Reino do Sul (Judá) tem o mesmo destino, sucumbindo ao cativeiro babilônico. O exílio é julgamento decorrente da quebra da aliança.
A pesar de Israel ter deixado de cumprir sua parte na aliança, Deus se mostrou fiel. Deus levanta o rei persa Ciro para derrotar os babilônios que haviam capturado Israel (Is 44.24—45.7). O rei então publica um decreto que ordena a recondução do povo à Terra Prometida (586 a.C.). Depois disso, o povo começa a reconstruir o Templo em 536 a.C. Sob o ministério de Esdras e Neemias, a reconstrução do Templo termina em 516 a.C.
Cronologia da Bíblia: 2167 – 430 a.C
Data | Fato / Pessoa | Texto Bíblico |
2167-1992 | Abraão | Genesis 11.26—25.11 |
2092-1877/76 | Período patriarcal | Genesis 12—50 |
1876-1447 | Escravidão no Egito | Êxodo 1—12.30 |
1447/6 | O êxodo | Êxodo 12.31—15.21 |
1407/6 | Entrada em Canaã sob o comando de Josué | Josué |
1367/1064 | Período dos Juízes | Juízes |
1064-1044 | Samuel | 1Samuel 7.2 |
1044-1004 | Saul | 1Samuel 10; Atos 13.21 |
1011-971 | Davi | 2Samuel 5.5 |
971-931 | Salomão | 1Reis 11.42 |
931 | Divisão do Reino | 1Reis 12.19 |
722 | Exílio Assírio | 2Reis 17.6 |
605 | Primeira deportação para a Babilônia | Daniel 1 |
Período HELENÍSTICO
Em 333 a.C., os gregos (sob o comando de Alexandre, o Grande) assumiram o domínio do mundo na batalha de Isso. A conquista da Palestina por Alexandre no ano seguinte (332) teve um impacto de longo alcance sobre os judeus em virtude da política alexandrina de helenização, isto é, a difusão da língua e da cultura grega. Muito tempo depois de os gregos terem sido derrotados pelos romanos, o domínio da cultura grega continuou.
A tradução grega do Antigo Testamento, a Septuaginta (LXX) , feita no século terceiro a.C., passou a ser a versão usada pelos primeiros cristãos e a mais citada pelos autores do Novo Testamento. O Novo Testamento seria escrito em grego
Depois da morte de Alexandre, em 323 a.C., seu império foi dividido, resultando em duas grandes dinastias: os ptolomeus, no Egito, e os selêucidas, na Mesopotâmia e na Síria.
Depois de um século de luta entre esses dois impérios pelo controle da Palestina, os selêucidas (Antíoco) conquistaram o poder em 198 a.C. As tensões ocasionadas por essa dominação atingiram o ápice no reinado de Antíoco Epifânio IV (175-164 a.C.), cujo programa radical de helenização culminou na instalação de uma estátua de Zeus e no sacrifício de um porco no santuário de Jerusalém, um ato que provocou a indignação judaica.
Período MACABEU
A Revolta dos Macabeus teve êxito em revogar a política de Antíoco. O Templo foi novamente dedicado em 164 a.C. e em 142 a.C. Judá se tornou independente e continuou assim até que os romanos conquistaram a Palestina sob a liderança de Pompeu, em 63 a.C.
O nacionalismo se alastrava, e assim surgiram alguns movimentos cuja existência se estendeu até a época de Jesus, tais como os saduceus (aristocracia) e os fariseus (reformadores religiosos, perseguidos por Alexandre Janeu, que reinou de 103 a 76 a.C.).
Do mesmo modo, a comunidade do mar Morto surgiu na metade do segundo século a.C., rejeitando o que considerava o corrupto sacerdócio de Jerusalém (liderado pelo “Sacerdote ímpio”).
Cronologia da Bíblia: 333 a.C – 37 D.C
Data | Pessoa / Acontecimento | Importância |
333 a.C | Alexandre, o Grande, conquista o domínio do mundo | Helenização |
198 a.C | Os selêucidas assumem o controle da Palestina | Helenização (continua) |
175-64 a.C | Antíoco Epifânio IV governa a Palestina, programa radical de Helenização | “Abominação desoladora” |
164 a.C | Revolta dos Macabeus, o templo é novamente dedicado | Festa da dedicação |
142 a.C | Judá se torna independente | Surgimento dos Saduceus, dos fariseus e da comunidade do Mar Morto |
Período ROMANO
Após a conquista da Palestina por Pompeu, em 63 a.C., houve uma série de governantes locais encarregados das províncias da Palestina. Herodes, o Grande, governava a região quando Jesus nasceu, em 5 a.C.; pouco depois ele morreu (4 a.C.) e foi sucedido por Arquelau.
Na época de Jesus, Herodes Antipas governava a Galileia (Marcos 6.14; Lucas 13.31,32). O grande imperador Augusto (31 a.C.-14 d.C.) governou num período áureo de paz (a Pax Romana) e prosperidade (bem como de aumento da corrupção e da decadência), o que proporcionou um profundo contraponto para o humilde nascimento de Cristo (Lucas 2.1).
Quando João Batista e Jesus iniciaram seus respectivos ministérios, o governo havia passado ao imperador Tibério (14-37 <LC; cf. Lucas 3.1), que ainda estava no comando na época da crucificação de Jesus, na primavera de 33, com Pôncio Pilatos como procurador ou pretor da Judeia.
Data | Pessoa / acontecimento | Importância |
63 a.C | O general romano Pompeu conquista a Palestina | Governantes vassalos de Roma no comando da Palestina na época de Cristo |
31 a.C – 14 d.C | O imperador Augusto preside a “era de ouro” de Roma | Paz romana (Pax Romana; comparada com Cristo Lc 2.1) |
5 a.C | Nascimento de Cristo | Nascimento virginal |
4 a.C | Morte de Herodes, o grande | Matança de bebês, líder da dinastia herodiana |
14-37 d.C | Imperador Tibério | Governava quando Jesus começou o ministério e quando foi crucificado |
Na parte dois, tratarei do período inter bíblico, seguido ao período do Novo Testamento.