por Renato Gaudard
Meu filho Pedro sempre cita Moisés como referência e isso chamou mais ainda a minha atenção para a vida dele. Moisés foi aquele colocado em um cestinho no rio, foi encontrado pela filha de faraó e cresceu como um príncipe.
“Naqueles dias, sendo Moisés já homem, saiu a seus irmãos e viu os seus labores penosos; e viu que certo egípcio espancava um hebreu, um do seu povo. Olhou de um e de outro lado, e, vendo que não havia ali ninguém, matou o egípcio, e o escondeu na areia. Saiu no dia seguinte, e eis que dois hebreus estavam brigando; e disse ao culpado: Por que espancas o teu próximo? O qual respondeu: Quem te pôs por príncipe e juiz sobre nós? Pensas matar-me, como mataste o egípcio? Temeu, pois, Moisés e disse: Com certeza o descobriram. Informado desse caso, procurou Faraó matar a Moisés; porém Moisés fugiu da presença de Faraó e se deteve na terra de Midiã; e assentou-se junto a um poço. O sacerdote de Midiã tinha sete filhas, as quais vieram a tirar água e encheram os bebedouros para dar de beber ao rebanho de seu pai. Então, vieram os pastores e as enxotaram dali; Moisés, porém, se levantou, e as defendeu, e deu de beber ao rebanho. Tendo elas voltado a Reuel, seu pai, este lhes perguntou: Por que viestes, hoje, mais cedo? Responderam elas: Um egípcio nos livrou das mãos dos pastores, e ainda nos tirou água, e deu de beber ao rebanho. E onde está ele?, disse às filhas; por que deixastes lá o homem? Chamai-o para que coma pão.Moisés consentiu em morar com aquele homem; e ele deu a Moisés sua filha Zípora, a qual deu à luz um filho, a quem ele chamou Gérson, porque disse: Sou peregrino em terra estranha” (Êxodo 2.11-22).
Moisés já carregava características do seu chamado. Ele já possuía um senso de justiça. Essa pergunta que o hebreu fez a Moisés fala um pouco do porte físico dele, da estrutura, da maneira que ele se apresentava. Eu penso que ele não era alguém que passava desapercebido.
O fato do assassinato chega até faraó que procura matar Moisés. Ele foge para Midiã. Lá, encontra as filhas de Reuel que estavam passando por uma situação na qual pastores as impediam de pegar água no poço e Moisés os enfrenta. Ele era um homem corajoso, ousado, forte e expulsou eles.
Fico imaginando que aqueles pastores se sentiam proprietários daquele poço. Acredito que eles tinham o hábito de chegar ali e expulsar quem estivesse. Mas, dessa vez, foi diferente e o pai delas pede para convidar Moisés para comer e ainda dá sua filha em casamento.
Moisés passou por todo esse processo, mas ele conservava nele o ímpeto para fazer o que era certo. Ele guardou com ele isso.
O seu chamado deixa um rastro.
Moisés passa a morar na casa do sogro com a esposa e mais seis cunhadas. Apascentava Moisés o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Midiã; e, levando o rebanho para o lado ocidental do deserto, chegou ao monte de Deus, a Horebe.
“Apareceu-lhe o Anjo do Senhor numa chama de fogo, no meio de uma sarça; Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo e a sarça não se consumia. Então, disse consigo mesmo: Irei para lá e verei essa grande maravilha; por que a sarça não se queima? Vendo o Senhor que ele se voltava para ver, Deus, do meio da sarça, o chamou e disse: Moisés! Moisés! Ele respondeu: Eis-me aqui! Deus continuou: Não te chegues para cá; tira as sandálias dos pés, porque o lugar em que estás é terra santa. Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Moisés escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus. Disse ainda o Senhor: Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a fim de livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel; o lugar do cananeu, do heteu, do amorreu, do ferezeu, do heveu e do jebuseu. Pois o clamor dos filhos de Israel chegou até mim, e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo. VEM AGORA, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito” (Êxodo 3.1-10).
Aquilo que Deus relata para Moisés não é exatamente aquilo que ele tinha visto há 40 anos? Você percebe que existem semelhanças e diferenças em relação aquilo que Moisés viu, que ele entendia que era necessário fazer, comparado com quem ele era antes de ir para o deserto e agora? Mas, com respeito ao tempo e o modo com que aquilo deveria ser feito, a visão de Moisés é totalmente diferente da visão de Deus. Deus diz “Vem agora“, mas Moisés tentou fazer isso há 40 anos. Ele tentou livrar o povo matando soldados, e Deus diz que vai enviá-lo a faraó. Eu penso que se Moisés tivesse continuado tentando livrar o povo matando os soldados ele teria passado mais de 40 anos fazendo isso.
Os dois viam e sabiam o que era necessário ser feito, mas o tempo e o modo fazem toda a diferença. Será que Moisés pensou que Deus não estivesse entendendo o que estava acontecendo? Porque para ele isso já deveria ter sido resolvido, mas ele precisava entender que existe o tempo e o modo para cada coisa. Porém, quando ele se conecta com o tempo, Deus diz que era “agora”. E o modo? Deus diz que vai enviá-lo a faraó.
Não é só ver e saber o que precisa ser feito, isso não é suficiente. O tempo e o modo, o quando e como fazer, acontecem no momento em que você se conecta com Deus. Assim, irá usufruir de toda a graça e de todas as ferramentas de Deus para que você alcance o que Ele tem para a sua vida.
Mas, 40 anos depois, Deus se aproxima. A bíblia afirma que a sarça estava pegando fogo e Moisés parou para ver. Algo extraordinário estava acontecendo e ele precisou parar para prestar atenção para ver o que estava acontecendo. Para perceber o modo você vai precisar olhar para Deus. Para ver, para ouvir, para entender o tempo e o modo, para se afinar exatamente com o tempo de Deus, com a forma de Deus fazer.
Havia uma sarça em chamas, mas Deus não falou nada até que Moisés parou para ouvir. Quando você parar para ouvir vai entender o tempo e o modo, e desfrutará da graça e do favor de Deus.
A partir do verso 11 há um diálogo entre Moisés e Deus sobre a missão que Deus quer que ele realize. Moisés fala como ele se vê e Deus fala da maneira que Ele vê Moisés.
“Então Moisés disse a Deus: Quem sou eu, que vá a Faraó e tire do Egito os filhos de Israel?” (Êxodo 3.11).
Deus fala com Moisés sobre evidências que ele poderia apresentar ao estar diante do faraó, evidências de que Deus é com ele. Mas, Moisés continua apresentando as características que ele foi adquirindo ao longo dos 40 anos no deserto. Aquele homem que tinha o ímpeto de fazer o que era certo, não se parece em nada com esse homem que se apresenta diante de Deus agora. Mas Deus diz “Eu sou contigo“.
Nós temos aqui a perspectiva que Moisés tem de si mesmo e a perspectiva que Deus tem dele. O que aconteceu no deserto para que a visão que ele tinha de si mesmo fosse transformada? Ele parecia ter se acostumado com a paisagem, ele ficou acomodado ao longo do tempo. E aquele ímpeto, aquela chama, foi sendo perdida ao longo dos anos, porque o ambiente já era comum para Moisés.
Deus é quem sabe do potencial de cada um de nós e sabia do que Moisés era capaz de fazer. Ao longo da sua vida, você se envolve em rotinas, em coisas cotidianas, e é possível que muitos de nós tenhamos perdido ou deixado enfraquecer esse ímpeto de Deus na nossa vida. Dentro deste cenário, pode ser que estejamos olhando para nós mesmos e achando que nada mais pode acontecer, mas você só precisa se manter olhando para Deus, estar sensível para ver o Senhor se manifestando.
Você não precisa mudar de lugar para ver coisas extraordinárias.
Deus apareceu para Moisés em um lugar comum para ele, onde apascentava as ovelhas. Pode ser que haja para você um lugar que pareça comum, mas Deus é capaz de fazer coisas extraordinárias, não importa há quanto tempo você tem vivido as mesmas coisas, Deus pode intervir de uma forma extraordinária! Deus pode fazer aquilo que a sua rotina, o seu cotidiano, nunca poderia oferecer para você. Não precisa mudar de lugar, só precisa estar disposto a ver. Mas, se você não ver, pode ser que também não ouça. Por isso, aguce a sua visão, limpe os seus olhos, aí no lugar que você está.
Longanimidade não é acomodação.
Por mais que você esteja envolvido na sua rotina, mantenha aceso o ímpeto de realizar o que Deus o chamou para cumprir, isso não pode se apagar. No tempo e no modo de Deus vai acontecer. Não é na sua força. Ao invés de tentar resolver na sua força, Deus pode encurtar o seu caminho.
Que a Palavra reacenda o ímpeto do chamado, a disposição de cumprir aquilo que Deus o chamou para fazer, não importa há quanto tempo as coisas estejam acontecendo do mesmo jeito, Deus é capaz de mudar. Se mantenha aceso! Se mantenha buscando! Não atropele nada, se mantenha no tempo e no modo de Deus.
Descanse em Deus. Porém, descanso não é relaxamento. Você não vai relaxar, você vai descansar n’Ele, sabendo que o tempo e o modo é com Ele.
“A este Moisés, a quem negaram reconhecer, dizendo: Quem te constituiu autoridade e juiz? A este enviou Deus como chefe e libertador, com a assistência do anjo que lhe apareceu na sarça” (Atos 7.35).
Por isso, receba essa palavra como Deus falou a Moises: “Agora, Eu vou enviá-lo!“. Mantenha a chama acesa, o ímpeto, a disposição, a vontade de obedecer a Deus, não importa o que aconteça. Não importa qual cenário esteja em sua frente, vai acontecer! Deus o constituiu e o enviou como chefe e libertador, como autoridade!
Deus é capaz de fazer, mas no Seu tempo e no Seu modo. Siga com longanimidade e paciência, para ser projetado, para lidar com faraó não com soldados. Porque Deus deseja que você ande no máximo do potencial que você tem, porque foi Ele mesmo que o constituiu assim.
*Trechos da mensagem do dia 30 de maio de 2021, na Conferência de Ministros Centro Oeste
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