Jussara Pereira, é dentista, membro da Igreja Verbo da Vida em João Pessoa-PB, e deixou tudo aqui no Brasil para seguir um chamado, juntamente com o seu Filho Lucas, no Camboja. Atualmente, ela é diretora da escola cristã fundada pela Missione Possible, ONG a qual tem auxiliado desde quando chegou ao Camboja. Veja a entrevista que Jussara concedeu ao nosso Portal relatando o crescimento da obra e novos projetos:
Como surgiu o desejo de ir ao Camboja?
Na verdade Deus não falou comigo para eu ir para o Camboja, Ele falou comigo sobre a Itália, e foi para lá que eu fui. No final de 2010, cheguei à Itália, entrei em contato com uma pastora de um ministério lá, foi quando ela me perguntou se eu gostaria de ter uma experiência no Camboja, pois o presidente de uma ONG no Camboja era membro desta igreja. Depois disso eu retornei ao Brasil, e fui para o Camboja em julho de 2011.
Assim que cheguei já comecei a trabalhar. Comecei com a clínica móvel e também ensinando as crianças na escola. O trabalho espiritual não estava sendo muito focado, mesmo a ONG funcionando há mais de 10 anos, e depois que eu cheguei começamos a estruturar este trabalho.
Como foi para o seu filho esta experiência?
O meu filho Lucas, escolheu livremente me acompanhar. Foi difícil para ele porque ele não falava inglês, então antes de irmos ele estudou muito a língua inglesa. E hoje no Camboja, ele estuda em uma boa escola, consegue se comunicar bem.
Lá eles falam o Khmer, mas a segunda língua deles é o inglês. Eu já falo algumas coisas, mas pregar na língua mesmo ainda não, contudo um rapaz me ajuda na tradução.
Como você pode classificar o cenário que você encontrou ao chegar ao país? E ainda, como foi a receptividade ao cristianismo?
Crianças lá são vendidas por até $50,00 dólares. Eles vendem ou entregam a qualquer um, principalmente as meninas são entregues para a prostituição. Elas não são muito valorizadas no país, e nem mesmo por seus pais. Eles não são muito carinhosos, nem mesmo marido e mulher você vê de mãos dadas na rua. A criança depois de 5 anos de idade já não ganha muito abraço dos pais, muita atenção. É algo da cultura deles. Em contra partida, eles são um povo sorridente, sofridos, mas eles sempre estão alegres. Eu aprendi muito com eles.
E o trabalho social que a ONG faz é maravilhoso, mas o espiritual não era. Ainda não está muito equilibrado, porque como eles são budistas, um trabalho cristão em uma nação budista leva algum tempo para vermos resultados, mas eu vejo que as crianças no trabalho que eu faço estão bem diferentes, elas são famintas. Se um dia eu não vou dar aula elas me cobram, eles realmente se interessam. E as minhas aulas são bem dinâmicas, eu uso de tudo: desenhos, cortes, peças, colagem, e muito mais. Porém, eu acredito que o resultado mesmo só veremos daqui há alguns anos, se você perguntar porque eles querem esse caminho eles sabem explicar, eles têm consciência.
Inclusive, os maiores de 12 a 15 anos, que são cerca de 60 crianças, que estão no último ano da escola primária, serão batizados nas águas. Preparei uma apostila, traduzimos e comecei a dar um curso para eles sobre o batismo. E eles estão desejosos que o dia do batismo chegue.
Como é para os pais saberem que os seus filhos estão aprendendo sobre Jesus na escola?
No começo da ONG, eu ainda não estava lá, havia uma resistência porque as pessoas não queriam matricular as crianças porque era uma escola cristã. Mas, depois que eles começaram a ver mudança nas crianças, vendo que não é só a educação, mas o ensino moral é valorizado e também começaram a ver diferença nas crianças que estudavam na escola, isso mudou. Hoje, são 365 crianças matriculadas, e a cada ano a procura é muito grande, muitas vezes não temos mais vagas.
E esse ano, vamos começar a construção da escola secundária, para que essas crianças maiores que estão sendo batizados continuem com a gente para que não se percam, porque se eles saem dali eles vão estudar em uma escola budista. Como já aconteceu com a primeira turma, e com a escola secundária teremos a oportunidade de continuar o trabalho, caso contrário o meu trabalho poderá ser em vão. Porque eles se envolvem profundamente com o budismo e será mais difícil de sair.
As crianças pagam mensalidade? Quais as atividades extras que eles participam?
As crianças pagam uma taxa simbólica de $5,00 dólares anuais por aluno, para que os pais valorizem mais a escola. No entanto, as crianças têm mantenedores, se alguém quiser manter algum aluno ele entra em contato e aquela criança é mantida de tudo, roupa, material escolar, etc.
Além das aulas de informática que os alunos têm desde o início da vida escolar, vamos começar um novo projeto para as crianças a escovarem os dentes na escola. Nós construímos um ‘escovódromo’ e elas vão fazer isso duas vezes por dia.
Como estão sendo levantados os recursos para a construção da escola?
Como essa é uma ONG Italiana, parte dos recursos está sendo levantado lá, mas sabemos que a Europa está em crise, então há certa dificuldade. No momento, o custo dessa escola é aproximadamente de 180 mil euros, mas Deus é dono do ouro e da prata, virá de todos os lados e vamos fazer essa escola sim! E creio que o Brasil também será participante desse projeto.
A lei do país não permite que nós iniciemos a escola sem o prédio. Nós já temos o terreno, no entanto caímos na graça dos governantes e vamos começar a escola secundária no prédio atual. Vamos dividir a biblioteca em duas salas, e em novembro pretendemos iniciar as aulas. E assim, ficamos cobertos por lei, porém o governo deu 1 ano para construirmos a escola. É o tempo que nós temos e eu creio que será construído tudo de uma só vez, acontecerá rápido.
Qual a maior dificuldade que você encontrou no campo missionário?
Acredito que a maior dificuldade foi não encontrar amigos lá, pessoas que pegassem junto comigo. Claro que a cultura é diferente, mas eu sou muito fácil de me adaptar em qualquer lugar, mas isso foi algo que me fez falta. Hoje não, tenho amigos missionários latinos, e nós nos reunimos frequentemente para orar, para coversar, hoje isso é tranquilo para mim.
Hoje você é a diretora da escola. Como está sendo esta experiência?
Eles me colocaram como diretora da ONG. A diretora anterior faleceu, e eles não tinham ninguém para substituí-la. Na verdade, eu já tinha ido para lá para isso, mas eu não sabia. Não era uma posição que eu queria, porque é muita responsabilidade, ter que lidar com dinheiro, documentos em outra língua e uma língua que eu ainda não leio, no início eu resisti um pouco, mas descansei e confiei em Deus. E agora, a responsabilidade da escola, da clínica, tudo está sob a minha coordenação, mas sempre estou conectada com o presidente da ONG, sempre trabalhamos juntos.
Eu sou totalmente voluntária, todos os outros funcionários recebem salário. Mas, eles pagam meu aluguel, energia, internet, eu não tenho nenhum gasto com isso. Mas, gasto com alimentação, com a escola do Lucas que é muito cara, gasolina, mas estamos bem, vivendo com a graça de Deus superabundante.
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Veja algumas fotos da entrevista e da missão no Camboja: