por Rosane Fernandes
A Palavra de Deus opera a verdade em nosso caminhar, e conseguimos enxergar todas as coisas que nublam a nossa visão. Dentre elas, a preocupação. Essa é uma neblina que começa fina, quase imperceptível, mas se não agirmos rapidamente, ela se tornará densa, nos impedindo de ver e viver o melhor de Deus.
Posso afirmar que, em alguns momentos, mediante situações adversas, percebo que, lá no fundo, há algo que quer roubar a minha paz, através desses sinais cinzentos que insistem em me preocupar.
Uma neblina surge quando o ar quente perde calor no solo frio, ou na água, e esfria, fazendo com que o vapor de água condense; da mesma forma, nós estamos vivendo um tempo de fervor, de intensidade e de aquecimento pelas promessas do Senhor. Entretanto, o que não podemos permitir é que esse calor se esvaia para o frio que está no mundo, resfriando a nossa confiança em Deus e gerando um vapor de dúvidas, manifestado na densa neblina da preocupação.
Quando começamos a perceber os sinais desse resfriamento, temos que parar um pouco e revisar profundamente as nossas atitudes, verificando em que erramos o alvo, ou em qual momento começamos a fazer as coisas do nosso jeito, sem seguir os conselhos do Espírito Santo que nos guia em toda a Verdade, ou da nossa liderança que ora e quer também o melhor para nós. Se assim não procedermos, um peso desnecessário sobrevirá sobre nós.
Não andeis ansiosos
Quando, muitas vezes, nos encontramos pesados, somos pegos aliviando esse peso resmungando e criticando quem está ao nosso redor. Qual é o resultado de tudo isso? Afastamo-nos cada vez mais do caminho certo a seguir, o único caminho, o da Palavra de Deus, e começamos a andar pelo terreno perigoso da ansiedade. Apesar das muitas passagens da Bíblia que contêm promessas de fidelidade, de provisão e de proteção de Deus para os filhos, o “não andeis ansiosos” é uma ordenança que, mediante às circunstâncias contrárias, torna-se difícil de nos sujeitarmos a ela.
Alguém disse que, muitas vezes, procedemos como pessoas que usam o elevador, mas não colocam a pesada mala no chão, preferindo segurar todo o peso. Somos crentes, os que creem no Senhor e na Palavra do seu poder, mas nesses momentos perturbados não entregamos as nossas cargas de preocupações para o Autor e Consumador da nossa fé.
Muitos de nós preferimos nos chamar de pessoas responsáveis ao assumirmos preocupações com o futuro dos filhos, com problemas familiares, com a manutenção do emprego, com a inflação, com alimentos que prejudicam a saúde, com a morte repentina, com o medo de câncer, com a provisão para o dia seguinte; contudo, esse procedimento é totalmente contrário à ordem de Deus, de não andarmos ansiosos por coisa alguma, uma vez que o cuidado d’Ele por nós está acima do nosso entendimento.
A paz de Deus
Com certeza, nesses momentos, o versículo de Hebreus 12.13 (“Façam caminhos retos para os seus pés”) será lembrado ao nosso espírito nascido de novo pelo nosso Ajudador, o Espírito Santo. Pode ser que o desassossego continue e, novamente, seremos avisados pelo nosso Amigo de que, “aquele que habita no esconderijo do Altíssimo e descansa à sombra do Onipotente diz ao Senhor: Meu refúgio e meu baluarte, Deus meu, em quem confio”(Salmos 91.1-2).
Entretanto, ainda não é suficiente e esta caminhada, agora, vai ficando mais nublada e cinzenta, porque ignoramos o conselho do apóstolo Paulo, inspirado pelo nosso Conselheiro: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Filipenses 4.8). Assim, a paz de Deus, que excede todo o entendimento, não pode guardar o nosso coração e a nossa mente em Cristo Jesus (v. 7), porque decidimos não pensar em tudo o que é bom; e essa paz não nos protegerá dos conflitos internos e nem dos externos.
Mas, se decidirmos ser guiados pela paz de Deus, ela impedirá que pensamentos indignos, aflições e angústias abalem os nossos sentimentos e, dessa forma, dominem nossa mente. Então, a paz de Deus que excede todo entendimento nos guardará. O vocábulo grego utilizado pelo apóstolo Paulo traduzido como “guardará” é “phroureo”. Trata-se de um termo militar para indicar a guarda de sentinelas que protegiam a cidade de uma invasão inimiga, e o sentido é “manter preservado”.
Muitas das vezes, estamos colocando um “não” nas afirmações da Palavra de Deus e isso foi o que Satanás fez com Eva no Éden. Em Isaías 26:3 está escrito que o Senhor “conservará em perfeita paz aquele cujo coração é firme; porque ele confia em Ti”; e foi o próprio Deus quem pôs o Seu temor em nosso coração, para que nunca nos apartemos d’Ele (Jeremias 32.40). Por isso, podemos continuar nos deleitando no Senhor porque Ele satisfará os desejos do nosso coração.
A incredulidade
Essa paz que excede todo o entendimento não é a ausência de adversidades, dificuldades, problemas e aflições, mesmo porque, Jesus disse: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16.33), e é certo que somente n’Ele nós temos paz. Foi Ele quem venceu todos esses sentimentos mundanos de depressão, medo, pânico, insatisfação, ingratidão, ansiedade, frustração, soberba e manipulação, os quais se resumem em preocupação que é incredulidade (no grego, “apistia”, palavra que significa ausência de fé e se contrapõe à palavra “pistis”, traduzida por fé).
Estamos no mundo, mas não somos daqui e não convém pensar como este mundo pensa. É em Cristo que somos mais que vencedores. É por causa da incredulidade que muitos cristãos, e alguns de nós, da Palavra da Fé, muitas vezes, temos vivido uma fé minguada, sem gosto e vazia; visto que, ”de fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hebreus 11.6). E a fé vem pelo o ouvir e o ouvir a Palavra de Deus; então, é claro que precisamos dar voz a ela; tendo renovado a mente pela Palavra. Tiago disse que precisamos ser praticantes operosos e não ouvintes negligentes. É na prática da Palavra que somos abençoados.
De modo imperativo, em I Pedro 5.6-7 lemos: “Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre o Senhor toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós”. Tirar algo que está sobre nós e lançar, requer ação; e é isso que Deus nos manda fazer com nossas preocupações e ansiedades. Feito isso, será impossível pegá-las de volta.
Reconhecemos a Sua grandeza
Em outra passagem, lemos: “Lança o teu cuidado sobre o Senhor, e Ele te susterá; não permitirá jamais que o justo seja abalado” (Salmos 55.22). O que importa, nesse contexto, é se teremos a atitude de humildade para lançar todas as nossas ansiedades sobre Ele, porque é certo que Deus cuida de nós com zelo. Esse cuidado zeloso é tão real que Deus nos chama dizendo: “Ei! Meus herdeiros, venham até Mim, todos vocês que estão cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei; filhos, tomem sobre vocês o Meu jugo, aprendam de Mim, eleitos, que sou manso e humilde de coração; e vocês, escolhidos e ungidos, encontrarão descanso para as suas almas, porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve. Filhos amados, vocês são povo de minha propriedade exclusiva, sacerdócio real e nação santa”.
Toda preocupação que possamos nutrir, por qualquer coisa que seja, é perda de tempo, pois o próprio Senhor Jesus disse: “Qual de vós por ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado ao curso de sua vida…vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas” (Mateus 6.27 e 32). Além do mais, ao tentarmos resolver os nossos problemas sozinhos, nós roubamos a honra devida a Deus, porque não reconhecemos a Sua grandeza e o Seu poder. Não nos preocupar não significa que os problemas serão solucionados imediatamente; porém, seremos libertos das pressões deles e é aí que experimentaremos o que está em Salmos 68.19: “Bendito seja o Senhor que, dia a dia, leva o nosso fardo! Deus é a nossa salvação”.