
Graduada da Escola de Ministros Rhema em Recife-PE
Nunca a empatia foi tão necessária ao ser humano. Por empatia define-se: a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa, caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e emoções, procurando experimentar de forma objetiva e racional o que sente outro indivíduo. Paralelamente à pandemia do Covid-19, temos vivenciado uma pandemia de medo, egoísmo e distanciamento emocional.
É chocante atestar a incapacidade de expressão emocional de muitos que levam às cenas mais estarrecedoras. Há poucos dias, vi na TV uma mulher sendo expulsa a pontapés de um transporte coletivo, porque espirrou e supostamente estaria espalhando vírus para todos. Por outro lado, presenciamos profissionais de saúde, que estão na linha de frente do combate à doença, que têm sofrido preconceito por vizinhos ao voltarem exaustos para seus lares. Cenas como essa têm se repetido corriqueiramente, e tudo isso, parece “normal” e justificável para os que cometem tais atos. Um encaixe perfeito ao que está exposto na segunda carta de Timóteo 3.3:
[Serão] sem afeição [humana] natural (serão insensíveis e desumanos), inflexíveis (não admitindo trégua nem apaziguamento); [eles serão] caluniadores (acusadores falsos, criadores de problemas), intemperantes e relaxados na moral e na conduta, descontrolados e furiosos, odiando o bem.
Há poucos dias, um famoso jornalista fez um comentário bastante pertinente sobre as vítimas de Covid 19. Cito:
“Os números vão aumentando desse jeito, cada vez mais rápido, vão dando saltos. E vai todo mundo se acostumando, porque são números. Um número muito grande de mortes de repente, num desastre, sempre assusta. As pessoas levam um baque”, disse o jornalista. Oito mil vidas acabaram. Eram vidas de pessoas, amadas por outras pessoas. Pais, irmãos, filhos, amigos, conhecidos. Aí o luto dessas tantas famílias vai ficando só pra elas, porque as outras pessoas já não têm nem como refletir sobre a gravidade dessas mortes todas, que vão se acumulando todo dia”. O jornalista e apresentador finalizou o discurso dizendo que a ficha para algumas pessoas só vai cair quando ocorrer um óbito de alguém próximo: “Hoje, são oito mil e quinhentas. Amanhã, a gente não sabe. Quando é assim, o baque só acontece quando quem morre é um parente, um amigo, um vizinho ou uma pessoa famosa”, encerrou.
Parece que as pessoas têm estado ocupadas demais sentindo seus próprios medos, o que é um castigo por si só, e perdido a capacidade de chorar com os que choram, de se colocar no lugar do outro, muito menos de estarem sensíveis à voz do Espírito, para, por exemplo, alcançar alguém que está precisando, com uma palavra de consolo, um auxílio financeiro, ou qualquer coisa que demonstre Jesus, a um coração destruído e atemorizado.
Jesus nos ensinou a compaixão de tantas formas, mas uma que gosto muito foi na ressurreição de Lázaro. Imagine, se fosse hoje, Lázaro poderia ter morrido de Covid-19, jovem e sem doenças prévias, e deixando, infelizmente, suas irmãs, Marta e Maria, familiares e amigos desolados. Por outro lado, imagino a curiosidade e preconceito dos vizinhos e alguns familiares especulando se Lázaro teria, nos últimos dias, usado máscara corretamente, se lavava as suas mãos, constantemente, quando saia para trazer os mantimentos para suas irmãs cozinharem ou se lavava corretamente os alimentos antes de guardar, como que, inconscientemente, querendo imputar-lhe a culpa por uma negligência que o fez perder a vida, quando poderiam estar ali e compartilhar simplesmente da dor, sem julgamentos prévios.
Mas ali, junto às irmãs, tinha pessoas que apesar de temerosas, em estar ali e se infectarem, estavam “pagando o preço” para aliviar a dor e chorarem com as irmãs, consolando-as pela perda precoce de seu irmão. Lázaro estava morto! Suas irmãs perderam-no! Não haveria mais risadas, apoio emocional, boas conversas após as refeições, que eram comuns naquela família, protagonizados por Lázaro. Por essas e outras lembranças, Marta e Maria choravam desconsoladas, enquanto encontravam reprovação nos olhos de muitos, consolo nos olhos de alguns, mas elas tinham um amigo especial, Jesus.
Ele foi ao encontro delas e quando as viu, Ele já sabia que iria ressuscitá-lo, mas, mesmo assim, Ele chorou em profunda compaixão. Ele poderia ser “técnico” e objetivo, trazendo logo Lázaro de volta à vida, mas ele foi na direção oposta de um apagão emocional, fez questão de demostrar empatia e compaixão, identificando-se com a dor daquela família:
“Jesus, outra vez profundamente comovido, foi até o sepulcro”(João 11.38).
O final já sabemos, a dor da perda que havia dominado o coração de muitos deu lugar à esperança de ter novamente Lázaro vivo. Que alegria!
Há um ensinamento precioso que Jesus nos deixa com essa história, pois mesmo sabendo que o final seria feliz, Ele nos mostra a importância da nossa postura durante o processo: não devemos desperdiçar oportunidade de exercer a nossa humanidade, pois é isso que somos: gente! E é isso que as pessoas têm esquecido: de sua essência! Viver uma vida apagado emocionalmente é perigoso, pesado e traz malefícios à nossa saúde mental e física. Da mesma forma, toda essa pandemia vai passar e tudo se normalizará, mas não existe espaço para sairmos dessa situação menos humanos do que quando entramos.
Talvez você diga, como o próprio jornalista citou, que não existe próximo a você alguém sofrendo, direta ou indiretamente, vítima de Covid-19, mas tenho certeza que alguém próximo a você está sofrendo de ansiedade, esgotado emocionalmente, preocupado com boletos para pagar, entre outros. Entre em contato com aquela pessoa que você tem pensado insistentemente.
Mostre que você se importa, pergunte se ela está precisando de algo. Não estou falando de ajuda financeira, embora isso seja uma opção, garanto que você trará conforto ao coração de quem o escuta e retornará em alegria. Eu vivenciei isso, há alguns dias, e foi muito gratificante poder mostrar, ligar para um amigo que fez questão de externar a alegria de ter se sentindo importante para mim. Fomos feitos para nos relacionarmos. Isso nos alimenta e justifica nosso propósito.
Não espere acontecer com alguém próximo para crer que alguém precisa de ajuda. Exerça tolerância, libere perdão, ore, seja misericordioso, estenda sua mão. As pessoas estão tomadas de medo. Fique bem para ajudar alguém, mas lembre-se de que: você é humano e tem o direito de “surtar” e precisar de ajuda. Não hesite em pedi-la, afinal, precisamos viver enquanto estivermos vivos!