Um chamado genuíno sempre irá valorizar os princípios fundamentais da Palavra em detrimento da necessidade de ser reconhecido e respeitado. A aprovação ou saudação têm as suas importâncias, mas nunca serão metas de alguém que se propõe a ser usado por Deus.
Somos chamados por Deus para manifestá-lO por meio de uma vida que inspira, levanta, desafia e fortalece pessoas. Sim, essa é a nossa meta como seus representantes na terra. Deus deseja que sejamos produtores de provas, sinais e maravilhas; almeja que sejamos provocadores de avivamentos.
O real avivamento não se limita ao quanto recebemos de Deus em uma reunião, na qual o Seu Espírito se move. O verdadeiro avivamento é determinado pelo quanto Deus toca as pessoas por nosso intermédio. Este texto simples que escrevo tem um único propósito: provocá-lo a se entregar como um sacrifício vivo e santo a Deus, entendendo a vontade d’Ele para a sua vida de forma intensa e completa.
Vejamos o exemplo de João, que afirmou: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua” (João 3.30). Outro modelo foi o do apóstolo Paulo, que demonstrou a sua decisão de viver plenamente consagrado a Deus quando considerou os seus títulos e honrarias judaicas como “refugo para ganhar a Cristo e ser achado n’Ele, não tendo justiça própria, mas a que vem por meio da fé” (ver Filipenses 3.9). A decisão de morrer para os nossos desejos demonstra a diferença de quem prefere ser uma chama em vez de ter a fama.
Quem pode ser a voz de Deus
Estamos em um mundo de consumo, banal, que não distingue com bom senso o que é verdadeiramente genuíno, principalmente no meio virtual. Infelizmente, muitas pessoas vão para alguns cultos apenas pelo consumo, desejam receber e nada mais. Tais consumistas, não se dispõem a servir, alguns sequer possuem o mínimo de comprometimento com aquilo que ouvem; analisam se o pregador os agrada, se o culto foi bom, pois, ironicamente, parece que as reuniões precisam passar pelo crivo desses espectadores que nem são adoradores.
Devemos ter cuidado para que o nosso culto não seja para o público. Toda a estrutura, em grande parte, é em função de quantas pessoas de fato iremos atrair. Sabemos que o alvo de Deus são vidas e qualquer pastor verdadeiro fica feliz em ver a “casa” cheia. Mas as igrejas do primeiro século concentravam seus esforços para saber quantas pessoas estavam de fato cheias de Deus, não em quantas pessoas elas conseguiam juntar em uma reunião. Da mesma forma, nós, como ministros do Evangelho, temos que nos concentrar em ensinar a Palavra de Deus com toda a verdade do nosso coração, enchendo as pessoas de Sua plenitude.
Jamais devemos focar mais em agradar o público ou em receber um feedback favorável, isso, é claro, sem deixar de ter um coração cheio de compaixão por vidas e ardente por Deus. Deus não busca apenas pregadores, mas Ele busca por quem possa ser a Sua voz; um coração que pulsa igual ao d’Ele, cuja percepção seja similar ao Seu coração e aos Seus atos de justiça.
Desde o ventre
Certo dia, perguntaram a Billy Graham por que ele não se candidatava para ser o presidente da república. Ele logo respondeu: “Eu jamais me rebaixaria a tal cargo, pois eu já sou um embaixador de Deus”. Somos embaixadores do céu, isso você já é, então comece a agir agora mesmo como tal. Contudo, não veja o ministério como um trampolim para o sucesso e jamais use a capacitação que Deus lhe deu para se promover, pois isso é terrível, cruel e leviano. Entenda que o seu chamado veio do Senhor, e não espere quem quer que seja provar isso para você.
Essa convicção devoradora acerca do nosso propósito é produzida pelo Espírito Santo. É uma certeza inabalável que nem o tempo, nem a dúvida, nem a perseguição ou o desânimo podem arruinar. O seu Deus que o chamou e o separou no ventre da sua mãe já o vocacionou, como está escrito em Gálatas 1.15: “Mas, quando aprouve a Deus, que desde o ventre de minha mãe me separou, e me chamou pela Sua graça”.
Não tente provar a autenticidade do seu chamado, ninguém pode produzir essa certeza no coração de alguém. Seja liberto da necessidade do “pulpitismo” e se dedique a ser a expressão do Verbo, deixando que o Senhor se manifeste através de você em todo o tempo.
O supremo modelo
Jesus, a nossa referência suprema de vida e ministério, sabia que precisava focar de maneira intensa no propósito que veio realizar aqui na terra. Ele não perdeu tempo e nem mesmo se distraiu quando a fama chegou de forma abrupta se espalhando por toda região.
“Procuravam-no diligentemente Simão e os que com ele estavam. Tendo-O encontrado, lhe disseram: Todos te buscam. Jesus, porém, lhes disse: Vamos a outros lugares, às povoações vizinhas, a fim de que Eu pregue também ali, pois para isso é que Eu vim. Então, foi por toda a Galiléia, pregando nas sinagogas deles e expelindo os demônios” (Marcos 1.35-39).
Esse texto mostra a grande expressão que o ministério de Jesus tomou, isso é inevitável, principalmente, quando temos algo verdadeiramente divino para compartilhar. Porém, a fama nunca foi o objetivo de Jesus, Seu foco era fazer a vontade do Pai, que Ele considerava a Sua comida e bebida.
Jesus vivia e respirava por meio da vontade do Pai e não da Sua própria. Quando colocamos a nossa vontade acima da de Deus, somos senhores de nós mesmos e nos tornamos guiados apenas pelos ventos que chegam ou pela nossa própria força e nada mais.
Acredite: podemos fazer coisas na nossa força e no dom natural pensando ou até afirmando que é Deus quem está realizando. Um exemplo disso é Jim Jones, um talentoso e mal-intencionado líder religioso, que através do seu dom criou uma seita, pela qual arrebanhou e matou mais de 918 pessoas nos anos 70; sua ideologia levou a um dos maiores suicídios em massa já ocorridos. Veja o que um dom e habilidade de oratória e retórica podem fazer. A força do homem e as nossas habilidades são dadas por Deus para o Seu uso, infelizmente, podem ser direcionadas indevidamente por meio de um coração desgovernado pela vaidade de executar a vontade própria.
Existe uma linha divisória entre talento e chamado, fama e chama, argumentos de natureza humana e poder de Deus transformador. Eu gostaria de pontuar dois desses princípios que nos ajudarão a permanecer na essência do nosso chamado:
1 – ORAÇÃO
Com o tempo, quem ora passou a ser chamado de religioso ou mesmo extremista. Não faço apologia a qualquer tipo de extremismo ou ignorância em nome de Deus, contudo, estamos deixando de orar e substituindo essa poderosa prática pelo entretenimento ou excesso de trabalho.
O nosso cuidado deve ser eminente, principalmente quando se trata dessa indispensável prática do céu que é a oração. A vida de profunda e constante oração e contemplação do Senhor, foi um dos grandes fundamentos de gigantes da fé como nosso querido irmão Kenneth E. Hagin, Ap. Bud Wright, Jonathan Edwards e outros.
O Evangelho de Lucas menciona a vida de oração e consagração absoluta de Jesus em quatro passagens:
- 5.16 — “retirava-se para lugares solitários e orava”;
- 6.12 — “Num daqueles dias, saiu para o monte a fim de orar, e passou a noite orando a Deus”;
- 9.18 — “Certa vez, estava orando em particular, e com Ele estavam os seus discípulos”;
- 9.28 — “Aproximadamente oito dias depois de dizer essas coisas, tomou consigo a Pedro, João e Tiago e subiu a um monte para orar”.
A esta lista, deve-se acrescentar a passagem de Marcos 1.35: “De madrugada, quando ainda estava escuro, Jesus levantou-se, saiu de casa e foi para um lugar deserto, onde ficou orando”. Ele orava mais durante a noite do que durante o dia, mais nas montanhas do que em outro lugar.
Uma coisa é certa: as orações de Cristo não eram rotineiras e cheias de vãs repetições. Influenciado pela vida de oração de Jesus, um dos discípulos lhe disse: “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou aos discípulos dele” (Lucas 11.1). Foi nessa ocasião que Jesus ofereceu o modelo universal da oração dominical e discorreu sobre a perseverança na oração e sobre a boa vontade de Deus em nos ouvir e responder (ver Lucas 11.2-13).
Jesus trabalhava, ministrava e logo se fortalecia nos seus profundos momentos de oração. Sem essa prática, comprometemos a nossa sensibilidade espiritual, pois a oração é o nosso oxigênio, fundamental em nossa vida.
Não abra mão de orar “em todo o tempo e com toda súplica” para que lhe seja dada, no abrir da sua boca, a mensagem, uma palavra poderosa, inspirada, inflamada e transformadora, não uma homilética enlatada e nem pasto congelado. No abrir da sua boca, nem sempre Deus quer falar o que as pessoas querem ouvir, mas, sim, o que elas precisam.
2 – AME A PALAVRA
“A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder” (I Coríntios 2.4).
O povo precisa de mensagem e não de massagem, precisa de transformação e não de informação. Ame a Palavra que é a sua insubstituível alimentação e nutrição espiritual. Nada se compara a um ministro que considera e prega a Palavra.
Quando a Palavra de Deus é a nossa base de vida, a consideramos como uma carta de amor de Deus por nós, tudo ganha um outro sentido; dessa forma, é impossível vê-la apenas como um livro de extração de ministrações. Além disso, os livros são bons e válidos, mas a Bíblia é insubstituível.
Quando valorizamos a Palavra e a oração, rompemos com a mediocridade e a letargia; provamos de uma vida sólida e poderosa. Promova a Palavra, “respire” oração e mantenha a sua chama acesa. Shalom!