Devia passar da meia-noite quando tudo aconteceu e o medo tomou conta de mim, mas medo de quê? Éramos três no mesmo quarto. De repente, aquele sono pesado foi interrompido. Descobri a cabeça e quando abri os olhos paralisei com o que vi: dois olhos brilhantes me olhavam da porta do quarto.
Confesso que senti uma espécie de dormência tomar conta do meu corpo. Cobri a cabeça. Em seguida, pela brecha do lençol, olhei mais uma vez. Apesar da escuridão, um fio de luz que vazava pela fresta das telhas fez com que pudesse ver mais detalhes daquela “aparição”.
Além dos olhos brilhantes, consegui ver o corpo, meio corcunda, balançando em minha direção. Paralisada de medo, recordo que não consegui sequer abrir a boca e gritar. Cobria e descobria a cabeça, sucessivamente, e lá estava aquela pessoa me observando. Na casa onde morava, não tínhamos interruptor de luz dentro do quarto. Só em pensar de levantar e ir a outro cômodo acender a luz, o pavor tomava conta de mim.
“O meu coração está acelerado; os pavores da morte me assaltam. Temor e tremor me dominam; o medo tomou conta de mim” (Salmos 55.4-5).
Grite!
Ainda que criasse coragem para acender a lâmpada, mesmo assim eu não a alcançava e caso gritasse por meu pai e acordasse minha mãe, não ia ser nada bom. Logo, preferi ficar ali, suando apavorada e quieta em vez de enfrentar minhas suposições.
Essa pode parecer uma história bem simples, mas o que quero chamar atenção é que quando a luz rompe a escuridão, o medo se esvai. Precisamos de luz para vencer nossos medos, ela nos expõe à verdade. E por falar nisso, ao romper da manhã, após os primeiros raios de sol que entraram pelas brechas do telhado iluminando o quarto, o medo se foi.
A luz do dia iluminou uma velha capa preta da Marinha do Brasil, dependurada na parede junto à porta. Presa pelo capuz e com seus botões grandes e brilhantes, quando o ventilador girava em sua direção ela balançava, as mangas compridas pareciam braços vindos em minha direção, causando um tormento bobo e desnecessário. Uma noite de sono perdida, um pavor desmedido provocado pelas sombras geradas pela escuridão e pela inércia de não enfrentar o risco de acender a luz.
De tudo isso, restaram três lições:
1. É natural ter medo em alguns momentos. Na medida certa ele nos traz segurança. Se você não sabe nadar, vai ter medo de jogar-se na água, logo, esse temor pode salvar sua vida. O que não podemos permitir é que o medo nos paralise. A Palavra diz que o Senhor não nos deu o espírito do medo e podemos confessá-la em nossa vida: “Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas de fortaleza, e de amor, e de moderação” (II Timóteo 1.7).
2. Às vezes, mesmo apavorados, precisamos nos levantar por dentro e tomar alguma atitude, principalmente quando o medo que estamos sentindo está fundamentado em suposições de nossa mente e não em fatos reais. Enfrente-o à luz da Palavra: “Eu não te ordenei? Seja forte e corajoso. Não tenha medo; não desanime, porque o SENHOR, o seu Deus, estará com você onde quer que você vá” (Josué 1.9).
3. Por fim, pode ser que você precise de alguém para ajudá-lo a “acender a luz”. O fato de eu não alcançar o interruptor não deveria ter sido empecilho para passar uma noite em pânico. Eu poderia ter gritado mesmo, chamado meu pai. Portanto, há momentos em nossa vida que falta força para nos levantarmos sozinhos. Busque ajuda! Grite pelo seu Pai e Ele sairá em seu socorro: “Busquei ao Senhor, e ele me respondeu; ele me livrou de todos os meus medos” (Salmo 34.4).
Hoje, sempre que recordo desse episódio da minha infância, penso nas lições que aprendi. Quando a luz chegou, como foi bom perceber que as sombras desapareceram! Sob a luz, a verdade resplandece.
Guarde isso para você: acenda a Luz! “A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho” (Salmos 119.105). Como? Confessando a Palavra: “Mas eu, quando estiver com medo, confiarei em ti” (Salmos 56.3).
3 Comentários
Aconteceu algo parecido comigo na infância, o monstro na época era uma samambaia, na casa do meu tio, suei a noite toda, e quando a luz chegou, vi que era apenas uma samambaia.
Oi, Rosimeire! Muito obrigada por compartilhar algo tão precioso como nossos pequenos medos das experiências da infância!
O medo é arma poderosa do inimigo.
Não ter medo é acreditar que Deus estará conosco encorajando nossas ações diariamente.