Professor de História (da Igreja, do Judaísmo) e Geopolítica da Escola de Missões Rhema, Rhema Brasil, Colégios e Preparatórios para Concursos.
O Cristianismo surgiu na Judéia, sob domínio do Império Romano e, mesmo antes da queda de Roma, começou a espalhar-se por outras regiões, por exemplo, o Oriente Médio e a Grécia. Com a queda do Império Romano do Ocidente, os povos “bárbaros” foram sendo convertidos ao Cristianismo, que se tornou a religião dominante na Europa.
Em 1054, ocorreu o Cisma do Oriente, dando a origem à Igreja Ortodoxa Grega. Essa foi a primeira divisão oficial entre os cristãos. A partir daí, os cristãos ortodoxos concentraram-se no Leste Europeu, enquanto os cristãos católicos concentraram-se no Ocidente Europeu.
Até o final da Idade Média, os cristãos católicos permaneceram sob a autoridade do Papa. A Igreja dessa época era bastante diferente da Igreja que temos atualmente, porque era ela que guiava todo o comportamento da sociedade, sem exceção, na educação, no lazer, nos negócios, na vida política, na vida familiar, nas guerras, etc.
No princípio da Idade Moderna, determinados religiosos e intelectuais passaram a criticar as atitudes de certas lideranças do clero católico – o que gerou uma reforma religiosa, resultando no surgimento de novas religiões cristãs.
Entre as várias causas da Reforma podemos destacar:
- Corrupção de muitos membros do clero católico, principalmente nos mais altos cargos.
- Desejo da burguesia em aumentar seus lucros, que eram condenados pela Igreja, e em escapar dos abusos e das críticas do clero.
- Os interesses da nobreza em tomar as terras pertencentes à Igreja e livrar-se das interferências do clero em assuntos políticos.
- Finalmente, o motivo imediato para a Reforma foi a “venda de indulgências”; conforme determinação do Papa, os bispos poderiam vender “o perdão dos pecados”.
Em 1500, os únicos cristãos que a maioria dos europeus ocidentais conheciam era a Igreja chamada Católica – A Igreja do Papa em Roma. Seus sacerdotes eram uma elite com o poder de ligar pessoas comuns a Deus. Eles mostraram milagrosas capacidades, na missa, de transformar pão e vinho no corpo e sangue de Jesus Cristo. Ainda assim, milhões de europeus estiveram ao ponto de rejeitar esta Igreja Católica por um cristianismo muito diferente. Só uma coisa poderia forçar uma mudança tão dramática. Este foi o poder de uma ideia. Uma ideia sobre algo que diz respeito a todos nós. Morte!
O Novo Testamento da Bíblia oferece uma imagem categórica. Quando morremos, vamos para o Céu ou para o Inferno, mas, para nós complexos mortais, nem tão bons, nem tão maus, a Igreja ocidental disse que poderia haver um caminho intermediário chamado purgatório – você espera lá até estar preparado para o Céu. [O purgatório é como um inferno. Ele não é um bom lugar para se estar, mas tem um tempo limite de estadia; então, você pode fazer coisas para encurtar o tempo. Você pode dar uma moeda ao mendigo e ele rezará pela a sua alma. Pessoas poderiam até mesmo deixar dinheiro em seus testamentos para pagar os impostos dos povoados. Assim, os moradores poderiam rezar por eles. É um sensacional sistema de você “coça as minhas costas e eu coço as suas”].
Por volta do século XVI, em toda a Europa, a Igreja estava vendendo certificados chamados de indulgências. Para mostrar quanto tempo no purgatório você tinha evitado. O dinheiro pago ia para novas igrejas e hospitais. Quando o papa Leão X quis terminar a reforma da Basílica de São Pedro em Roma, ele lançou uma campanha de indulgências. O dinheiro foi obtido mediante empréstimo dos banqueiros Fugger, de Augsburg, a uma exorbitante taxa de juros. Para pagar o empréstimo, o novo arcebispo Alberto de Brandemburgo recebeu do papa o direito de vender indulgências, sendo que metade dos lucros iria financiar a construção da catedral romana. O arcebispo confiou a tarefa ao melhor vendedor que pôde encontrar – o dominicano João Tetzel. Um de seus “jingles” promocionais dizia: “Logo que a moeda na caixa ecoa, uma alma do purgatório para o céu voa”. Tetzel cumpriu sua missão de modo eficiente e dramático, impressionando vivamente os seus ouvintes e convencendo-os a adquirir tão valioso bem. Para acelerar tal empreendimento, em nome do Papa, Tetzel dizia: “Se um cristão tivesse relações incestuosas e comprasse indulgências… o Papa tinha o poder de perdoar o pecado… e se ele perdoava, Deus deveria fazer o mesmo”.
Alguns podem pensar nisso como uma causa digna, mas levantou grandes questões na mente de um monge alemão, cujos os pontos de vistas sobre a vida após a morte mudariam a igreja ocidental. Seu nome era Martinho Lutero.
(…)
Através desta tabela, didaticamente, podemos comparar resumidamente algumas características de algumas Igrejas Reformadas como:
igreja | livro sagrado | salvação humana | sacramentos | rito religioso | principais áreas |
Católica | A Bíblia é a fonte da fé, devendo ser interpretada pelos padres. | Salvação pela fé e boas obras. | Sete: batismo, crisma, eucaristia, matrimônio, penitência, ordem e extrema-unção. | Missa solene. Uso do latim. | Espanha, Portugal, Itália, Sul da Alemanha, parte da França e da Irlanda. |
Luterana | A Bíblia é a única fonte de fé. Permitia-se o seu livre exame. | Salvação somente pela fé em Deus. | Dois: batismo e eucaristia. | Culto simples. Uso da língua nacional. | Norte da Alemanha, Dinamarca, Noruega e Suécia. |
Calvinista | A Bíblia é a única fonte de fé. Permitia-se o seu livre exame. | Salvação somente pela fé em Deus (predestinação). | Dois: batismo e eucaristia. | Culto simples. Uso das línguas nacionais. | Suíça, Holanda, parte da França, Inglaterra e Escócia. |
Anglicana | A Bíblia é a única fonte de fé. Devia ser interpretada pela Igreja e permitia-se o seu livre exame. | Salvação somente pela fé em Deus (predestinação). | Dois: batismo e eucaristia. | Culto. Conservou a forma católica (liturgia, hierarquia da Igreja). Uso da língua nacional (inglês). | Inglaterra. |
Chegamos em 31 de outubro de 2017, e, para nós, cristãos, iniciada por Martinho Lutero, a Reforma completa meio milênio, cinco séculos, 500 anos. Um grande fato na História da Igreja. O que foi a Reforma Protestante? O que quer dizer a palavra Reforma? Por que há quinhentos anos foi necessária a Reforma ser feita? A palavra basicamente tem o sentido de Reforma, trazendo novamente a forma, dando de novo a forma, trazendo novamente a forma àquilo que perdeu a forma. Isso é Reforma. Trazer de novo a forma. E por que é necessária uma REFORMA? Só é necessária uma REFORMA quando ocorre uma deforma. A deforma é aquilo que perde a sua forma. Foi deformado. Perdeu a sua forma. Aquilo que perde a sua forma faz-se necessária haver uma Reforma. Trazer de novo a forma. Mas, antes que haja uma deforma, é necessário que haja uma forma – identidade, formato, perfil, padrão).
Antes da Reforma Protestante, a Igreja primeiro tinha uma forma (a Festa de Pentecostes acontecia 50 dias após a páscoa e celebrava os primeiros frutos, as primeiras colheitas; nesse período dessa festa judaica, é o onde o Espírito desce. Ali nasce a Igreja de Cristo, em Atos 2:1. Já no verso 42 em diante, começa a ganhar a sua forma, nas bases, fundamentos e padrões na Doutrina dos Apóstolos). Revisitemos os ensinamentos dos Apóstolos, receberam de Jesus Cristo, enquanto esteve com eles nos três anos e meio. Em Atos 9, com a conversão de um homem da Silícia, um fariseu de fariseu da tribo de Benjamim, discípulo de Gamaliel, Saulo tem um encontro com o Senhor a caminho de Damasco, ali ele se converte. Levanta-se, então, o homem responsável pela espinha dorsal doutrinária da Igreja. Através de Paulo, a Igreja vai concluir a sua forma doutrinária fundada na justificação somente pela fé!
Lutero colocou o Cristo crucificado e ressuscitado no centro da pregação e do ensino da Igreja. Apontar para Cristo significava, ao mesmo tempo, enfatizar o “somente a graça”, em Cristo, “somente pela fé”, em Cristo, e “somente a Escritura”, que ensina Cristo. ReForma foi e ainda é dar destaque à pessoa e à obra de Cristo. Se o centro das atenções for Lutero, algo está errado. Sejamos conforme Cristo.
Soli Deo Gloria!
Shalom.