Na maioria das vezes que me sento para escrever, eu já sei como vou começar, porque as palavras já estavam fluindo dentro de mim e, por isso, corro para ligar o computador ou pegar qualquer pedaço de papel que esteja por perto.
No entanto, existem momentos em que escrever é minha terapia. Me atrevo a dizer que faz parte da minha intimidade com o Senhor (algumas compartilhadas para outros, algumas que deixamos só entre nós). Esses momentos começam com as páginas em branco me encarando, uma música de adoração tocando e apenas uma leve percepção lá no interior – seja uma palavra, uma imagem, algo que Deus quer compartilhar na totalidade comigo, mas eu ainda não consegui entender; aí ele me impulsiona para a escrita, afinal me conhecendo como ninguém, Ele sabe que funciona. Nesses momentos, não diria que meu texto é bem elaborado, mas faço o possível para que seja bem compreendido.
Dessa vez, tudo começou com meu amigo morador de rua, o qual até hoje não sei o seu nome e, sempre que pergunto, ele resolve falar em outras línguas comigo que por certo não tem nada de celestial nelas. Basicamente nossas conversas acontecem mais ou menos assim:
Eu: “Bom dia amigo!”
Ele: “Bom dia, bom trabalho! Deus te abençoe hoje…”
Como estou indo à academia, aceito sem retrucar o “bom trabalho”, pois realmente dá trabalho. Na volta eu digo: “Tchau amigo”, ou tento tirar a cabeça dele de fora do meio fio para que nenhum carro passe por cima. Quando desacordado, ele apenas refuta meus puxões querendo ficar em paz. Quando acordado, solta as línguas dele e o pouco que eu entendo é que ele me conta sobre algum parente que está em Goiânia (GO)… Saio pensando na dor dele, em como se afundou nela e se a mudança que ele precisa é possível. Sem duvidar da capacidade de Deus de mudar completamente a pior das histórias, mas hesitante sobre a capacidade humana de passar pela dor da mudança.
Somos inclinados diariamente a nos rendermos às nossas limitações, temperamentos e/ou desculpas para não passar pelo sofrimento da essencial mudança, do crescimento ou do amadurecimento.
Nosso cérebro, sempre buscando nos poupar energia, já diz logo que será mais fácil e tranquilo continuar onde estamos do que partir para a desconhecida nova fase. Falo isso sobre mudanças que nos tiram da zona de conforto, porque sei bem quantos aleluias são dados quando um pregador exclama que Deus estará nos levando para uma nova fase de bênçãos, vitórias e conquistas. Ainda não vi ninguém que saísse correndo feliz ao ouvir uma profecia sobre tempos de pressão e dificuldades. Essas são mais quietas.
Foi assim que após sair da academia outro dia, me peguei com um forte desejo de voltar atrás em uma decisão que eu já havia tomado. Por medo da dor do voo e uma enorme vontade de permanecer no meu lugar de conforto, que para o meu amigo é a beira da calçada. Eu tinha medo da solidão, de me ver sem as escoras que coloquei na minha família e amigos. Ansiosa pelo futuro e já imaginando todas as possíveis piores situações que estariam por vir, porque, é claro que minha mente fragilizada, naquele momento, estava propensa a ouvir o diabo. Ela não iria me inclinar a sonhar com todas as boas possibilidades que poderiam vir pela frente.
Não se escandalize por eu escutar o diabo, você também escuta, todos os dias. A diferença ocorre quando nosso espírito está forte, firmado na Palavra e nosso corpo está saudável para também não fragilizar nossas outras áreas. Dessa forma, somos capazes de resistir a essa voz sagaz que tenta nos convencer de que Deus está errado ao nosso respeito. É ousadia e estupidez dar lugar a esses pensamentos, mas, muitas vezes, eles não vêm tão descaradamente com o diabinho vermelho sentado em nossos ombros, não é mesmo?
Vamos adiante…
Em qual parte parei mesmo?
Ah, sim, na vontade de desistir de uma decisão…
Bem, nos poucos 5 minutos da academia até a minha casa, coloquei no Spotify a música “Sobre as águas – Trazendo a Arca” e fui cantando em alto e em bom som enquanto as lágrimas escorriam (e, de cima, Deus provavelmente ria da sua filha chorona). A música acabou e a playlist seguiu para “Aclame ao Senhor – Diante do Trono”.
As lágrimas cessaram enquanto, com minha quietude reflexiva na letra, o Senhor começou a me lembrar: “Esse aí sou Eu. As minhas promessas são incomparáveis. Eu fiz tudo isso. Você esqueceu que sua dependência está em mim? Está pensando que vai ficar sozinha? Filha, você se lembra da minha promessa? Eu nunca vou te deixar. Você não tem garantia nenhuma quanto aos demais, mas a minha você tem e é nela que precisa se firmar”. Dentre outras coisas que não vou ficar falando tudo aqui, porque a “surra” quem levou foi eu (risos). Apenas cheguei em casa “pianinha” (como diria minha mãe), estacionei e permaneci ali caladinha por um tempo.
Ainda sem a conclusão do que falta aqui, meditando sobre essas meditações (você entende, não é?), lembrei-me do nosso amado pastor Bud, das várias pregações que já vi ou ouvi, ele falando de todo o coração sobre o Senhor enquanto as lágrimas escorriam dos olhos. De uma vez em que ele chorando mostrava à igreja que Deus nunca nos deixará sozinhos. Do amor dele pelo Senhor: apaixonado, firmado, inabalavelmente cheio de convicção da fidelidade de Deus e Seu amor para conosco. “Esse foi o segredo para ele ter sido o grande missionário que foi”, pensei eu.
Na verdade, esse foi o segredo para Bud Wright ser o admirável cristão que foi. Ele era inabalável às circunstâncias, não porque não vinham pensamentos negativos a ele, mas, porque, quando vinham, ele conhecia Deus profundamente a para dizer: “Meu Pai celestial me disse outra coisa e eu confio n’Ele mais do que em qualquer um”. Era inflexível nas pressões, porque mantinha sempre vivas as promessas do Senhor, sabendo que iriam se cumprir.
Pastor Bud era incapaz de desistir, porque amava o Senhor mais que tudo. Seus alicerces estavam em Deus e assim ele seguia em frente, sem temor; o maior já estava indo a sua frente. Assim, ele se tornou inexorável quanto aos pensamentos de retrocesso, porque mantinha seus olhos fitos no Senhor e sabia do olhar de expectativa com o qual o Pai o olhava, torcendo por ele em cada fase e garantindo: “Estou com você”.
Depois disso eu preciso somar meu pensamento duvidoso quanto ao meu amigo, com minha vontade de desistir, para afirmar: falhas minhas. Quando estou olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé (ver Hebreus 12.2), não tenho dúvidas quanto ao poder do Seu sacrifício para restaurar qualquer vida. Não hesito quanto às suas direções, tão pouco tenho medo de permanecer. Quando meus olhos estão firmes n’Ele, estou fortalecida para me desembaraçar de todo peso e do pecado que tenazmente me assedia.
Estou firme para desistir de desistir e continuar olhando para Ele na corrida do meu propósito.
Expor minhas imperfeições, erros e vergonhas é doloroso. Passar por elas e imaginar que não foram as últimas, que dia após dia terei mais pensamentos negativos para vencer, mais pecados para resistir, mais aprendizados que vão querer me condenar, é desesperador.
O conforto do ninho, do lugar que já está quentinho com minha estagnação é prazeroso. Entretanto, o exemplo do pastor Bud e do apóstolo Paulo me lembraram, uma vez mais, a forma correta de passar por cada dia: olhando para cima. Para o autor e consumador da minha fé. Olhos e coração firmes n’Ele, pensamentos alicerçados na sua Palavra e no Seu amor. Quando olho pra o meu Pai, sei quem sou, como sou e o que posso fazer.
Quando firmo meus olhos n’Ele, não me deixa esquecer que é tudo sobre Ele, por Ele e para Ele. Se precisar, quando estiver difícil, passarei a marcar cada hora passada em perseverança nessas constatações, para que eu nunca mais esqueça quem me comissionou e me olha com expectativa aguardando meu próximo passo: meu eterno e primeiro amor. Meu Pai celestial.
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Amém!!