Seu pastor comprou uma Ferrari!

por Eduardo Menezes (Recife-PE)
*Secretário da Coordenação Doutrinária 

“Fazei tudo sem murmurações nem contendas, para que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo, preservando a palavra da vida” (Filipenses 2.14-16a).

“Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou” (João 17.15-16).

“O maior milagre que Deus pode fazer é tirar um homem profano de um mundo profano, torná-lo santo, colocá-lo de volta em um mundo profano e mantê-lo santo.” Leonard Ravenhill.

“Não se ajustem demais à sua cultura, a ponto de não poderem pensar mais. Em vez disso, concentrem a atenção em Deus. Vocês serão mudados de dentro para fora. Descubram o que ele quer de vocês e tratem de atendê-lo. Diferentemente da cultura dominante, que sempre os arrasta para baixo, ao nível da imaturidade, Deus extrai o melhor de vocês e desenvolve em vocês uma verdadeira maturidade”. (Romanos 12.1-2).

Qual seria a sua reação à notícia posta como título desse texto?

Sabemos que, se o propósito de termos sido salvos fosse nos levar para o céu, seríamos arrebatados tão logo confessássemos Jesus como Senhor. Mas cá estamos nós, no meio de uma geração pervertida e corrupta; não com a missão de nos esforçar para fazer o melhor que pudermos para não nos contaminarmos com o pecado e, finalmente, ir pro céu. Não! Antes, com o claro propósito de nos santificarmos para que possamos resplandecer como luzeiros no meio dela (Filipenses 2.14-16a).

Tanto é um fato que fazemos parte de uma sociedade, como é uma verdade que podemos ser influenciados por ela e nos ajustarmos à cultura nela dominante.

De acordo com o IBGE[1], em 1940, os protestantes eram 2,4% da população brasileira. Hoje, somos 22%, com a projeção de superarmos em número os católicos em 2032. É muito provável então que, assim como eu, que nasci em 1980, você não deva ter nascido num lar cristão. Compartilhamos de uma cultura muito similar, de tradição católica, para a qual pobreza é virtude, sinal de humildade, sobretudo para quem é padre. Sacerdócio e prosperidade financeira são, portanto, diametralmente opostos.

Viemos do mundo, dessa cultura, e durante muito tempo tivemos como “pão diário” o que é produzido pela grande mídia, o que fez com que os padrões de pensamento propagados continuamente nos meios de comunicação em massa se enraizassem no nosso inconsciente, padrões em tudo divergentes dos do Reino de Deus. Agora, nascidos de novo, precisamos renovar a nossa mente, deixando para trás não apenas velhos hábitos, mas também pensamentos próprios dessa cultura.

O retrato que a mídia pinta do pastor, construída a partir de maus testemunhos pontuais, é o de uma pessoa despreparada, que, já que “não deu pra nada na vida”, se dedica a aprender o suficiente da Bíblia para extrair dos mais vulneráveis (pobres sem estudo, ou até os de boa formação, mas ingênuos, que se deixam seduzir pela lábia do pastor) tanto dinheiro quanto puderem. É com esse tipo de informação que se abastece e orienta a sociedade para a desvalorização, e até ridicularização, dos evangélicos, e muito mais da figura do pastor.

Outro traço marcante da cultura do mundo — da qual não somos, mas ainda estamos — é a aceitação natural de manifestação de riqueza por aqueles que, com afinco, se dedicaram aos estudos e tomam decisões com o potencial de dirigir destinos, como magistrados, ou se dispõem ao exercício de profissões ligadas à saúde humana.

Outro grupo em relação ao qual se vê manifestação de riqueza sem um viés crítico e preconceituoso são os artistas e atletas de alto rendimento, como jogadores de futebol, “abençoados” com determinada habilidade natural.

Vamos fazer um teste? Qual a sua reação diante da notícia de que um pastor acaba de comprar uma Ferrari igual à do Neymar? E um pastor comprar um avião igual ao da banda Iron Maiden? E se você soubesse que a prebenda do seu pastor é igual ao salário de um juiz de direito (uns 38 mil por mês), que tipo de pensamento passaria na sua mente?  Suas respostas podem revelar resquícios de uma mentalidade mundana.

Agora pense sobre algo comigo: para quantos lugares esses atletas e artistas viajaram para pregar o Evangelho e levar assistência a necessitados, dando cumprimento ao “ide” de Jesus? Ainda nessa perspectiva, se o médico é digno de reconhecimento por cuidar de vidas, não quereria Deus que também seus ministros, cuja missão é tornar a vida eterna disponível a todos os homens, desfrutassem do que há de melhor desde que isso não tivesse os seus corações? Se um juiz toma decisões com o potencial de afetar vidas inteiras, quiçá de toda uma sociedade, quanto mais o pastor, que, com uma única Palavra de Deus inspirada, pode libertar pessoas de vícios, do medo e do pecado, e colocá-las novamente nos trilhos para o cumprimento dos planos de Deus aqui na terra?

Nas igrejas norte-americanas, pastores vivendo uma vida em abundância financeira e andando no melhor de Deus são, para eles, uma bandeira, um sinal de orgulho que diz: “Sim, cuidamos bem do nosso pastor porque ele, além de ser um ungido de Deus, também cuida bem de nós. Se há aqueles que não conhecem a Deus e que servem a propósitos errados andando no melhor, muito mais o nosso pastor, que serve a Deus e está empenhado em fazer avançar o Reino de Deus!”.

Não sou contra a meritocracia, a valorização de quem se dedicou aos estudos ou da “graça especial” de artistas e atletas. Pelo contrário! Eu sou servidor público, que “ralou” muito para passar num bom concurso. Também sou dos que admiram os médicos, juízes… O contraponto que faço é em relação a como fomos educados para valorizar apenas a dedicação à educação formal e aceitar com naturalidade que até mesmo artistas e atletas recebam salários astronômicos quando o que eles realizam não tem sequer o potencial de construir nada de eterno na vida dos homens.

Com efeito, precisamos estar atentos para que também nós não nos escandalizemos, como fazem os que são do mundo, com sinais de prosperidade financeira na vida de um pastor. Eles têm a desculpa de desconhecerem a importância desse ofício, mas nós, não.

Com o início da pandemia da Covid-19, veio uma enxurrada de notícias aterrorizantes por parte da grande mídia, como se a quantidade de notícia sobre contaminação e mortes fosse sinônimo de cuidado com a vida das pessoas. Foram plantões de notícias que levaram pânico àqueles que já se viam obrigados a ficar em casa. Seguiram-se os decretos estaduais e municipais, vedando a realização presencial dos cultos. Foi quando, então, que vimos o quanto ter um pastor (e seus auxiliares) é importante.

Na minha igreja, o pastor montou um esquema de guerra. Para equiparar “armas” com os boletins de contaminação e mortos, ele também organizou boletins, só que da fé, para nos cercar de convicção, de ânimo e encorajamento. Eram duas ministrações diárias, além dos cultos, também transmitidos ao vivo. A atuação na assistência social também aumentou, mas o foco mesmo foi blindar nossa mente do medo. Foi muita Palavra! Um bom pastor sabe que é Ela quem vai fazer a diferença nesse tipo de situação.

Foi um tempo em que vimos a manifestação da diferença entre o que serve e o que não serve. No mundo, aumento de violência doméstica; na Igreja, lives da Escola de Casais com testemunhos de laços matrimoniais ainda mais estreitados. No mundo, pânico e incertezas sobre o futuro; na Igreja, certezas de que Deus não foi pego de surpresa e de que o melhor estaria por vir, vindas de profecias que só viemos a entender com mais clareza depois que tudo aconteceu.

Foi o nosso pastor que, mesmo sem saber e antes de tudo isso acontecer, nos preparou para atravessarmos a pés enxutos esse mar diante de nós. Foi ele que, durante a pandemia, estava lá, “queimando” no púlpito, animado com a Palavra e debaixo da unção, “mandando” nos levantarmos do sofá e erguer as mãos, mostrando que fé é para momentos como esses.

É comum alguém que ainda está no mundo pensar que, para ser pastor, basta ter carisma e conhecimento decorado da Bíblia de Gênesis a Apocalipse. Mas nós sabemos que o ofício pastoral, exercido no padrão bíblico de excelência, demanda uma vida abnegada, de busca ao Senhor, e o exercício constante do amplo espectro de habilidades relacionadas à liderança e administração. Além disso, para que alguém esteja à altura de exercer o ofício pastoral de maneira eficaz, mesmo em momentos pelos quais nossa geração nunca passou, é necessário preparação.

Quando falo de preparação, não me refiro à intelectualidade, como ter um bacharelado ou especializações em Teologia ou divindade — sem desprezar-lhes a importância. Falo, porém, de uma preparação no conhecimento de Deus, e não sobre Deus; de uma preparação que vem de com Ele andar, baseado, sim, nas Escrituras, mas também de já ter percorrido caminhos com o Senhor, submetendo-se a processos que nos levam a experiências práticas com a Sua personalidade, Seu caráter, Sua mente e o Seu coração.

Esse conhecimento não está na superfície das Escrituras e tampouco é descortinado pela mente humana. Antes, é revelado do coração do Pai ao do filho. Isso vem do andar em perseverança e fidelidade ao Senhor, de ser experimentado em confiança na Palavra e nas instruções do Seu Espírito. É algo que não se adquire do dia para a noite, porque demanda abnegação e dedicação a uma vida de oração vigorosa, fervorosa, e tudo isso feito com um propósito firme. Há muitos jovens com boas ministrações nas plataformas digitais, mas um pastor maduro, experimentado na fé, ousado na arena dos dons do Espírito e capaz de trazer para o rebanho o alimento de que ele necessita, não se encontra em toda esquina, não.

Há muito mais por trás do ofício do pastor, que vai além do que é desenvolvido atrás de um púlpito (como aconselhamento individual para as situações práticas da vida e para as crises humanas), mas creio que já temos razões suficientes para valorizar aqueles que exercem esse ofício. O que quero deixar para reflexão é: se nosso pastor manifestar riqueza material, vamos ficar com a “pulga atrás da orelha” achando que “ele está roubando”, como o mundo pensa, ou, por estarmos tão convencidos do seu valor, teremos orgulho não apenas de sua situação financeira, mas também nos regozijaremos pelo privilégio de promovê-la?

Obviamente, essa não é uma tentativa de justificar pastores que andam em arrogância, luxúria e ostentação, mas é imperioso reconhecer que, mesmo nessas situações, o grau de renovação da nossa mente é provado no tocante a quanto valor reconhecemos na missão desempenhada por cada membro da sociedade em que vivemos.

[1] Disponível em: <https://veja.abril.com.br/brasil/evangelicos-devem-ultrapassar-catolicos-no-brasil-a-partir-de-2032/>. Acesso em: 30/07/2020.

2 Comentários

  • Visão relevante de uma verdade estabelecida pela sociedade e criada até mesmo pela mente de alguns participantes do corpo de Cristo….concordo e todos os contrapontos…tudo o que foi escrito é uma grande verdade se concordarmos ou não, isso TB continua sendo verdade e ninguém vai gozar de uma alegria e plenitude da presença de Deus dando frutos em todas as áreas da sua vida…como educação dos filhos, finanças,uma graça inexplicável operando em todo tempo, no favor, na saúde,nas pessoas que se aproximam, para fazer o Reino de Deus e sua Justiça se manifestarem de forma equilibrada…falhamos em alguns momentos mas, não permanecemos em erros que nos distanciam da palavra de Deus mas, rendemos graças por todos os homens e mulheres de Deus que contribuem para obra de Cristo crescer .

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  • Visão relevante de uma verdade estabelecida pela sociedade e criada até mesmo pela mente de alguns participantes do corpo de Cristo….concordo e todos os contrapontos…tudo o que foi escrito é uma grande verdade se concordarmos ou não, isso TB continua sendo verdade e ninguém vai gozar de uma alegria e plenitude da presença de Deus dando frutos em todas as áreas da sua vida…como educação dos filhos, finanças,uma graça inexplicável operando em todo tempo, no favor, na saúde,nas pessoas que se aproximam, para fazer o Reino de Deus e sua Justiça se manifestarem de forma equilibrada…falhamos em alguns momentos mas, não permanecemos em erros que boa distanciam da palavra de Deus mas, rendemos graças por todos os homens e mulheres de Deus que contribuem para obra de Cristo crescer .

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