Suéllen Bittencourt Costa Braz é graduada do Centro de Treinamento Bíblico Rhema em Taguatinga, Brasília (DF), da turma de 2013, e da Escola de Ministros 2017. Ela é casada com Christiano Braz; filha de José Inácio Costa e Ruth Bittencourt. Nesta entrevista, ela relata sua experiência em perdoar a sua mãe, após concluir o Rhema.
PORTAL: Conte um relato sobre a sua experiência com a sua mãe: onde esse relacionamento se quebrou?
SUÉLLEN: Meus pais se separaram quando eu tinha uns 5 anos. Eles tiveram duas filhas, Jemima e eu, que sou a primogênita como meu pai me chama. A separação deles me obrigou a amadurecer muito rápido, embora sem entendimento do que estava acontecendo. Isso teve um lado bom, mas além do “peso” de ser a mais velha, tive que vivenciar coisas que não eram adequadas para uma criança da minha idade. Sequelas dessa experiência, marcaram minha infância e adolescência. Lembro do meu pai nos levar à igreja, ele registrou essa memória como um exemplo de fé.
Diante do meu desejo pelo Evangelho, queria aceitar a Jesus. Naquele tempo, eu não sabia que poderia fazê-lo em minha casa, então eu queria ir à igreja, fazer minha confissão, pois achava que só assim estaria O aceitando corretamente, mas tinha vergonha e ao mesmo tempo sede de Deus. Como ir à igreja se não fosse com meu pai? Aos 9 anos, venci a timidez e aceitei Jesus, na Assembléia de Deus, em Taboquinha do Goiás, onde meu tio Lili era pastor. Foi a decisão mais importante em minha vida!!! Lembro que quando cheguei em casa, minha mãe estava com dor de cabeça e orei por ela nesse dia. Com meus pais separados, eu e minha irmã morávamos com minha mãe. Nessa época, eu ouvia muitos comentários negativos sobre ela e isso foi gerando uma raiva, uma angústia tanto pela separação e uma saudade de ir aos cultos. Não entendia nem aceitava o motivo dela não ir.
Então, fugi de casa, para morar com meu pai, eu queria seguir a Cristo e também estar com ele. Já tinha tudo planejado, o horário, quando ela não estaria em casa, a desculpa para sair, qual seria ônibus, as moedas para passagem já vinham sendo guardadas e o que eu que levaria. Aproveitei o momento em que a minha mãe estava indo trabalhar, e ainda lhe pedi um abraço. Eu sabia que aquele abraço era uma “despedida”, já estava tudo articulado na cabecinha de uma criança de 11 anos. E não, não foi nada combinado com meu pai. Coloquei em uma mochila apenas as roupas que eu mais gostava e escondi entre os livros da escola. Me lembro de ter escolhido um conjunto que daria para ir servir a Deus e era ideal para ir à igreja. Aquele foi o primeiro dia que andei de ônibus sozinha, mas graças a Deus não foi o último abraço da minha mãe.
Desde então, meu pai me educou nos caminhos do Evangelho e eu sou muito grata a ele e sua esposa, pois tiveram um papel fundamental em minha criação e caráter. Mas não significa que minha mãe era ruim. Também tenho memórias afetivas com ela, antes de fugir. Lembro de pegarmos pinheiros para árvore de natal. A batatinha com ketchup, bife, arroz branco e salada era tradição. E aquela a calda de chocolate para o bolo de cenoura, que não tinha leite, que delícia! Nossos passeios no tradicional Parque da Cidade de Brasília, a piscina de ondas, andar de patins na pista de gelo. Ela precisava trabalhar fora, e no fundo, hoje posso entender que sentia era sua ausência. Sair de casa foi muito difícil também para mim. Era como se eu tivesse abrindo mão da vida que tinha, de quem amava, minha mãe e minha irmã, para seguir a Cristo com meu pai. Esse era o sentimento que tinha, mas era meio confuso internamente. Éramos minha mãe, eu e a Jê. E lá estava eu indo morar com meu pai, sua esposa e mais quatro irmãos, na chácara, onde também teria lá seus desafios.
Meu pai era mais firme, minha mãe mais liberal, ela nunca me bateu, ao menos que me lembre rsrs. Era como se eu estivesse fazendo um grande sacrifício, abrir mão dos “Sim’s” que recebia dela (a mordomia que tínhamos em casa, sempre tinha alguém cuidando de nós enquanto ela trabalhava, eu não tinha obrigação de lavar um prato, assistia TV colosso, filmes, sessão da tarde, dividia minhas coisas apenas com uma irmã, músicas que gostava de ouvir e etc) para receber os “Não’s” dele (um estilo diferente, mais firme, com as doutrinas da igreja, com minha mãe eu usava certas roupas, já na casa do meu pai, era diferente. A Assembleia não permitia calça para mulheres, como seria dividir o quarto com mais pessoas?) Como seria essa nova fase? Uma criança dividida entre os prazeres da carne e seguir a Cristo? Esse foi o sentido literal mesmo, porém eu já estava decidida. Há certas decisões que desde pequena penso muito, para não voltar atrás, e nada me mudaria naquele dia, estava certa do que faria, só não sabia das consequências internas. Talvez essa decisão há tempos tenha me ajudado a entender e obedecer ao regulamento do Rhema com facilidade. É um treinamento para vida.
PORTAL: Qual a importância do Rhema na sua vida?
SUÉLLEN: Eu exalto a Palavra de Deus que aprendi no Rhema, porque foi através do conhecimento que muitas coisas fizeram sentido para mim. Mesmo estando no Evangelho desde criança, conseguir liberar perdão para a minha mãe não foi algo simples. Lá, aprendi que o perdão, literalmente, é uma decisão e não um sentimento. Eu vivi isso na prática. Quando esse perdão é verdadeiro, baseado na Palavra, e quando a gente decide andar em amor, relacionamentos são restaurados. O Rhema foi um divisor de águas na minha vida. Hoje, sou uma Suéllen totalmente diferente da Suéllen antes de conhecer a Palavra revelada. Isso não significa que a bagagem que eu tinha no Evangelho anteriormente não era boa, e sou muito grata por ter crescido em um lar cristão, tenho raízes. Mas, no Rhema, mergulhei em águas mais profundas.
Pude conhecer Deus mais profundamente, e entendi o verdadeiro conceito de paternidade. Antes eu tinha uma visão de que quando eu errava, Deus estava com um cajado pronto para me punir. Acreditava que Ele era favorável a colocar doença em alguém para corrigi-lo. Eu não tinha experimentado a paternidade de poder descansar nos braços de Deus como meu Pai, eu O via como um ser muito distante, embora eu quisesse a presença d’Ele. Fugir de casa, embora estivesse crescendo no Evangelho, ativa na igreja, nos departamentos, não resolveu minhas questões interiores. E reconheço que desobedeci minha mãe também, e isso gera consequências. Deus é amor e não existe Evangelho sem perdão.
PORTAL: Como a família pode ser restaurada através do conhecimento da Palavra?
SUÉLLEN: A família será restaurada por meio da prática da Palavra de Deus. Mas isso só vai acontecer se ela tiver acesso ao conhecimento e revelação dessa Palavra, pois quem convence é o Espírito Santo. Esse conhecimento sem prática não terá valor algum. Somos abençoados ao praticar a Bíblia. Meu relacionamento com o Espírito Santo hoje é outro, hoje nós conversamos. Antes eu tinha medo de blasfemar contra ELE e perder minha salvação, então não usufruía do que já estava disponível para mim. Mas foi Ele quem me convenceu através da Palavra. Só quem vive esse relacionamento entende como é maravilhoso. Perdão não é sobre o próximo, é sobre você. Como posso dizer que amo a Cristo com mágoas? Deus é um bom Pai e nos entende. Eu gosto de ler, e Ana Helena, esposa do pastor Joselito, (não posso deixar de expressar minha gratidão ao sim deles a Deus), através deles o Rhema veio para Brasília. São presente de Deus, exemplo para nós.
Eu nasci em um lar evangélico, mas só vim ter um bom relacionamento com a minha mãe após eu fugir de casa, quando estava cursando o Rhema. Quando liberei perdão, isso me libertou. Como é maravilhoso não falar sobre perdão, mas viver de fato. Meu pai me criou com bastante firmeza, porém era presente também. Me lembro dele apoiando meus estudos, esperando chegar de madrugada em casa da faculdade, nosso torneio de queimada na escola e tantos momentos bons, e isso me ajudou a ser quem eu sou. Ele casou novamente e teve mais filhos com sua atual esposa, tenho 5 irmãos hoje. Tenho a consciência que sempre honrei e honrarei ao meu pai. Eu sei da importância da minha família, e mesmo distante, amo meus todos os meus irmãos e desejo o melhor de Deus para cada um deles. Também sou muito grata a Fran, que me apresentou o Rhema quando cuidava do meu cabelo.
Eu creio que por causa da unção e influência que pessoas carregam pelo Espírito Santo, ambientes também são transformados e quem está perto também pode ser alcançado. O perdão também quebrou barreiras e pude me reaproximar não somente da minha mãe, como dos meus avós maternos. Sou tão grata à Deus por essa restauração. Pude estar mais perto do meu avô Adolfo e antes dele partir, ainda internado naquele hospital, tive não somente a coragem, mas ousadia concedida e disponível através da Palavra de Deus, com muito amor orei junto com ele e meu avô aceitou a Jesus. Na madrugada do dia seguinte, ele partiu. Deus falou comigo enquanto eu cantava debaixo do chuveiro após quase dois dias direto no hospital. Eu havia colocado uma música aleatória, ela acabou e começou a tocar “Além do Rio Azul, as nuvens são de ouro e de cristal; morte e choro, tristeza e dor, nunca mais”. Uma nota de alegria me preencheu e comecei a sorrir e orar no Espírito e então liberei meu vô com muita paz em meu coração. Sabe quando às vezes aparece algo em seu coração que desde criança você tem medo? Eu tinha um medo de ter que orar em um velório, mas em minha mente, orava e o morto ressuscitava e muitas vidas aceitavam a Jesus, mas isso era um medo misturado com algo que ardia em meu peito quando criança, quando essa imagem passava em minha mente, eu logo pensava, é só aqui em minha cabeça. Então, minha mãe falou comigo e perguntou se eu poderia fazer uma oração no velório do meu vô, porque não teria nenhum pastor lá. Minhas pernas tremeram, lembrei do que mencionei acima e lembrando de tudo isso para dar essa entrevista, posso dizer uma coisa: Só pode ser Deus!!! Olha o que o perdão faz!!! Meu vô aceitou a Jesus antes de partir e em seu velório eu li uma carta que não consegui completar, porque chegaram para levá-lo. Mas sei que a semente foi plantada e pude falar de Jesus também. Olha o resultado do perdão, veja o resultado da Palavra, veja o que Jesus fez, veja o que Jesus faz!!! Através do perdão e reconciliação com minha mãe, tive o privilégio de ver meu avô aceitando a Jesus antes de partir. Deus é muito lindo e se tem algo que nunca deixou de arder em nosso coração, Ele vai cumprir.
PORTAL: Como era a relação com sua mãe e a partir de quando essa relação foi mudando?
SUÉLLEN:
Quando fugi de casa, lógico que minha mãe não aceitou, tivemos muitos conflitos, e isso gerou muita mágoa em mim, e a nossa relação se desgastou bastante. Sei que muitos dos comentários ruins que ouvia sobre ela, eram falta de sabedoria de quem falava, mas prejudicou muito a nossa relação, eu não tinha maturidade o suficiente.
Havia um forte ressentimento e muita mágoa em mim desde pequena, por isso, fui me
afastando cada vez mais da minha mãe. Esses sentimentos permaneceram em minha
infância e adolescência, mas quando tive a revelação da palavra e vivi o perdão. O jargão de Gabriela (personagem do escritor Jorge Amado) o “Eu nasci assim, eu cresci assim, vou
ser sempre assim, Gabriela”, não foi para mim. Não aceitei para minha vida! Pois quando tomei a decisão aos 9 anos, eu nasci de novo e me permiti ter a vida de Deus em mim e conhecer
mais d’Ele no Rhema. Há fases em nossa vida. Deus é tão inteligente e único que não
“joga” o conhecimento em uma só vez. Em nosso caminho para o alvo, precisamos
passar pelo processo onde vamos sendo moldados. Conhecer e experimentar o amor do tipo de Deus mudou a minha vida! Esse amor é diferente. Esse amor não considera os erros da pessoa. É um amor que não pode ser comparado com o amor humano.
Eu acho que não conhecia esse amor de perto, mas depois que eu conheci o Rhema, tive a oportunidade de conhecê-lo e isso refletiu não só na minha relação coma minha mãe, mas em todas as áreas da minha vida. Percebi que agia com a minha mãe de forma muito imatura, eu era muito infantil, dura, mas já me perdoei também por causa disso. A Palavra me ensinou a perdoar a minha mãe, mas também a perdoar a mim mesma por ter tido essa quebra de relacionamento, que prejudicou inclusive a minha relação com meus avós e tios. Eu carreguei uma culpa e julgamento muito grande. Para muitos, eu era a filha desobediente e isso me machucou muito, por muito tempo. Tinha me afastado da família por parte da minha mãe, mas isso também foi restaurado.
PORTAL: Quando você se sentiu capaz de perdoar a sua mãe?
SUÉLLEN: Esse perdão não nasceu da noite para o dia. Ele foi acontecendo gradativamente, à medida que eu fui ouvindo a Palavra, praticando-a e fazendo as declarações de fé. Fui buscando respaldo na Bíblia e as coisas foram acontecendo de forma natural e gradativa. Não foi um momento de “descarrego, uma palestra ou ritual e pronto, está feito”. Foi fluindo, tanto é que não existe uma data do dia que liberei perdão. Quando casei, a minha mãe participou ativamente dos preparativos. Ela tem um talento enorme, gosta bastante de artesanato, me ajudou a organizar muitas coisas quando estava noiva. As coisas de Deus têm leveza e não peso. Sentimos paz no coração. Essa é a nota do Espírito Santo.
PORTAL: Como se deu todo o processo?
SUÉLLEN: Cresci, amadureci, conheci o Senhor mais profundamente e a Sua Palavra, então, o perdão chegou após tudo isso. Eu acho que nenhuma criança deseja ver seus pais separados, quem mais sofre em um divórcio são eles. Hoje sou casada e sei o quanto há suas fases desafiadoras. Eu não queria ver meus pais separados, e achava que a minha mãe era a vilã da história, mas considerando minha imaturidade e inexperiência de vida, entendo um pouco como reagi a tudo isso. Com olhos de uma mulher adulta hoje, vejo como é desafiador em nosso mundo atual ser mãe, ter a jornada de trabalho profissional, cuidar do lar, ser presente, igreja, família, estudos e tantos compromissos. Meu olhar para falta que sentia da minha mãe quando pequena, hoje é de compreensão acolhimento, também sou mulher, a entendo na prática. Ela imprimiu uma memória em mim com essa participação que jamais será apagada: as lágrimas de alegria. São alguns lenços distribuídos aos convidados para enxugarem suas lágrimas de emoção no casamento. Mas sabe o que é engraçado? Como Deus é lindo!!! Quem confeccionou? Sim, foi a própria, minha mãe. Ela quem fez as lágrimas de alegria para o meu casamento. Você consegue entender esse termo? Ei!!! São de alegria e não de mágoa, rancor! E isso me marcou muito. Tudo foi tão leve. Se você conhecer minha mãe, vai ver a mulher mais empolgada e animada dessa terra. Eu a amo de todo o meu coração.
PORTAL: O que você vivenciou no Rhema que incentivou esse perdão?
Não sei em que momento exato o perdão aconteceu, mas lembro da época do meu noivado, eu e minha mãe nos reaproximamos naturalmente, eu estava
cursando o Rhema. Hoje, olho em seus olhos e digo “ TE AMO”, o que não era
comum antes. Foi através da Escola, que conheci o livro “Amor, o caminho para vitória”. Aprendi no Rhema que devo expressar o meu amor enquanto tenho oportunidade. Isso foi se tornando uma prática. Sou muito grata por tudo que a Escola fez na minha vida. E esse conhecimento não pode parar. Precisamos sempre renovar nossa mente, ouvir as mesmas coisas, ou seja, a Palavra, a Bíblia, pois é segurança para nós.