Rhema em Libras: levando a Palavra da Fé através das mãos

Para Luciléia Toledo, diretora do Centro de Treinamento Bíblico Rhema, unidade em Taguatinga (DF), a Palavra de Deus deveria chegar até mesmo onde existe a barreira do som e ultrapassá-la. E foi com esse objetivo que ela deu início ao Programa de Inclusão de Surdos, que torna as aulas do Rhema acessíveis por meio da interpretação simultânea para Libras. 

A comunidade surda está entre os povos menos alcançados pelo Evangelho no Brasil. Segundo o censo realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), há mais de 9 milhões de pessoas surdas ou com limitações de comunicação no Brasil e menos de 1% desse grupo é cristão evangélico. Os motivos são diversos, mas o principal deles é a falta de pessoas que saibam se comunicar na Língua Brasileira de Sinais (Libras). 

Anderson da Silva, professor de Libras e membro da comunidade surda, afirmou que já lhe disseram que o surdo gosta de pecar. “Eu não entendi tal afirmação, mas depois compreendi que é porque o surdo não tem muito acesso à pregação da Palavra e por isso não tem tanto entendimento do que a Bíblia ensina. Precisamos mudar isso”, completou ele.

Como nasceu o Rhema em Libras?

O projeto nasceu em outubro de 2021, quando Luciléia participava de um treinamento para diretores em Campina Grande (PB). “Engraçado que é um treinamento que eu participo todos os anos desde que ingressei na diretoria. Quando foram nos ensinar sobre os descontos que oferecemos, saltou ao meu coração o desconto disponível para deficientes. Não o desconto em si, mas o questionamento: por que não um trabalho voltado ao público deficiente?” contou a diretora.

Ela retornou do treinamento na Paraíba com esse desejo de alcançar pessoas com deficiências, e ficou cada dia mais claro em seu espírito de que deveria começar pelos surdos. Luciléia então reuniu-se com sua equipe e transmitiu o que veio ao seu coração e todos pegaram junto com essa missão. “Fui à nossa igreja local atrás de pessoas que trabalhassem como intérpretes e encontrei a Adryana. Ela é uma pessoa excepcional e que atua na área por muitos anos e serve em algumas igrejas como intérprete de Libras para que os surdos tenham acesso à Palavra. Quando conversei com ela, para minha surpresa, a Adryana estava orando já havia um tempo por algo assim no Rhema”, explicou. 

Primeira matrícula

Adryana, que é graduada do Rhema, queria que de alguma forma o surdo fosse capaz de receber a Palavra que é ensinada na Escola, sabendo que o conhecimento que mudou a vida dela mudaria também a vida dos surdos. “Depois conversei com Vani, que é professora de Libras em faculdades e já ensinou para muita gente, então nós unimos propósitos. Conversei com a coordenação nacional do Rhema e assim surgiu esse projeto que veio a mim direto do coração de Deus”, conclui Luciléia.

A primeira matrícula de um surdo foi motivo de festa. A equipe inteira celebrou o ingresso de Anderson Silva, que é pastor no Ministério Mais de Deus, igreja com muitos membros surdos. O impressionante é que outras pessoas com necessidades especiais também ingressaram no Rhema, mesmo com a divulgação mais voltada para os surdos. 

Atualmente, o Rhema em Taguatinga está com 8 alunos surdos; três no segundo ano e cinco no primeiro, com espaço para muito mais. Toda a equipe tem gerado em fé esses alunos e a expectativa é que aumente a cada ano até que a comunidade surda no Distrito Federal seja totalmente alcançada pelo conhecimento da Palavra de Deus.

Rhema em Libras

Com os novos alunos, viu-se a necessidade de mais intérpretes que soubessem Libras no contexto bíblico. Por isso, no segundo semestre de 2022, a escola promoveu o “Rhema em Libras”, uma capacitação na Língua Brasileira de Sinais dentro do contexto cristão que teve como professor Anderson Silva, o primeiro aluno surdo do Rhema. Foram três meses imersos no alfabeto, nos sinais de cada personagem bíblico e em nomenclaturas.

Sobre o curso de Libras

“Eu sempre quis aprender Libras, mas nunca tive a oportunidade. Quando começou o Rhema em Libras e eu tive a chance de conhecer essa nova língua, minha percepção sobre os surdos mudou muito. Ano passado, o professor Anderson me deu um sinal, que é o nosso nome em Libras. Hoje eu posso me comunicar com eles abertamente”, afirma Alice Dias, integrante da equipe interna do Rhema.

Amanda Marques e Deivid Edson são fruto do Rhema em Libras. Alunos ouvintes, eles participaram do projeto e hoje são uma grata adição ao grupo de intérpretes. “Desde meus 17 anos, Deus falou comigo sobre aprender Libras”, aponta Amanda.

Testemunho de Amanda

“Eu fui deixando para mais tarde e no início de 2022 eu declarei que naquele ano, não sabia como, mas eu aprenderia Libras. Procurei em várias escolas diferentes, mas não abriram turmas. Foi quando anunciaram que haveria o Rhema em Libras. O projeto começou no finalzinho do mês e eu não tinha dinheiro e meu cartão não tinha limite. A diretora anunciou que a primeira aula seria aberta e eu fui. Na segunda também estava aberta e eu continuei indo até conseguir efetuar minha inscrição, confiando que Deus ia mandar a provisão. A provisão chegou um dia antes das inscrições encerrarem e eu sabia que tudo daria certo por causa dessa direção de Deus que eu tinha por dentro”.

Conforme Amanda, ela ensinava tudo o que aprendia para seu marido, Erick Reis, que devido ao trabalho não podia assistir às aulas. Não demorou para que ele fosse apresentado para o professor Anderson e ficou encantado. A disciplina deles era tamanha que criaram uma regra em casa de se comunicarem apenas por Libras até as 19h.

Atualmente o casal é um grande reforço no time de intérpretes e doam todas as suas noites nas segundas, quartas e sextas. Eles têm servido ao Senhor, servindo aos surdos no Rhema. 

“Erick não tinha opção a não ser me ouvir falar do quanto o projeto era incrível. De todos os sinais que eu havia aprendido e o quanto era legal poder me comunicar com os surdos. Ensinei o que eu sabia e depois fomos atrás de mais conhecimento, na internet, nos livros e ficamos atrás dos surdos para aprender os sinais que os intérpretes estavam fazendo, associando às palavras faladas”, completou Amanda. 

Nova turma

Em agosto, foi lançada mais uma edição do projeto Rhema em Libras. Um grupo animado de 26 pessoas se reúne aos sábados, pela manhã, às 9h, para aprender o idioma. As expectativas são de que novos intérpretes sejam formados para auxiliar nas aulas do Rhema em 2024. O projeto é aberto para a comunidade. Assim, o Rhema alcança também o objetivo de propagar a mensagem da fé para pessoas que não conhecem a Escola.