Missionária da AGMVV
Casar-se com alguém que não é do seu próprio país é casar-se também com outra cultura e costumes. Entendendo isso, requer certeza do que realmente queremos para nossa vida. Não é nada de contos de fadas, é a vida como ela é mesmo.
Estar em outro país é muito bacana e especialmente quando se fala da Inglaterra, lindo de viver. Mas, como tudo na vida, ninguém vive apenas de beleza. Há tantas coisas lindas em um casamento, e em especial em um casamento transcultural, mas como também existem seus desafios como todo casamento.
É o amor que traz a certeza de dias cheios de graça, sabedoria e paciência. Se alguém é capaz de relevar, ter os pés bem no chão, então, tudo que provavelmente sugere como possíveis desafios, com certeza se transformará em algo tão simples e tão normal na sua vida que não verá como problemas.
Em um casamento, sabemos que casamos também com a família e amigos do nosso cônjuge, e como pessoas sábias, e cheios dos frutos do Espírito em nossas vidas, ambas as partes estarão dispostas a viver essa nova aventura.
Vou falar um pouco sobre cultura e costumes, mais para isso, é cabível falar um pouco do que realmente cada uma dessas tão maravilhosas palavras, onde tantas pessoas se atropelam, talvez por ignorância, orgulho ou até mesmo falta de conhecimento. Vemos tanta gente sem querer gastar tempo nos mínimos detalhes. Pois muitas vezes são esses, mínimos detalhes que estragam um bom e doce relacionamento seja ele qual for. O livro de Cantares 2.15 nos diz que; “são as pequenas raposas que danificam toda vinha…” (parafraseando).
CULTURA- a definição genérica formulada por Edward B. Tylor segundo a qual cultura é “todo aquele complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade”. Podemos ver ainda sobre – Assimilação cultural ou Assimilação social é o processo pelo qual pessoas ou grupo de pessoas adquirem características culturais de outros grupos sociais. O termo é algumas vezes utilizado em reação a imigração de vários grupos étnicos que se estabeleceram em uma região.
Um COSTUME é um modo habitual de agir que se estabelece pela repetição dos mesmos atos ou por tradição. Trata-se, portanto, de um hábito. Exemplos: “Os costumes deste povo são estranhas para nós: as lojas fecham à tarde e voltam a abrir de madrugada”, “O meu avô tem o costume de tomar um chá antes de se deitar”, “Ir ao pub (tipo de bar bem sofisticado) depois do trabalho faz parte dos costumes britânicos que se estão a perder”. O costume é uma prática social enraizada entre a maior parte dos membros de uma comunidade. É possível distinguir os bons costumes (aprovados pela sociedade) e os maus costumes (considerados negativos). Em certos casos, as leis procuram modificar os comportamentos considerados maus costumes.
Regra geral, as leis concordam/são compatíveis com os costumes da sociedade. Os costumes, efetivamente, podem constituir uma fonte de direito, seja de aplicação prévia ou duas simultânea à lei. Para a sociologia, os costumes são componentes da cultura que se transmite de geração em geração e que estão, portanto relacionadas com a adaptação do indivíduo ao grupo social.
Em base disso do que colocamos acima vou tentar descrever um pouco da minha experiência. Por ser uma pessoa realista, e saber respeitar o espaço alheio, como procuro também ter o cuidado de não ser exagerada, isso tem me ajudado a relevar e respeitar as pessoas em sua vida individual. Então, essas qualidades me ajudaram a entender e se adaptar facilmente a uma cultura tão diferente da nossa.
Entrei em um casamento onde não conhecia bem nem mesmo meu esposo e tão pouco falava sua língua. Só essas duas coisas são o suficiente para qualquer um de nós ver que há muito para aprender e tentar deixar o resto de forma como “a vida vai levando…” Mas, para uma pessoa sociável como eu nunca será assim.
Para mim, foi quase que um tormento não se comunicar bem com as pessoas (entrar muda e sair calada, risos), como falamos no Brasil. Haja vista, desde pequena gostar de sociabilizar, sempre fui fácil de fazer amizades de qualquer nível social, minha família sempre ficava admirada em como eu tinha a facilidade para fazer amizades. Fossem pessoas ricas, pobres, intelectuais ou não, sempre olhei para as pessoas como indivíduo.
A vida social na Inglaterra é bem definida, pobre, classe média e rico. E isso afeta bem seu ciclo de amizades. Percebi que no geral não se dá tanto valor a aparência física como no Brasil, não estou dizendo que as pessoas aqui não se arrumam, apenas não é algo tão importante quanto é para nós brasileiros. Mas, vejo que a geração mais nova, pessoas de trinta anos para baixo, seja qual for a sua classe social, são mais ligadas com a aparência. Isso ocorre por haver diferente geração, e o fato de ter mais pessoas de outros países também, tem ajudado a mudar muito a vida cotidiana do britânico.
Uma coisa que sempre percebi é que as pessoas não se preocupam muito com o que outras falam delas, falam o que querem, como também se veste de forma bem peculiar se assim desejarem – e ninguém fica olhando de forma esquisita. Existe um respeito muito grande ao indivíduo. E decisão matrimonial é única e exclusiva do casal.
Existe algo muito interessante aqui na Inglaterra, eu li na internet que pessoas de outros países também acham estranho, que é a forma de lavar pratos. Mas, pesquisando descobri que em outros países se faz dessa mesma forma. O Reino Unido foi muito afetado por ambas as guerras (primeira e segunda guerras mundiais) então, para economizar tinha-se uma bacia na pia de prato com água bem quente para lavar os pratos e também não se enxagua, apenas deixa escorrer bem a água e se necessário seca, mas se não, apenas os guarda.
Até tentei fazer assim para respeitar minha carinhosa sogra que me recebeu muito bem. Mas, não obtive sucesso em fazê-lo, gastava o dobro de água. Daí, a mãe de Michael com muita paciência me disse que eu não precisaria lavar os pratos como ela, apenas que eu fizesse da forma que sabia, que estava tudo bem, mas pediu que não ignorasse a forma de como ela fazia. E, então ficamos bem. (Cada um na sua!). Mas, em outras casas onde tive o prazer de estar tive mesmo que tentar o meu melhor e fazer da forma que se é feito.
Houve uma situação onde uma senhora viu que eu colocava água demais na bacia e gentilmente se desculpou e disse que eu a ajudasse em outros afazeres, menos no lavar dos pratos, rimos muito e tudo ficou bem!
Para muita pessoas com as quais conversei, essa maneira de lavar pratos é algo bem estranho, cheguei a ouvir alguém dizer que achava nojento e preguiçoso. Daí achei melhor desconversar, para não ter que ir na defensiva, pois estava se tratando do meu povo também!
O sistema de saúde é bem diferente do Brasil. Primeiro informamos que somos novos na área e então é marcada uma consulta com uma enfermeira, para então obterem todas as nossas informações médicas seguidos de alguns exames médicos simples. Depois disso recebemos uma carta em nossa casa nos informando o nome do nosso médico. Se necessário for, pedimos uma consulta com este médico que é um clínico geral. Apenas somos encaminhados ao especialista caso nosso médico entender necessário que devemos ir.
Poderia descrever algumas coisas, não digo inúmeras, porque para mim nunca existiram inúmeras coisas que foram difíceis de me adaptar, apenas uma coisinha ou outra acolá que me faziam até ri em ver como somos diferentes, e em como Deus me fez tão adaptável e flexível. Mas, para finalizar tem exatos dez anos que nos casamos e como decidi não cozinhar comidas brasileiras, meu esposo foi para a cozinha por quase dois meses para me mostrar como tudo deveria ser feito e graças a Deus cozinhar aqui é muito, muito mais simples do que no Brasil.
Então Michael me ensinou que eu teria que marcar bem a hora onde cada coisa começava, para então, terminar tudo igual e não precisaríamos esquentar algo, já que tudo terminara igual, o bom é que ainda hoje, de vez em quando esqueço de marcar a hora de algo e meu esposo me pergunta, e não sei responder, ai ele olha pra mim e diz, “menina e agora?”, simplesmente digo que vai dar tudo certo e oro para que tudo der certo mesmo (risos).
Acho que no final de tudo se alguém tem o coração para algum lugar deve mesmo ser uma pessoa que sabe relevar, ser flexível e ter o cuidado muito grande para não se juntar a outra pessoa e falar mal do local de onde Deus te colocou, afinal se formos olhar bem, temos diferenças em nossas próprias casas.
Amor é chave para viver bem e feliz!