Na verdade, o mal é uma implicação do livre arbítrio. É bom ser livre, mas a liberdade torna o mal uma possibilidade. Quando se estuda Metafísica, uma das principais disciplinas da Filosofia, aprende-se dois conceitos desenvolvidos por Aristóteles, chamados de: ato e potência.
A potência é aquilo que um ser ou uma coisa tem a capacidade de se tornar. Por exemplo, a semente é uma potência da árvore, em outras palavras, a semente tem o potencial de se tornar uma árvore. Enquanto o ato é quando a potência se realiza, na mesma analogia, quando a semente se torna uma árvore. Aristóteles chamava isso de atualização, o processo em que a potência se torna um ato.
Nessa perspectiva, pode-se dizer que a partir do momento em que Deus criou seres livres, o mal passou a existir como uma potência (possibilidade), dado que seres livres podem escolher um curso oposto ao que foi proposto por Deus – o bem. A liberdade é uma coisa boa, mas a origem do mal está no uso indevido da liberdade.
Deus criou criaturas perfeitas (Lúcifer e Adão), e deu a elas um bom poder chamado livre arbítrio, mas elas usaram a sua liberdade para se rebelar contra Ele, tornando a potência em ato. Deus é o responsável pela liberdade, mas os agentes livres são responsáveis pelos seus atos de liberdade. A origem do mal está no uso indevido da liberdade.
Alguns, porém, questionam: “Se Deus está no controle de tudo, então, por que seríamos culpados de alguma coisa?”.
No entanto, a soberania de Deus e a responsabilidade humana não são mutuamente exclusivas. A soberania não interfere no nosso livre arbítrio. De fato, Deus soberanamente determinou que a humanidade, criada à Sua imagem (Gênesis 1.26), teria o poder de escolha.
A Bíblia mostra, do início ao fim, que os seres humanos possuem liberdade de escolha, e essa liberdade implica em responsabilidade. Não é racional sustentar que alguém seja responsável pelas suas escolhas se realmente não houver livre-arbítrio.
Todo ser humano é um agente moral e livre. Um agente moral livre é um ente que age com relação a uma lei moral, obedecendo ou desobedecendo, sem ser obrigado a agir desse modo e com pleno poder de escolher o curso oposto daquele que determinou seguir, ou seja, é uma pessoa que tem a liberdade para tomar decisões moralmente, significantes. Assim, o ser humano é moralmente responsável pelas suas ações.
Se negarmos a responsabilidade das ações humanas não há sentido em haver um julgamento após a morte, da mesma forma as existências de céu e inferno seriam incoerentes.
Se não há responsabilidade, não há necessidade de prestação de contas. Mas, a Bíblia diz claramente que Deus “retribuirá a cada um conforme o seu procedimento” (Romanos 2.6). Ele julga segundo as obras de cada um: ”…para que, uma vez confirmado o valor da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (I Pedro 1.7).Ademais, se acreditarmos na Soberania de Deus de uma forma fatalista ou determinista, além de Deus ser o responsável pelas escolhas humanas, Ele seria, também, o responsável pelas escolhas de Lúcifer. Sendo assim, Deus seria o autor do mal. Isso implicaria em uma contradição lógica, pois um Deus absolutamente bom não poderia ser o autor do mal, Ele estaria agindo contra Si próprio. Deus não pode ser bom e mau ao mesmo tempo. A Bíblia nos exorta a evitar ideias contraditórias: “E tu, ó Timóteo, guarda o que te foi confiado, evitando os falatórios inúteis e profanos e as contradições do saber, como falsamente lhe chamam” (I Timóteo 6.20).