
Os missionários Jusciê e Joanice Arcanjo estão no Japão desde 2010. Após 15 anos de dedicação, muitos são os frutos do legado missionário espalhados por várias províncias japonesas. “Viver pela fé é divertido!” — essa é a declaração que define o estilo de vida da família Arcanjo. O legado dos pais tem sido transmitido aos filhos e, hoje, Josué é ministro ordenado do Ministério Verbo da Vida. Ele esteve à frente da igreja, com o apoio do irmão mais novo, Calebe, graduado da Escola Bíblica Verbo da Vida, enquanto seus pais estiveram temporariamente no Brasil.
Durante a passagem por Campina Grande (PB), o casal missionário concedeu uma entrevista ao Portal Verbo da Vida. Confira a seguir:
Como tem sido esse tempo no Brasil, deixando Josué na liderança em Okazaki, com auxílio de Calebe?
Joanice: Já vínhamos treinando nossos filhos durante as viagens que fazíamos para outros estados dentro do Japão. Hoje, Josué, com 22 anos, é ministro ordenado, e Calebe, com 17, é graduado da Escola Bíblica. Ambos já com certa maturidade. Jusciê conversou com Josué para ele assumir a igreja enquanto estivéssemos no Brasil.
Jusciê: Nas viagens anteriores, sempre vínhamos os quatros juntos. Na última vez, viemos separados, e essa experiência não foi muito legal. Por isso, decidimos que, desta vez, viríamos os quatro novamente. No entanto, devido às atividades de Josué e Calebe, não foi possível que os meninos nos acompanhassem agora.
Como pais e missionários, vocês veem seus filhos continuarem esse legado de fé?
Jusciê: Vejo como fruto da graça divina operando no coração deles, mediante a fé. O corredor por onde a graça flui é a fé. Desde o berço, eles já têm sido nossos cooperadores. Sempre trabalhamos com eles mostrando que não fazemos o que fazemos porque somos missionários ou pastores ou por conta de um cargo, mas sim porque amamos o Senhor, somos crentes e queremos a salvação das pessoas. Eles foram caminhando conosco nessa ‘pegada’ — como diz a Palavra: “ensina o seu filho no caminho”. Eu estou no caminho, e trouxe-os para perto, permitindo que vissem o meu coração.
A Bíblia também ensina que colhemos na vida o fruto de nossas palavras, sejam elas para o bem ou para o mal. Assim, o que está sendo colhido hoje não é algo que surgiu agora; foi plantado ao longo de todos os momentos da missão, do relacionamento como casal e a vida em família. Sempre tivemos o cuidado de não deixar, sob pressão, palavras negativas saírem de nossos lábios em relação a ser cristão, viver pela fé e andar em obediência.
Há uma frase que costumo dizer: ‘Viver pela fé é divertido’. Em todos os momentos, decidimos rir no campo, independentemente das pressões que enfrentávamos — fosse terremoto, tsunami, radiação, entre outros desafios. Sempre protegemos nossos filhos. Lembro-me de uma conversa com Josué, quando ele tinha 19 anos. Desde os 18, começamos a ter conversas de homem para homem. Em uma dessas ocasiões, chamei-o para perto para compartilhar algumas situações que havíamos passado. Surpreso, ele me perguntou se era a primeira vez que aquilo acontecia. Respondi que não. Ele então questionou por que nunca tinha sabido de nada, e eu expliquei que sempre o protegemos dessas preocupações.
Josué, então, disse: ‘Nossa, muito obrigado! Agora, tenho um olhar mais adulto e maduro para enfrentar certas situações, seja no pastoreio, seja no socorro a pessoas feridas e machucadas pelas obras do diabo, mas que hoje estão sendo restauradas pelo poder do amor e da graça de Deus, fluindo pela fé’.

Joanice: Sempre fizemos questão de proteger nossos filhos, inclusive das nossas próprias questões, sem expô-los a situações que eles ainda não tinham maturidade para compreender. No Japão, os apartamentos são pequenos. Quando morávamos no quinto andar, descíamos até o carro para que eu e Jusciê pudéssemos conversar, sem que eles ouvissem coisas desnecessárias.
Jusciê: Passamos por situações difíceis que eles só souberam depois, como testemunhos. Uma dessas foi quando tivemos nossas senhas bancárias bloqueadas e ficamos sem receber dinheiro do Brasil — que era nossa única fonte de sustento. Na época, não havia smartphones; a comunicação dependia do computador, via Skype, aguardando a resposta do nosso procurador no Brasil. Os dias foram passando, e o dinheiro acabou. Em vez de nos desesperarmos, resolvemos adorar a Deus em casa. Senti vontade de pegar um livro na nossa biblioteca. Ao abri-lo, encontrei uma nota de ichiman-en — a maior nota do Japão, no valor de 10.000 ienes, equivalente na época a cerca de 300 reais. Foi o suficiente para passarmos mais duas semanas, até que a situação fosse resolvida. São milagres que vivemos.
Joanice: Sempre ensinamos nossos filhos a crerem de verdade. Uma vez, Calebe abriu a geladeira e comentou que ela estava vazia. Eu disse a ele: ‘Chame à existência aquilo que você quer ver nela’. Quando nos mudamos para Aichi, ao visitarmos uma loja de móveis, Calebe perguntou se poderia ter uma escrivaninha na nova casa. Respondi: ‘Claro que pode! Fale com a escrivaninha e declare que ela vai para sua casa’. Então, ele impôs as mãos sobre a escrivaninha e disse: ‘Você vai para minha casa’. Em seguida, olhou para uma cadeira e perguntou se podia fazer o mesmo. Eu o encorajei: ‘Claro, fale com a cadeira também!’. Quando nos mudamos, nossa vizinha japonesa nos viu organizando algumas coisas no jardim e chamou Jusciê.
Jusciê: Entendi apenas duas palavras: tsukue (escrivaninha) e purezento (presente). Percebi que ela queria nos dar uma escrivaninha de presente. Chamei Calebe para nos ajudar com a tradução e entendemos que ela estava se mudando para outro local e, por isso, oferecia alguns móveis que não caberiam mais no novo lar.
Joanice: Ela nos convidou para entrar em sua casa e, quando mostrou a escrivaninha, era exatamente a mesma que Calebe havia visto e declarado na loja. Ela ainda perguntou se queríamos levar a cadeira também! Temos ensinado nossos filhos a chamar à existência aquilo que precisam, em vez de murmurar pela falta.
Jusciê: A fé de Calebe não apenas trouxe a escrivaninha, mas também um armário de cozinha que precisávamos, cortinas, sofá, utensílios de cozinha e até o quarto completo do Josué. Tudo veio junto! Na hora da pressão, devemos rir, porque Deus já foi ao nosso futuro e voltou para nos garantir que somos um sucesso! Deus ri dos seus inimigos, então nós também podemos rir. Graças a Deus, hoje nossos filhos têm essa estrutura sólida, crescendo firmes na fé.
Como está o trabalho missionário no Japão?
Jusciê: Hoje, temos essa base missionária estabelecida no Japão para dar suporte ao avivamento, através do Ministério Verbo da Vida. Nosso primeiro trabalho foi a implantação do Centro de Treinamento Bíblico Rhema, que foi o nosso foco durante seis anos. Quando fundamos a primeira Igreja Verbo da Vida em Okazaki e a Escola Bíblica Verbo da Vida. Em seguida, fundamos a primeira Igreja Verbo da Vida em Okazaki, juntamente com a Escola Bíblica Verbo da Vida. Nosso filho, Josué, é fruto da primeira turma graduada. Além dele, também se formou Thiago Matsui, presidente fundador do UP, que, com Josué, tem revolucionado o Japão, levando jovens a conhecerem Jesus.

Essa estrutura tem sido fundamental para o avivamento no país. Uma estatística chama a atenção: cerca de 70% das igrejas nativas têm pastores com idade média entre 70 e 80 anos, e a maioria das congregações é composta por membros de 50 a 60 anos. Sem novos líderes sendo formados, o futuro dessas igrejas fica comprometido. Nosso trabalho tem sido formar novos cristãos — de diversas denominações — que estão frutificando em suas próprias igrejas. Temos a visão clara de treinar o Corpo de Cristo e avançar.
Hoje, contamos com três igrejas e três escolas bíblicas (em Okazaki, Yamanashi e Tóquio). Nossas igrejas são bases estratégicas para receber mais missionários, pois a seara é grande, e poucos são os trabalhadores. Precisamos de mais missionários no Japão! Temos a capacidade de recebê-los, treiná-los e canalizar esse potencial para abrir novas igrejas e escolas em outras regiões. Atualmente, temos duas escolas bíblicas em português e uma em japonês — e isso é apenas o começo. Em breve, teremos novos pontos de pregação, expandindo esse avivamento por todo o Japão. Já começou, e não vai parar; só vai crescer!
O que vocês esperam ver nos próximos anos com a expansão da Palavra da Fé?
Joanice: A Escola Bíblica Verbo da Vida no Japão já está bem consolidada, especialmente agora, com o prédio próprio em Okazaki. Antes, alugávamos salas, montávamos e desmontávamos tudo a cada encontro. Hoje, temos um endereço fixo, e a Escola já é conhecida. Nosso foco é ensinar fé, treinando o crente para praticar a Palavra de Deus. Sabemos que essa visão não apenas vai se expandir no Japão, mas também alcançará outras nações.
Jusciê: Em breve, iremos alcançar também os chamados Tigres Asiáticos — como Vietnã, Singapura, Coreia do Sul e Tailândia.
Joanice: Esses países precisam urgentemente dessa Palavra. Hoje, o Japão é o segundo país menos alcançado pelo Evangelho no mundo. Existem mais cristãos em certos países islâmicos do que no Japão. Na Índia, por exemplo, há mais cristãos do que lá. Existe uma urgência para o despertamento de missionários que queiram atender a esse chamado. Felizmente, hoje nossas três igrejas já são bases aptas para receber e apoiar esses missionários.

Jusciê: Contamos com estrutura para auxiliar os missionários, seja para aperfeiçoarem ou iniciarem seu aprendizado no idioma japonês. Eu mesmo comecei com um nível muito básico e, ainda assim, veja quantos frutos Deus nos permitiu colher! A língua é importante, mas não é vital; é algo que se desenvolve ao longo da jornada. O importante é avançar — e não parar diante dos desafios.
Joanice: Hoje, nossos filhos, que dominam o idioma, têm conquistado o respeito tanto dos pastores japoneses quanto dos descendentes. Os nativos reconhecem: ‘Uau, eles conseguiram! Chegaram aqui pequenos, enfrentaram tudo e não desistiram. Por isso, merecem nosso respeito’. Nossos filhos já têm essa abertura no coração dos japoneses, e vão avançar ainda mais.
Jusciê: Por todo o Japão — e também pelo mundo — essas crianças têm inspirado muitas pessoas, mostrando que, mesmo enfrentando dificuldades, não permitiram que as experiências negativas marcassem suas vidas. Pelo contrário: através do escudo da fé, venceram cada situação. Essa vitória pela fé gera uma identidade poderosa. Quem chega hoje ao Japão e vê esses testemunhos pode dizer: ‘Nós também podemos enfrentar e vencer qualquer desafio aqui’. Nossa experiência têm sido uma grande base de suporte para aqueles que chegam. E isso, sem dúvida, é parte da preparação para o grande avivamento que já está em curso no Japão.
1 Comentário
Uau!!! Que casal maravilhoso!