Verbo FM

Josinete Cunha (Campina Grande-PB)

Meu nome é Josinete Nascimento Cunha, tenho 46 anos, nasci em um sítio na cidade de Puxinanã, na Paraíba. Acho que eu tinha uns seis anos quando nos mudamos de lá para São Paulo (SP). Éramos eu, meus três irmãos, minha mãe e meu pai. Meu pai trabalhava em uma empresa lá e minha mãe, que estava nos criando sozinha, resolveu nos levar para junto dele. A viagem foi de ônibus e me lembro que foi uma aventura para nós. 

Moramos em São Paulo por dois anos, depois retornamos para a Paraíba e o restante da minha infância foi em Campina Grande. Meus avós vieram do sítio, para morar conosco e auxiliar meus pais na criação, porém, quando ficamos adolescentes, o convívio ficou mais difícil. Então, os meus avós foram morar em outra casa, mas ainda próximos a nós. 

Fui criada passando muito tempo em casa. Não tinha muito conhecimento do mundo. Minha mãe sempre diz que meu pai era um babão meu. Ele e meus irmãos eram super protetores comigo. Senti falta de uma irmã, uma parceira com quem eu pudesse compartilhar algumas coisas. Meus irmãos, por serem homens, foram muito amigos entre si, mas comigo não era a mesma afinidade. Todos casamos cedo e a família se desenvolveu assim. Uma família comum, mas sem um histórico de família que gosta de se reunir, de comemorar as datas marcantes. Mas, quando eu casei foi que fortaleci esse laço dentro de um lar. 

Meu irmão caçula faleceu há pouco tempo, o que foi triste, pois ele se foi há um ano e meio depois do meu pai. Perder meu pai depois de ter lutado tanto contra a doença, não foi fácil, mas entendi, com a dor da sua morte, que ele está no melhor lugar. Prometi que não iria mais chorar. Atualmente, a minha mãe mora próximo a mim e tenho dado assistência a ela, por ser a única mulher entre os irmãos. 

Minha mãe, eu considero uma mulher forte, por tudo o que ela passou, por ter criado os seus filhos e, mesmo perdendo o meu pai e o filho caçula, recentemente, ainda continua de pé. Ela é uma guerreira, a vejo assim. Eu não tive aquela mãe muito amiga, com quem eu pudesse confidenciar todas as coisas, mas tive uma mãe presente. Aquela que me criou, educou e esteve comigo nos momentos em que mais precisei. 

Conheci Noberto quando eu tinha 19 anos. Ele tinha saído de um casamento e já tinha uma filha de cinco anos, Thayanna. Eu também tinha sido noiva, mas, prestes a casar o noivado acabou, pois eu sabia que havia algo melhor pra mim. Fui apresentada a Noberto no meu trabalho. Eu era secretária numa empresa e ele trabalhava no Jornal que era do mesmo dono. Tínhamos um conhecido em comum que nos apresentou um ao outro. Nesse tempo, coincidentemente, nós dois morávamos no bairro do Cruzeiro e uma vez pegamos o mesmo ônibus, que inclusive era da empresa Cruzeiro. Foi naquele dia que começou nossa história de amor. Tanto que ele, até hoje, brinca que a gente se conheceu num cruzeiro (risos).

Quando ainda namorávamos, Noberto se converteu. Ele estava numa mesa de bar e foi evangelizado. Visitou a igreja umas duas vezes e depois me convidou para ir também. Então eu fui. Era numa igreja Congregacional, um culto à noite e a igreja cheia. Quando surgiu o apelo, não medi esforços e fui à frente. Um tempo depois, nós casamos e, desde então, temos servido a um Senhor que tem suprido todas as nossas necessidades.

Eu tinha 20 anos e apenas dois meses de casada quando descobri que estava grávida do meu primeiro filho, Júnior. Ele foi o bebê sonhado. Quando estávamos namorando, sonhávamos com um bebê como ele. Olhávamos para as revistas na época, víamos aqueles bebês gordinhos e desejávamos ter um. Júnior veio para realizar nosso desejo. 

Planejamos ter mais um filho, foi então que chegou Suanny. Em seguida, veio Sarah. Dessa vez, não havíamos nos preparado e estávamos financeiramente mais apertados. Mas, como sempre, Deus supriu todas as nossas necessidades. Quando Sarah estava com 4 anos, Jennifer nasceu, veio para completar nossa família. Sempre digo que Deus tem presentes divinos para nós, e Jennifer foi o nosso melhor presente.

Thayanna para mim também é uma filha. Ela cresceu vendo os meninos nascerem e foi um exemplo para eles. Os meninos têm muito dela.

Minha família é tudo para mim. Eu construí uma família e não foi fácil. O fato de eu casar com um homem que já tinha sido casado e tinha uma filha, não foi aceito facilmente pelos meus familiares. Por mais que eu não gostasse do meu noivo anterior, para eles, era melhor eu ter casado com um homem que eu não amava e construir uma família do zero, do que eu casar com uma pessoa que eu amava, mas que já tinha uma história. 

Foi difícil, pois tive que encarar isso. Eu não sabia que ia dar certo, mas entrei no casamento para fazer dar certo. As pessoas diziam que se ele havia se separado de alguém antes, iria se separar de mim também. Mas eu sabia que estava começando um relacionamento para construir uma família. Quando meus filhos eram ainda pequenos, houve um tempo em que eu não cuidei de mim, me dediquei a eles e ao marido. Não tinha muito tempo para me envolver em outras atividades, até mesmo da igreja. Me lembro que Célia Regina – que também tinha quatro filhos – me disse: “Josinete, não se preocupe, vai existir tempo para tudo.

Esse é um tempo de você cuidar dos seus filhos”. Me dediquei a eles o máximo que pude, tranquei o meu curso na faculdade de Estatística quando estava grávida de Júnior. Eu comecei a entender que o tempo de cuidar totalmente dos meninos já tinha passado, quando eles ainda estavam no início da adolescência. Comecei a viajar com mais tranquilidade, por exemplo. Sabia que quando eu voltasse estaria tudo certo. Construí uma família e ela hoje é tudo para mim. Amo meus filhos! Eles estão todos casando e as pessoas dizem que vou sofrer da “Síndrome do ninho vazio”, mas eu digo: “Não! Daqui a pouco vai tá cheio de novo, com os netos!”

Para as mães que são jovens e estão prestes a casar, eu digo que é possível. O mundo não vai se acabar. Você aprende com cada etapa. A vida lhe ensina a ser mãe, ser esposa, ser mulher… Minha filha está se preparando para casar e tem coisas que ela ainda não conhece. Eu não vou poder passar para ela na totalidade o que eu aprendi, pois só na experiência ela vai saber como cuidar do marido e dos futuros filhos. O marido e os filhos dela serão diferentes dos meus. A época em que ela vai criá-los será diferente da minha. Sempre digo a eles que, como avós, num futuro breve, quem vai educar os filhos são eles. Todo mundo fala que quando você é avó, você muda, fica mais babona. Fico pensando como é que eu vou ser. Estou esperando chegar, quando chegar eu vou descobrir como é. 

Do meu marido, eu tenho muito o que falar. Aprendi tanta coisa com ele… Ele me tirou da casa dos meus pais e disse: “Venha para cá que eu vou lhe ensinar como é a vida aqui fora”. De certa forma, eu vivia apenas no meu mundo, um mundo de “contos de fadas”. Eu ainda tinha bonecas na época que eu casei com ele. Noberto me ensinou a ser mulher, a ser mãe e a ser muito do que sou hoje. A gente passou por muitas coisas. Tivemos muitas experiências juntos, mas ele nunca deixou de me proteger do mundo, das pessoas, de tudo o que ele achasse que poderia me magoar, ou que não fizesse bem para mim. Eu o amo! Norberto significa muito para mim, como pessoa, como pai, esposo e como mentor da casa.

Ele é o cabeça e a gente aprendeu a entender que não é porque ele chega com a razão, mas porque ele chega com a experiência. Ele diz: “Não vamos fazer assim, porque não vai dar certo!” ou “Vamos fazer desse jeito, porque dessa forma vamos conseguir chegar mais longe!”. A gente aprendeu a respeitá-lo, não por medo, mas por respeito mesmo. Ele ensinou os meninos e os educou para respeitá-lo, não por medo, mas por tudo o que ele é. Se você conversar com qualquer um dos nossos filhos, eles irão dizer que têm uma grande admiração por Norberto! Ele é muito temente a Deus e passa isso para a gente todos os dias. Ele não faz nada que não seja, primeiro, apresentado ao Senhor em oração.

Recentemente, passamos por uma adversidade, quando Noberto enfrentou uma enfermidade. No tempo em que fiquei com ele no hospital, eu não permiti me questionar em nada. Por mais que eu estivesse vivendo a situação, e visse o relatório dos médicos falando o que não queríamos ouvir. Eu ficava triste, chorava no banheiro escondida de Noberto, mas não me deixei ser abalada. Foi Deus! Em nenhum momento desacreditei.

Nesse período, nós vimos pessoas falecerem ao nosso lado. Vimos pessoas que não tiveram um final feliz como nós. Mas passamos por experiências boas também. Fomos usados para restaurar o casamento de um paciente. Noberto também evangelizava dentro do hospital e ganhou pessoas para o Senhor, inclusive algumas faleceram pouco tempo depois de receberem a salvação. Tínhamos o Senhor para nos fortalecer todos os dias, mas convivemos com pessoas que não tinham essa fé que nós guardávamos. Depois desse período, nós entendemos ainda mais o valor que temos um para o outro. Acho que isso acontece com todo mundo. A gente só entende o valor de algo que a gente tem, depois que perde ou corre o risco de perder. 

 

Sempre investimos no nosso casamento. Sempre que podemos, viajamos para relaxar. Tenho muitas vontades, sonhos pessoais, mas sou feliz com o que eu sou. Sou realizada e não sou, por exemplo, muito vaidosa, daquelas mulheres que têm que tá se renovando constantemente se não ficará infeliz. 

Também sou muito cuidadosa com o meu ministério. Sou muito tímida, por isso trabalho mais nos bastidores. Não sou mulher de púlpito e nem tenho essa ambição. Gosto de fazer as coisas acontecerem e fico realizada por ver pessoas beneficiadas com o que eu fiz. Ver resultados positivos para mim é suficiente. Hoje, eu não posso negar que estou numa posição de frente, sendo esposa do pastor presidente de uma igreja. Não é pesado para mim fazer isso, mas acho que está tudo certo em não estar sempre ministrando. Eu amo o povo, gosto de estar com as mulheres e cuidar delas, por exemplo. 

Aprendi muito com Jannayna Albuquerque, esposa do pastor João Roberto. Foi minha mentora e ainda é. Me ensinou muito sobre o apascentar, acolher, ajudar e, hoje, que estou à frente de uma congregação com meu esposo, essa responsabilidade é ainda maior. 

Temos um sonho que será realizado só mais para frente. Na velhice, quando tivermos cumprido tudo e tivermos que parar para descansar, eu e Noberto nos imaginamos em um lugar quieto, numa granja, recebendo nossos filhos e netos. Mas sei que Deus ainda tem muito mais para nossas vidas antes que isso aconteça. Estamos em uma nova fase e que chegou de surpresa para nós. Havia um povo nos esperando para que a gente pudesse tocar o barco com eles e somos responsáveis por isso. No ano passado, ainda servindo como pastor auxiliar na igreja Sede, Noberto já tinha uma nota acerca de que Deus estava nos direcionando para coisas novas, mas ainda não estava claro como seria.

Quando chegou a oportunidade de estarmos na Zona Leste de Campina Grande, liderando a igreja, isso requereu de nós um esforço, por ser algo novo. Mas não tivemos que ter qualquer esforço para amar aquele povo. Parece que eles já existiam em nosso coração e a gente não sabia. Foi fácil para começar a cuidar deles e fácil para eles abraçarem a nossa causa. Noberto tem uma visão de pai, de avançar, crescer e levar os seus filhos junto com ele. Estamos trabalhando nisso junto com a igreja, trabalhando a visão de crescimento no coração de cada um deles.

Josinete, Josi para os íntimos, sou uma pessoa muito simples. Eu gosto de estar perto das pessoas com quem eu me sinto bem. Não sou fácil de fazer amizade, mas também não sou difícil de se conviver. Sou uma boa mãe e os meus filhos estão traçando um caminho, no qual levarão um pouco de mim. Posso ter errado, algumas vezes, mas os acertos prevalecem. Como esposa, talvez a gente também não consiga ser perfeita, mas dou o máximo que eu posso. Sou tranquila e não fico perdendo tempo “moendo” com coisas pequenas. Sou transparente e bem resolvida.

Não existe nenhuma pessoa do mundo da qual eu guarde algum ressentimento. Se existir alguém que fez algo contra mim, eu nem me lembro.  Não trago o meu passado para o meu presente. Para mim, se passou, acabou. Tenho facilidade de transbordar o amor de Deus que está dentro de mim para as pessoas. Facilidade de acolher, de estar junto. Não preciso falar muito, tenho até vontade, mas às vezes as pessoas não querem ouvir, só querem que eu esteja por perto. Isso não é de mim, é de Deus. É um galardão que Ele me deu para operar nisso.

Eu gosto de cuidar das pessoas. Amo fazer isso, é um desejo meu que supera qualquer outro: o meu desejo de amar as pessoas. Abrimos um projeto na igreja agora, chamado “Ativa Idade”, que é para cuidarmos dos idosos da igreja e eu estou apaixonada por eles. Quando as pessoas chegam a uma certa idade, elas perdem um pouco da essência da atenção das outras. Eu não quero que as pessoas estejam na igreja somente para ouvir a Palavra e não tenham a atenção que necessitam. Não custa nada chegar perto, conversar, dá um abraço. 

 

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