Todo nascido de novo é automaticamente um discípulo?

De cara, afirmamos que a resposta a essa pergunta é sim e não, ou seja, todos os nascidos de novo nasceram para ser discípulos, mas nem todos vivenciam o discipulado.

O tema do discipulado é muito recorrente na igreja moderna, mas muitas vezes um tanto distorcido e isso acontece por não entendermos a natureza da relação de discípulo e rabino, na Judeia dos tempos bíblicos, e então muitos o confundem com o moderno processo de mentoria.

Na época bíblica, o discipulado era a terceira fase da educação de um jovem judeu. E tinha acesso a essa fase apenas jovens que se destacavam nas duas anteriores, sendo selecionados por rabinos (mestres da lei) para serem discípulos.

“Partindo Jesus dali, viu um homem chamado Mateus sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu” (Mateus 9.9).

Chamados ao discipulado

Um jovem não se candidatava para ser discípulo, era chamado. Os jovens que não eram convidados por nenhum rabino, voltavam para suas casas e aprendiam a profissão dos pais. Ao entender isso, duas observações são importantes:

1 – A primeira é: será que Jesus não foi um jovem brilhante para ser convidado por nenhum rabino? Com certeza Ele foi o mais brilhante jovem que já existiu, no entanto, devemos nos lembrar que Jesus não teve Sua educação formal na Judeia, mas no Egito e na região distante da Galileia.

2 – A segunda é ainda mais interessante! É o fato de que todos os discípulos de Jesus tinham profissões regulares, o que nos diz que nenhum deles foi escolhido por rabino algum. Mas Jesus os chamou e lhes disse que os faria pescadores de homens. Entretanto, posteriormente, o mesmo Jesus apareceu ao discípulo de Gamaliel, Saulo de Tarso, e o chamou para outro discipulado, mostrando que nosso supremo Mestre não faz acepção de pessoas.

Outro ponto importante é que diferentemente de um mentor, que busca as potencialidades do seu mentorado, o rabino buscava um sucessor e o objetivo do rabino era que o discípulo se parecesse cada vez mais com ele, falasse cada vez mais parecido com ele, entendesse e se especializasse na sua doutrina. Jesus mesmo disse que o discípulo não está acima de seu rabino, mas basta ao discípulo ser como o seu rabino.

Mateus, o coletor de impostos

De posse dessas informações históricas e bíblicas, olhemos agora para o convite ao discipulado de Mateus, pois ele é bem emblemático e nos ajudará a responder a pergunta. O texto nos mostra que Jesus foi quem chegou a Mateus e o chamou, isso era característico da ação dos rabinos. Rabinos chamavam os jovens para o seguirem e era comum na Judeia, do primeiro século, ver rabinos andando com discípulos atrás deles. Esse texto também nos mostra o chamado da graça de Deus, pois Mateus não fez nada para merecer isso. Lembre-se de que, por ser coletor de impostos, certamente ele não mereceu, na sua juventude, o convite de nenhum rabino. Aliás, o fato de ser publicano nos informa que Mateus era provavelmente um corrupto vendido ao império romano.

Ainda assim, gratuitamente, Jesus o convida de forma graciosa para que ele o siga. Oferece, gratuitamente, uma nova vida, a qual Mateus jamais poderia acessar por meios próprios. E precisamos ter em mente que esse não era mais um rabino em Israel, mas o Deus que se fez carne, o Messias prometido.

Por outro lado, vemos que Mateus deixou tudo e passou a viver para Jesus Cristo. Ele abandonou a coletoria, abandonou a velha vida, passou a confiar, depender e viver para Jesus Cristo, seu Mestre.

Viver para Ele

Acredito que essa seja a grande questão entre o Novo Nascimento e o discipulado. Nascer de novo é de graça, já o discipulado custa tudo. Não estou insinuando, de forma alguma, que todos devem deixar seu emprego ao se converterem, pois vivemos em outra estrutura social. Contudo, ao nascermos de novo, gratuitamente, fomos transformados, justificados e abençoados totalmente de graça, mas também fomos comprados por um bom preço e não somos mais donos de nós mesmos. Passamos a viver para Ele, para conhecê-lO e agradá-lO e para propagar Sua doutrina e ensino.

Nascemos de novo de graça, para vivermos inteiramente para o nosso Senhor Jesus Cristo e, no fim das contas, nós é que ganhamos tudo com isso.

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