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Paulo Pimenta
Graduado da Escola de Ministros Rhema

Frequentemente eu vejo pregadores exaltando a primeira pregação da Igreja, no dia de Pentecostes, realizada pelo apóstolo Pedro. É sempre ressaltado que Pedro era um homem inculto, simples pescador, e que – pela influência do Espírito Santo – pregou de forma tão inspirada e ousada que não menos que três mil pessoas se converteram após seu discurso. Glória a Deus!

O problema é que, muitas vezes, o que segue após a exposição dessa Palavra é um tipo de “puxão de orelha” na Igreja atual. Sempre há uma pergunta como “e nos dias de hoje, quantas pessoas se convertem por nossas pregações?” ou “Pedro realizou o que realizou porque, apesar de inculto, estava cheio do Espírito Santo; por isso conseguiu tantas almas!”.

Pedro fez uma pregação envolvente, explicando que Jesus era o Messias esperado e que eles o crucificaram! Agora, a saída era se arrepender e entregar sua vida para o Senhor! E essa foi a reação do povo:

E, ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração, e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, homens irmãos? – Atos 2:37

Veja que o povo recebeu de bom grado a Palavra e procuraram o caminho da salvação, virando-se para Pedro e aos apóstolos e pedindo conselho! Todos queremos sempre esse mesmo resultado em nossas pregações, certo?

No entanto, é preciso analisar todo o quadro antes de pularmos para conclusões que só nos trarão peso, ao invés de promover crescimento. Nesse texto, eu gostaria de contrapor e analisar outra famosa pregação da Igreja primitiva: a pregação de Estêvão.

Estêvão foi um dos diáconos escolhidos pelos apóstolos para ajudar no serviço eclesiástico devido ao crescimento causado justamente pelas almas ganhas através das pregações de Pedro. A Bíblia conta mais de oito mil pessoas! Estêvão era provavelmente um judeu helenista (de fala grega) convertido. A Bíblia não fala, mas é possível que ele tenha se convertido dentre esses oito mil, certo? Afinal de contas, eram poucos os que estavam aguardando juntos a promessa do Conselheiro.

Independente disso, Estêvão aparece como figura no capítulo 6 do livro de Atos, levantado para ajudar os apóstolos. Logo no capítulo 7 ele faz uma pregação bastante parecida com a de Pedro, onde ele recorre às escrituras para mostrar que Jesus é o Messias que eles esperavam. Acontece que o resultado final não é o mesmo das duas pregações de Pedro:

E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seus corações, e rangiam os dentes contra ele.– e Atos 7:54

O verbo mudou, não é? “Compungiram-se” tornou-se “enfureciam-se”, e o resultado foi o primeiro martírio da história conhecida da Igreja.

Será que o erro foi de Estêvão? Será que ele não falou com graça o bastante? Será que deveria ter se calado para não escandalizar e guardar sua vida? Será que usou a abordagem errada?

Será que não estava cheio do Espírito Santo?

A resposta para essas perguntas vem do resto do texto:

Mas ele, estando cheio do Espírito Santo, fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus, e Jesus, que estava à direita de Deus;E disse: Eis que vejo os céus abertos, e o Filho do homem, que está em pé à mão direita de Deus.Mas eles gritaram com grande voz, taparam os seus ouvidos, e arremeteram unânimes contra ele.E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas capas aos pés de um jovem chamado Saulo. – Atos 7:55-58

Estêvão fez a mesma coisa, teve um resultado completamente diferente aos olhos naturais, mas isso não quer dizer que ele fez algo errado ou não foi guiado, correto? Claro, sabemos disso porque conhecemos toda a história. Mas será que não julgamos errado quando uma situação similar acontece hoje em dia? Infelizmente, vivemos em uma sociedade que se mede através dos resultados obtidos. Precisamos entender que os resultados – apesar de importantes – não podem ser medidos segundo a sabedoria humana! Vocês notaram que, embora tenha sido apedrejado por todos os presentes – aparece na Bíblia pela primeira vez o nome de Saulo? E que a próxima aparição do mesmo é em um encontro com Jesus? Será que a pregação de Estêvão não reverberou na cabeça e no coração de Paulo, de forma que ele pôde abrir seus ouvidos para um posterior encontro com o Senhor?

Pedro ganhou oito mil em duas pregações. Estêvão pode ter apenas lançado uma semente pra ganhar somente uma pessoa. Acontece que essa pessoa foi um grande missionário, apóstolo e propagador do Evangelho, responsável pela conversão de milhares de pessoas naquela época e pelos escritos da maioria do Novo Testamento, fundamentando a doutrina cristã, pela qual bilhões de pessoas foram salvas através dos séculos!

Não podemos avaliar se nossas pregações estão frutificando apenas pelo número de pessoas que se convertem em nossos cultos. Não podemos julgar as coisas dessa forma. Simplesmente não conhecemos todos os planos de Deus!

O Senhor é o agricultor, o arquiteto, o que planeja tudo, o que concede os dons e o que chama para o ministério. É Ele que nos unge para cada propósito, segundo cada situação. Ele que dá o crescimento. Nosso papel é somente obedecer a sua voz, independente dos resultados que nossos olhos possam ver.

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