“O qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Efésios 1.14).
A palavra grega para penhor significa “um sinal, no presente, daquilo que está por vir”. O Espírito é o penhor da nossa herança! Um dos significados de herança nos lança à história do povo de Israel saindo do Egito rumo a Canaã, a Terra Prometida. O que Paulo tem em mente ao dizer que o Espírito é o penhor da nossa herança é que hoje somos o verdadeiro povo do Êxodo, rumo à nossa herança, o novo céu e nova terra.
De fato, a obra do Espírito em nós hoje, por mais gloriosa que seja, é somente uma amostra do que será o novo mundo de Deus, onde Ele mesmo habitará com o Seu povo (Apocalipse 21.3). O Espírito nos é dado para dar início à obra de tornar o futuro de Deus real no presente. Um elemento chave da vida cristã é aprender a viver de acordo com o padrão do mundo futuro de Deus, mesmo continuando a viver no presente.
Hoje, somos templos do Deus vivo e o pleno resgate de tudo que desfigurou a criação original já começou em nós. Céu e terra se encontram em nós. Na prática, isso quer dizer que somos convocados a nos preparar, no presente, para a vida que iremos desfrutar no novo mundo de Deus.
O que Paulo está querendo dizer quando afirma que o futuro começou a chegar no presente? Ele está dizendo que aqueles que seguem Jesus recebem o Espírito como uma amostra de como será o novo mundo de Deus.
Atos 2 nos conta a respeito do Dia de Pentecostes. Pentecostes é observado até hoje no judaísmo como a festa da entrega da Lei. Primeiro vem a Páscoa, o dia em que os israelitas foram libertos da escravidão do Egito, atravessaram o deserto e cinquenta dias depois chegaram ao monte Sinai. Moisés subiu ao monte e quando desceu trouxe com ele as tábuas da Lei, tábuas da aliança, o presente de Deus para o povo.
Devemos ter isso em mente quando lemos Atos 2. Na Páscoa anterior, Jesus havia morrido e ressuscitado, colocando fim à escravidão, abrindo o caminho para o perdão e um novo começo para o mundo inteiro. Cinquenta dias depois, Jesus foi levado ao céu, porém, como Moisés, desceu para ratificar a Nova Aliança e deixar um novo modelo de vida para o seu povo, gravando não em pedras, mas no coração das pessoas, através do qual os seguidores de Jesus demonstram que são realmente o seu povo.
Esse é o ensino que está por trás do Pentecostes. O vento impetuoso, as línguas como que de fogo, e a proclamação poderosa de Jesus a multidões ganham um significado mais profundo. As pessoas em quem o Espírito vem habitar são aquelas que vivem no ponto de encontro entre o céu e a terra. Por meio delas, as realidades de Deus são vistas e experimentadas.
Somos uma nova criação (II Coríntios 5.17), habitação do Espírito, nossa identidade como ser humano, nossa personalidade, nosso corpo está sendo restaurado de modo que, em vez de fazer parte da velha criação com todo o seu sofrimento, injustiça e, por fim, morte, podemos começar agora a fazer parte da nova criação e contribuir para que ela comece a acontecer aqui e agora. Cristianismo consiste em descobrir como manter e cultivar esse estilo de vida.
Jesus está conosco hoje, na pessoa do Espírito, mas, ao mesmo tempo, oculto por aquele véu invisível que mantém céu e terra separados e que nós transpassamos em alguns momentos: na oração, na adoração, na leitura da Palavra, quando o véu parece, especialmente, fino. Um dia, porém, esse véu será tirado, céu e terra serão um só, Jesus estará presente pessoalmente; toda criação será renovada. O novo mundo de Deus será um lugar repleto de novas perspectivas e possibilidades.
Olhe para esse tempo que se aproxima e passe a viver, no presente, à luz dessa promessa. Somos chamados para ser modelo dessa nova criação, hoje. Somos chamados para ser pessoas capazes de falar, cantar, pintar e viver essa Palavra. Deus nos oferece, pelo Seu Espírito, o dom de nos tornarmos aquilo que sabemos, no íntimo, que fomos feitos para ser: filhos que vivem em ambas as dimensões da ordem criada.