ENTREVISTA: Giovana Lima contou detalhes do seu 1º álbum

A cantora revelou o significado profundo de suas canções e da influência divina das "flores de misericórdia" em sua identidade artística.
Giovana Lima

Giovana Lima é graduada pela Escola de Ministros Rhema e integra a equipe de música da Igreja Sede. Nesta entrevista, ela compartilha sua jornada musical com raízes cristãs e um profundo significado espiritual.

Seu primeiro álbum, Flores de misericórdia, explora temas como justiça, liberdade e o poder transformador da misericórdia de Deus. As músicas, intituladas por nomes de flores, representam a regeneração que a misericórdia divina pode realizar em nossas vidas. 

A gravação dos clipes foi um processo repleto de simbolismo, destacando a presença das flores como uma metáfora da beleza que surge do quebrantamento. Giovana se vê vocacionada para essa abordagem artística em sua caminhada cristã, acreditando que a arte é uma mensagem que toca profundamente a alma das pessoas. Ela destaca a influência de sua criação no Rio de Janeiro (RJ), uma cidade rica em ritmos e arte; bem como, a importância de equilibrar sua expressão artística com os princípios fundamentais de sua fé. Veja abaixo uma entrevista, rica em detalhes, acerca do álbum que está cativando o coração de centenas de pessoas.

Canto desde que eu me entendo por gente, obviamente não profissionalmente, mas desde criança eu me apresentava para minha família. Cresci em uma igreja que não aprovava ouvir música secular, mas eu sempre fui muito musical, então eu passava na frente de um bar ou um shopping, mas aquelas músicas ficavam na minha cabeça. Só que eu sentia que não podia cantá-las, porque era “pecado”, então comecei a criar novas letras para aquelas músicas na mesma melodia, como em uma paródia (risos). Então, eu ficava com aquelas músicas que eram cristãs sem perder a melodia que eu ouvi na rua.

Foi basicamente assim que começou o meu processo de composição. Minha irmã sabe de todas as músicas, é super vergonhoso (risos). É algo da infância, eu não queria fazer algo que acusasse minha consciência. Então, eu inventei, na época, uma desculpa criativa e acabou se tornando algo maior. A partir disso, sempre escrevi. Foi muito mais sobre a composição do que sobre o cantar.

Nas outras igrejas que fiz parte, demorei muito para entrar no Departamento de Música. Participava do teatro, departamentos de acolhimento, etc. Foi só quando entrei no Verbo da Vida, no Rio de Janeiro, que uma amiga minha me motivou a entrar para o louvor, sabendo que eu cantava. Então, fiz o teste para o louvor por volta dos meus 15 anos e fiquei desde então. Foi quando comecei a desenvolver a minha voz, o meu canto, e a ser mais intencional em relação ao cantar. Sempre soube que cantava, mas ao mesmo tempo nunca quis a voz para isso. Sempre fui muito mais da ideia de escrever, dessa parte mais artística.

Sempre vão existir memórias e sempre é algo muito pessoal. Eu até tomo muito cuidado, porque penso que a arte é um lugar em que a gente consegue envolver muito a nossa alma, envolver muito quem nós somos. Quando pensamos em música, existem pessoas que se confundem sobre isso na adoração. A adoração não é um lugar para a gente envolver tanto assim a nossa alma. Porém, existe um espaço para isso e Deus ama esse tipo de expressão que vem do nosso desejo por Ele, do nosso coração para Ele. Minhas músicas têm muitos processos de memória. É totalmente relacionado às minhas experiências e sentimentos, mas também algo que eu senti a partir do que eu vi e testemunhei da misericórdia de Deus na vida de outras pessoas. Então, acaba se misturando um pouco.

Quando penso em Casa cheia, que foi a primeira música do álbum, ela é uma canção que fala muito sobre mim, ao mesmo tempo em que fala sobre as histórias que eu vi e a misericórdia de Deus em ação, que eu presenciei com os meus próprios olhos. Ela fala de um lugar do ponto de vista da minha solidão, em como essa solidão muda a percepção das coisas e parece que estamos sozinhos, quando, na verdade, é uma mentira. Nunca estivemos sozinhos e só percebemos isso quando olhamos para o Senhor. Então aquela nuvem que a tristeza e solidão nos envolveu se esvai e conseguimos ver as coisas como elas realmente são.

Caso estejamos em uma crise muito profunda de tristeza, vemos as coisas a partir daquela tristeza e não a partir da realidade. Então, todos os outros fatos ficam completamente distorcidos e bagunçados. Acredito muito que, quando olhamos para o Senhor, essa bagunça vai embora, essa solidão se dissipa, e percebemos que não estamos sozinhos. Percebemos que as coisas pelas quais nos cobramos e a culpa que colocamos sobre nós não foram feitas por Deus, não foram colocadas por Ele sobre os nossos ombros.

Falo em um dos versos desta canção: “As pedras que me afligiam vinham de minhas próprias mãos”. Então vejo que muitas pessoas se sentiam julgadas e culpadas dentro deste contexto cristão. Mas para mim, nunca foi sobre as pessoas; sempre foi sobre eu mesma me culpando, me martirizando por coisas que fazia, quando na verdade o Senhor nunca tinha feito isso comigo. Foi nesse lugar, encontrando a paternidade de Deus, que consegui ser eu mesma, abrir mão dessas pedras, e viver uma vida sem culpa, com leveza. Eu também vejo como o Senhor faz isso na vida de todas as pessoas que O encontram.

Tenho muito contato com a orfandade dentro da ONG em que trabalho, a Life Impact, que atua com crianças em situação de vulnerabilidade. Há momentos em que vemos as coisas e nos questionamos como algo tão ruim pode acontecer com essas pessoas e Deus “permite”. Mas quando vemos pessoas sendo transformadas pela misericórdia de Deus, tendo os seus sonhos transformados, a sua história reconstruída, como se nunca tivesse sido quebrada, percebemos que Deus nunca as quis naquele lugar. Ele está disposto a consertar tudo a ponto de você não sentir falta de nada.

Não é como se alguém não tivesse um pai, agora tem Deus, mas ainda sente falta daquilo. Mas é como se você nunca tivesse sentido falta de um pai. O Senhor está disposto a preencher isso em nosso coração, não negando as experiências da nossa vida que nos tornam quem somos, mas transformando elas em algo muito mais bonito através da graça e da misericórdia d’Ele.

A música “corda bamba” e “casa cheia” têm um caráter muito mais pessoal. “Bondade e misericórdia”, que é a faixa principal, difere consideravelmente. Para mim, é como se fosse uma canção que não me pertencesse. É uma canção do Senhor, do coração de Deus. Ela surgiu em um contexto diferente, em um momento de oração que chamamos de “No Jardim”, que ocorre no Centro de Cura do Verbo Sede a cada 15 dias. Durante uma dessas reuniões, surgiu esse verso: “Bondade e misericórdia fluem do Teu coração”. Cantamos isso, foi muito impactante e deixou uma forte marca em nossos corações. Naquele momento, senti, profundamente, que eu deveria estudar o tema da “bondade, misericórdia e justiça”. Comecei a ler todos os versículos e livros relacionados a esses temas. Tornou-se o tema da minha vida.

Eu não imaginava que se transformaria em uma música, mas sabia que o Senhor havia chamado minha atenção para esse tema de uma forma única e que eu compreendia muito pouco sobre algo tão amplamente discutido na Bíblia. Um dia, Cinthya Miranda, que fez o feat. comigo nesta música, me enviou uma mensagem cantando o refrão de “bondade e misericórdia”, me incentivando a concluir essa canção. Sentei-me e, em uma manhã, a canção fluiu naturalmente em sua totalidade. O primeiro verso da canção é composto por todas as referências bíblicas que eu estava absorvendo e, quando chegou a hora, isso brotou de mim, já na forma de uma canção, como se o Senhor já estivesse me preparando para esse momento.

O Senhor nos inspirou com essa canção, sobre esse tema, e me entregou esse tema como se fosse meu, para guardar. Estudei, sem qualquer intenção de transformá-lo em uma canção, mas, quando Ele assim o quis, eu estava pronta para dar voz a essa inspiração por meio dos pequenos passos que Ele já havia me dado. Essa canção é muito distinta, profundamente enraizada na Bíblia e no coração de Deus. Diferencia-se do que estou acostumada a fazer. Ela é pessoal no sentido de que se dirige a todos nós, pois todos necessitamos da bondade e misericórdia de Deus, mas, ao mesmo tempo, é totalmente representativa do coração de Deus.

“Corda bamba” foi uma canção que compus durante a pandemia. Era um período de incerteza e intensidade. Me mudei no final da pandemia, em dezembro de 2020, saindo do Rio e indo para Campina Grande (PB). Durante esse tempo, sentia uma sensação de mudança constante, estava prestes a concluir minha graduação da universidade, em jornalismo, e havia muitas incertezas. Falei ali: “Conheci a Tua voz, ela me atrai pessoalmente, pois não confio em mim ou no que posso fazer, já que nunca pude me salvar.” Surgia, então, a pergunta: “Se eu cair, você me segurará?”. Porque eu estava pronta para dar esse salto, equilibrando-me na corda bamba entre quem desejo ser; o que não consigo ser; minhas expectativas para minha vida; as expectativas de Deus para mim e da minha família, amigos, pastores e líderes.

São muitas variáveis que equilibramos ao tomar decisões cruciais em nossa vida. Parece que nada se encaixa até que, de repente, tudo se encaixa e você não compreende como as coisas acontecem. Portanto, a canção trata desse tema, de estar pronto para se lançar no desconhecido, no que Deus tem para mim. Não sei de tudo, mas sei que posso confiar n’Ele. Ela é uma confissão a Deus, muito pessoal, expressando tudo o que senti durante a pandemia.

O álbum é intitulado por Flores de misericórdia. São as flores que a misericórdia de Deus fez brotar em mim. Acredito profundamente no poder regenerativo da misericórdia de Deus. Um exemplo que considero incrível é o da cerâmica japonesa, que é quebrada e reconstruída, preenchendo as rachaduras com ouro, tornando-se mais valiosa e preciosa do que era antes de ser quebrada. Acredito que o Senhor faz algo semelhante conosco, pegando nossos fragmentos e preenchendo-os com Sua graça e misericórdia, transformando-nos em algo ainda mais belo do que éramos antes. Assim, a graça do Senhor transforma o deserto de nossas vidas em um jardim florescente, produzindo coisas belas que não poderíamos ter criado com nossas próprias mãos.

Inicialmente, eu considerava nomear as músicas com cores de misericórdia, mas, o álbum ficou pronto perto da primavera e foi lançado nesta estação do ano. Considerei também que nasci na primavera, em 23 de setembro de 1998, às 2h, coincidindo com a chegada da primavera daquele ano. Essa estação tem um significado especial para mim. Portanto, o produtor do álbum sugeriu que nomeássemos cada música com o nome de uma flor. Eu já havia pesquisado várias flores, pois planejava usar elementos visuais relacionados a elas no álbum. Tudo se encaixou perfeitamente. Durante o processo de escolher os nomes das músicas, pesquisei amplamente o significado de cada flor, incluindo leituras de obras de Shakespeare, poesias em inglês e português, entre outras fontes.

Giovana Lima
Momento da entrevista com Giovana em um café localizado em Campina Grande (PB).

Descobri que a tulipa é considerada a flor do perdão, devido a uma tradição judaica. Encontrei uma menção a ela na Bíblia, no livro de Isaías 35, que fala sobre a alegria dos redimidos. Já em Margarida (Casa cheia), falamos da verdade no olhar d’Ele sem culpa. Essa flor, em inglês, é Daisy, que quando separamos e traduzimos para o português, significa “olhos do dia”. É uma flor que se vira. Ela abre durante o dia e se fecha à noite. Como a música tem toda a vertente da solidão e olhar para o Senhor e se abrir, encaixou e fez o todo sentido. O Senhor me mostrou isso mesmo.

A camélia (Corda bamba) é uma música de liberdade, pois significa desvincular-se de tudo o que você planejou para si e viver o que Deus tem para você, sendo a maior liberdade que podemos encontrar. Nossa verdadeira liberdade está escondida n’Ele. A camélia é uma flor usada por pessoas que eram contra a escravidão e desejavam a liberdade dos escravos. Elas se identificavam plantando camélias em seu jardim, usavam-nas no bolso do terno e como acessórios. Ela é a “flor da liberdade”, por isso foi escolhida para a Corda bamba.

Queria dar um sentido artístico a essas canções. O Senhor fala através de tudo isso. Muitas vezes, as pessoas não serão “tocadas” pelos versículos, mas serão alcançadas através das flores.

A ideia para o clipe surgiu antes do título do álbum. Pude contar com muitos parceiros e amigos. Nos três clipes, veremos a presença de flores bastante semelhantes. Em Casa cheia, as flores decoram uma mesa, onde como com pessoas que amo. Em bondade e misericórdia, essas flores se tornam a capa do álbum. São flores despedaçadas, que parecem não ser úteis para nada, mas que se tornam algo lindo, da mesma forma que o Senhor faz conosco. Em Corda bamba, o cenário está “no meio do nada”, representando o lugar onde busquei as flores.


PORTAL: Como foi o processo de produção das músicas?

Desde abril, sabia que teria que gravar as canções. Algumas delas estavam guardadas há anos, mas no início deste ano, o Senhor me instruiu a lançá-las. Entrei em contato com um produtor musical, mas não me senti bem com os projetos que estavam sendo desenvolvidos com ele. Ao ouvir um álbum do Coletivo Candiero, chamado Colcha de Retalhos. Me encantei com os ritmos e as composições; é lindo, e no final tem uma faixa que é um podcast. Ao ouvi-lo, descobri que o produtor era da cidade de João Pessoa (PB). Então, entrei em contato com o produtor musical, Daniel Alves. Sabia que ele entenderia a minha vibe mais artística e fiquei extremamente empolgada. Ele transformou as músicas em algo muito mais bonito do que eu imaginei e só deu certo porque estou morando em Campina Grande!

No Rio de Janeiro, temos muitos ritmos que fazem parte do nosso dia a dia. Vivi no Rio, mas dentro do contexto evangélico, onde às vezes existem algumas limitações e preconceitos em relação à arte. No Verbo da Vida, em Pedra de Guaratiba (RJ), onde congreguei, o pastor, Edimilson Nunes, é uma pessoa super artística e tem um álbum de Bossa Nova. Ele é um compositor, o que me ajudou muito a ver em meu pastor alguém que também tinha essa sensibilidade. Mais do que viver no Rio, acredito que ele foi uma das influências mais importantes que recebi. Ele foi um grande exemplo de equilíbrio.

Sim, sinto-me vocacionada para isso. Acredito que a arte é um caminho por si só. Às vezes, pensamos em fazer uma “arte cristã”, mas a arte, por si só, é uma mensagem. Existe preconceito no ambiente cristão em achar que a alma é um lugar a não ser explorado, mas para uma pessoa que nasce com um coração artístico, a alma é um lugar inevitável de explorar. A questão é que precisamos aprender o momento certo de fazer cada coisa. A alma não é o lugar das nossas certezas e de onde devemos nos basear, mas é um canal.

As pessoas se emocionam quando a arte as toca, porque a arte tem o poder de vir do íntimo da nossa alma para tocar o âmago da alma do outro. Deus fez isso, Ele nos criou assim. Em Salmos 4 diz que o Senhor separou o fiel para si, e da mesma forma, creio que o Senhor separou o artista para si, porque Ele adora admirar a beleza do que podemos fazer com o dom que Ele nos deu. A beleza, por si só, é uma mensagem que aponta para Jesus. Não podemos esquecer os princípios fundamentais da nossa fé, mas a arte não pode ser anulada por isso.

2 Comentários

  • O senhor tem levantando ministros de.musica.tremendo que tem chegado em todos.os lugares cremos que.esse ministério o senhor levantou para quebrar todo o espírito de religiosidade que muitos.cristao foram influenciados. Mais Glória a Deus pela palavra da fé cantamos.a palavra oramos a palavra e e tremendo

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  • Louvamos ao senhor pela inspiração que o senhor concedeu a irmã , cremos que muitas vidas serão tocadas pela unção e pelo dom que irmã carrega . E que o espírito de sabedoria vem de forma sobrenatural sobre a nossa amada irmã da fé.

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